As caras das manifestações em Ribeirão Preto

As caras das manifestações em Ribeirão Preto

Sempre que tem protesto em Ribeirão, você pode dar de cara com algumas das mesmas personagens, que marcam presença, sem que importe o tema

Após o aumento das tarifas do transporte público em Ribeirão Preto, no mês de julho, um grupo de pessoas, a maioria jovens e estudantes, foram até o Palácio do Rio Branco para pedir esclarecimento à prefeita Dárcy Vera (PSD). Lá foram informados que, por estar em reunião, Dárcy não poderia recebê-los, porém, o superintendente da Transerp, Wiliam Latuf, e o secretário da Casa Civil, Layr Luchesi Jr., já estavam a caminho para ouvir as reivindicações.

Enquanto os jovens aguardavam sentados no hall da prefeitura, duas mulheres chamaram a atenção. Uma por estar vestida como se fosse a presidente Dilma, e outra, também bem mais velha que a maioria do pessoal que estava ali, naquele instante, por de repente começarem a cantar músicas da MPB, o que de certo modo animou os jovens, que acharam graça naquilo.

Uma das mulheres era a professora Lucy Rocha, vista com frequência na sessão da Câmara Municipal, sempre com uma cartolina cobrando os vereadores. Ela conta que participa das manifestações por sentir vergonha dos políticos, principalmente naqueles em que já votou.

“Eu me sinto culpada de ter votado nesses políticos que estão aí, porque não imaginei que fosse tanta corrupção. Política não é profissão. Política é um dom que você tem para ser guerreiro para o bem do seu país. Não é profissão”, afirma Lucy, que recentemente anda meio sumida das manifestações, por simplesmente não estar sendo convidada para elas.

“Não estão me chamando para protesto nenhum, desde o último que aconteceu lá Avenida Nove de Julho, do impeachment da Dilma. Deve ser porque eu falo a verdade”, declara a veterana das manifestações, que afirma ter posto até uma prima “no lugar”, por se envolver com corrupção.

A outra mulher que sempre chama a atenção nos protestos, mas mais pela vestimenta, do que pela indignação ou bandeira, foi Graça Novais, que também pode ser vista sempre na sessão da Câmara. Graça afirma que desde sempre participou de manifestações, mas agora intensificou a atuação por acreditar que agora “a situação passou do limite”.

“Me visto de Dilma, porque é figura política mais criticada. Reconheço que no governo PT houve vários avanços, mas agora mexeu nos direitos dos trabalhadores. A partir do momento que vi o Lula apertando a mão do Maluf, eu falei ‘espera aí. Não foi essa imagem que o partido sempre passou’”, afirma Graça, que lembra que foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, em Ribeirão Preto.

O sociólogo Wlaumir Souza destaca que elas representam os manifestantes que estão insatisfeitos com o sistema político brasileiro, e que não confiam mais nas propostas dos políticos.

“Protestar passou a ser sinônimo de buscar mudanças mais amplas, as quais o sistema não está aberto para implementar”, conclui o sociólogo.

Sangue novo

Enquanto as duas mulheres mais velhas se tornam figurinhas carimbadas nos protestos, outras pessoas começam a ser destacar nos movimentos, sempre marcando presença, como a estudante Gabrielly Martins, que atua na escola onde estuda, por considerar que o ensino é bem defasado.

“Eu gosto sempre de propor discussões dentro e fora da sala, acho saudável e importante para que todos passem a questionar as coisas sem aceitar tudo que lhe é imposto”, destaca Gabrielly.

A estudante do terceiro ano do ensino médio conta que já participa de reuniões do grupo de um movimento social, onde considera ter avançado nas discussões propostas pelos integrantes.

“Espero ter mais contato com os estudantes e poder ajudar a organizar a indignação delas, só assim, dando voz a nossa maioria numérica que são ‘minoria’ no Brasil, que nós teremos um sistema justo”.

Nesse grupo do qual participa Gabriela, a estudante Leticia Oliveira também começa a se destacar entre os integrantes, inclusive participando da organização dos protestos, como os atos contra a reorganização do sistema estadual de ensino, que prevê o fechamento de 94 escolas em todo o Estado de São Paulo.

“É a primeira vez que estou participando de protestos. Fui ao primeiro sem entender e nem saber direito o que era e como seria, aí chegando lá, fomos conscientizados sobre o fechamento das escolas, e aderimos a esta causa, fiquei indignada com o fechamento das escolas, pois conheço uma delas”, diz a estudante.

“É muito legal mesmo, eu nunca tinha participado. Mas estou muito empolgada, tomara que de resultado bons”, completa Leticia.

Revide On-line
Leonardo Santos
Foto: Arquivo Revide/Arquivo pessoal

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