Entrevista: Paulo Roberto de Oliveira

Entrevista: Paulo Roberto de Oliveira

"Teremos, até junho, capacidade para atender até 900 mil habitantes em Ribeirão Preto"

Conheça a trajetória pessoal e profissional de Paulo Roberto
 


Com planos de expansão consolidados, Paulo Roberto de Oliveira já prepara estações para suportar cerca de 1 milhão de habitantes em Ribeirão Preto. Empresário destacou os principais desafios e orgulhos da carreira

 

Quais são suas maiores conquistas profissionais?

Foi deixar uma empresa que trabalhei por 16 anos, a Mendes Júnior, e assumir o desafio da Ambient. Ao ver esse projeto concretizado, em plena operação, acompanhar todo o crescimento e desenvolvimento da empresa e da cidade, pude medir toda a minha capacidade profissional e me capacitar ainda mais. Isso me fez conquistar essa segurança e confiança de assumir novos desafios, como foi ir para o setor industrial, trabalhar em cidades históricas, projetos pioneiros. Tudo isso me traz uma grande satisfação e me dá essa energia para continuar à frente do grupo e sempre inovar. Além, é claro, de poder contribuir para o meu país com a minha participação na criação do Marco Legal do Saneamento Básico.

 

O novo marco legal do saneamento resolve o problema do saneamento básico dos municípios brasileiros, principalmente nos de pequeno porte?

e modo geral, as empresas privadas têm se mostrado uma alternativa para os municípios resolverem seus problemas de saneamento com eficiência. Dos municípios que concederam os serviços de saneamento para o setor privado, 64% deles têm menos de 50 mil habitantes. O grupo GS Inima Brasil, por exemplo, é responsável pelo saneamento básico de Luiz Antônio (com 12 mil habitantes), Paraibuna (17 mil) e Santa Rita do Passa Quatro (24 mil), no Estado de São Paulo. Durante oito anos, fiz parte de um Conselho que existia no antigo Ministério da Cidades que discutia toda a política pública de saneamento no país. E foi ali que nasceu a lei 11.445, o Marco do Saneamento. Eu, por oito anos, representando uma das maiores empresas de saneamento do país, tive a oportunidade de trabalhar e contribuir para melhorar o saneamento, para que houvesse segurança jurídica para o empreendedor privado poder investir e, de alguma forma, contribuir para o país.

 


Primeira estação de tratamento de esgoto de Ribeirão Preto, ETE Caiçara responde por 15% do tratamento do município

 

E quais são as suas maiores conquistas pessoais?

Fui reconhecido pela Câmara Municipal dos Vereadores com o título de cidadão ribeirãopretano pelo trabalho à frente da Ambient. Hoje sou mineiro e ribeirãopretano. E, sem sombra de dúvida, todo esse trabalho e reconhecimento me possibilitou ter mais tranquilidade no meu lado pessoal. Eu tenho três filhos, dois nasceram aqui em Ribeirão Preto. Hoje todos estão criados e me sinto realizado com a família que tenho, com minha esposa e meus três filhos. As amizades e o acolhimento que tive aqui reforçaram meus laços com essa cidade.

 

Antes da Ambient começar a operar em Ribeirão Preto, para onde ia nosso esgoto? Como era antes e como está agora?

uando nós chegamos aqui em Ribeirão Preto falava-se 2% do esgoto tratado, porém, era uma lagoa existente no distrito de Bonfim Paulista. Essa lagoa foi construída pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), que tratava Bonfim Paulista. Ribeirão Preto zero. Todo o esgoto era jogado em todos os seus afluentes, no Ribeirão Preto, Córrego Tanquinho, Catetos, Campos, Laureano, Retiro Saudoso e no Rio Pardo. Até o ano de 1995, Ribeirão Preto era a cidade que mais poluía o Rio Pardo. De lá para cá, construímos as duas estações, mas já fizemos ampliações. Fizemos uma ampliação na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Caiçara e na ETE Ribeirão Preto e já estamos na segunda ampliação. Hoje, temos 100% do esgoto que é coletado na área urbana de Ribeirão Preto tratado. Claro que levamos em conta as ocupações irregulares e favelas, aonde não existe sequer a rede de água da Prefeitura, então não é possível coletar. Essa população representa cerca de 1% de Ribeirão Preto.

 

E hoje, como está a qualidade da água do Rio Pardo?

Nós monitoramos a qualidade da água do Rio Pardo, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) também monitora. O nível de oxigênio da água do Rio Pardo é muito melhor do que antes do tratamento. Na hora da emissão final, que a água é jogada no rio, após o tratamento da Ambient, ela sai com aproximadamente 98% de oxigenação. Temos uma redução da carga poluidora em torno de 96%.

 

Como estão os planos de ampliação futuros para Ribeirão Preto?

Como a empresa pretende dar conta do crescimento imobiliário e demográfico? Desde o início, a Ambient tem acompanhado essa trajetória de crescimento de Ribeirão Preto. Por exemplo, em 2015 foi feito um novo aditamento no contrato, para fazer 97km a mais de rede de interceptores. Tivemos um crescimento imobiliário na Zona Sul da cidade, a rede coletora e os interceptores não estavam dimensionados com capacidade para poder atender a demanda, estavam todos sobrecarregados. Fizemos um investimento da ordem de R$ 137 milhões e, aí sim, atingimos 100% do tratamento novamente. Por isso, estamos atualmente na segunda ampliação da ETE Ribeirão Preto. Inauguramos em 2015 a quinta linha de tratamento e até junho de 2024 iremos inaugurar a sexta, assim, seguramente, a ETE Ribeirão Preto terá capacidade para atender até 900 mil habitantes.

 


 ETE Ribeirão Preto, responsável por 85% do tratamento de esgoto da cidade

 

Quais foram seus projetos mais desafiadores?

Eu poderia citar dois: Ouro Preto e Campos do Jordão. Ouro Preto, em Minas Gerais, é um município histórico, considerado patrimônio da humanidade pela Unesco. Quando fomos participar da licitação, os acionistas me questionaram. Alertaram que era um desafio muito grande, visto que para realizar obras dessa magnitude, em uma cidade história, seria muito complexo e delicado. Respondi que dois fatores me atraiam. O primeiro é que eu sou mineiro e gostaria de trabalhar na minha terra, até então não possuíamos concessões em Minas Gerais. E o segundo fator é que eu entendo que, seja mais ou menos difícil, a engenharia, com um bom planejamento e projeto adequado, é capaz de superar os obstáculos. Vencemos a licitação e estamos cumprindo o contrato. 

 

E qual foi o maior desafio enfrentado nesses projetos?

O primeiro desafio foi levar água para Ouro Preto e seus 11 distritos que eram, em boa parte, dependentes de caminhões pipa. Atualmente, a sede e os principais distritos são 100% atendidos e não possuem mais dependência dos caminhões pipa, salvo em emergências. A segunda etapa consiste no tratamento de esgoto, estamos com um projeto para a construção de tratamento de esgoto já em fase de licenciamento ambiental.  Outro desafio relevante em Ouro Preto não era da engenharia, mas cultural. Nenhuma residência do município possuía hidrômetro. A Prefeitura cobrava apenas uma taxa comum da população, não era possível sequer mensurar o consumo de água da cidade. Estamos hidrometrando todas as casas, porque, segundo o edital, só seria possível cobrar a tarifa de água se ao menos 90% dos imóveis possuíssem o hidrômetro. Foi uma campanha de conscientização e mudança dessa cultura por lá.  

 

E a maior conquista, qual pode destacar?

Em 2014, nós assinamos um contrato com a Sabesp modelo locação de ativos, ou seja, com a empresa Araucária Saneamento, controlada pela GS Inima Brasil, nós elaboramos o projeto, a construção e a pré-operação por dois anos de todo o sistema de tratamento de esgoto de Campos do Jordão. Pelas características da cidade, de preservação ambiental, precisamos implantar uma estação de tratamento de nível terciário, na qual a água já sai como água de reuso. Esse é um projeto pioneiro no Brasil, foi a primeira estação de tratamento de esgoto totalmente coberta e com ultrafiltração. 
 


Estação de tratamento de Campos de Jordão foi a primeira coberta do Brasil


Fotos: Luan Porto/Acervo pessoal

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