De volta à rotina
Érica Carvalho e os filhos, Gabriel e Alice: rotina de café da manhã, do sono e o diálogo são essenciais na volta às aulas

De volta à rotina

Famílias voltam à rotina com o início das aulas; diálogo e calma fazem toda a diferença para as famílias enfrentarem a jornada de volta à rotina escolar

O mês de fevereiro marca não apenas o retorno às aulas, mas também o reencontro das famílias com as rotinas escolares de crianças e adolescentes. Mais uma vez, tudo novo, e as mudanças mexem não só com o dia a dia, mas também com o humor, o corpo e as relações.  Na casa da comerciante e influenciadora digital Érica Carvalho, o início do ano letivo é sinônimo de uma reviravolta na rotina da família. Os filhos, Gabriel, de 12 anos, e Alice, de 7 anos, são os que mais sentem as mudanças. “Isso porque a gente sai de uma rotina mais descontraída, sem muitas regras, com atividades diferentes e sono alterado. Nas férias, eles ficam com essa liberdade maior de horário para irem dormir, acordam mais tarde. Agora, nesse retorno, tudo volta ao normal de novo. Para mim, que não parei de trabalhar durante as férias deles, não existe tanto impacto. Mas, os dois sentem mais, com certeza”, explica.

 
Por isso, Érica explica que a maior barreira enfrentada pela família nesse processo é a questão do sono. “É o mais difícil, pois eles se acostumam com outros horários. E, como estudam de manhã, precisam voltar a acordar cedo. Além disso, com rotina escolar e as atividades no contraturno, nesses primeiros dias, o cansaço deles é visível e grande”, diz.   Assim, o retorno às atividades escolares requer uma transição suave, segundo a psicopedagoga e terapeuta Denise Dias. “Quando falamos em volta às aulas, estamos falando de uma adaptação de rotina. Pois qualquer aluno, criança ou adolescente, relaxa no horário de ir dormir, no horário de acordar, relaxa na alimentação e relaxa nos hábitos obrigatórios em geral”, diz.  

 

ESTRATÉGIAS PARA UMA ROTINA DE SONO SAUDÁVEL 


Essa adaptação ao novo horário pode ser um desafio para muitas famílias. Especialistas recomendam uma transição gradual nas semanas que antecedem o retorno às aulas. Ajustar os horários de dormir e acordar em incrementos de 15 minutos a cada dois dias, por exemplo, pode facilitar a adaptação, evitando choques bruscos.  Denise Dias explica que, com foco em crianças e adolescentes, o ideal é que os pais e as famílias se organizem com antecedência. “Então, por exemplo, se as aulas começam amanhã, nada de querer organizar tudo de repente hoje. Isso gera uma carga de estresse muito grande tanto para os pais quanto para o filho, independente se ele é criança ou se ele é adolescente.” 

 



 

A psicopedagoga e terapeuta Denise Dias destaca a calma para que os pequenos, e toda a família, façam a readaptação de forma mais leve

 

A profissional reitera que a rotina do sono é muito importante no retorno às aulas. “Se o organismo está, há mais de um mês, habituado a dormir e acordar tarde, a criança não vai conseguir, de um dia para o outro, dormir mais cedo. Então, o processo da reeducação do sono deve ser feito com antecedência.” Denise ressalta que ao não se valorizar a quantidade de horas de sono que as crianças e adolescente precisam ter há o risco de prejudicar a qualidade da aprendizagem. “Até mesmo o comportamento, a colaboração, a socialização. Ao dormir pouco, a criança fica mais mal-humorada, pode ficar impaciente e intolerante. Então, uma noite de sono bem dormida é essencial.” 


Para Érica, o retorno das aulas é sinônimo do início do ‘ritual do sono’. “Tenho de reeducar mesmo. Então, reduzimos o contato com as telas durante a noite, já preparamos os dois para o sono com um banho antes de dormir”, diz.  Outras dicas são a criação de um ambiente propício para o sono, com quartos escuros e livres de estímulos eletrônicos antes de dormir. Assim como Érica, estabelecer rituais relaxantes, como a leitura de um livro, também pode ajudar as crianças a desacelerarem antes de dormirem. 

COMPORTAMENTO EM FOCO 


O retorno às aulas não se trata apenas de ajustar os relógios biológicos, também envolve preparar as mentes dos pequenos para o desafio da nova fase escolar. Conversar abertamente sobre as expectativas para o novo ano letivo pode diminuir a ansiedade. Incentivar a organização, por meio do uso de agendas ou calendários, é uma maneira eficaz de promover responsabilidade e autonomia. Além disso, estimular a curiosidade e o interesse pela aprendizagem pode transformar a volta às aulas em uma experiência positiva. Visitas a museus, bibliotecas ou mesmo assistir a documentários em família podem despertar a paixão pelo conhecimento. 


A psicopedagoga e terapeuta Denise Dias também destaca que, de modo geral, as pessoas pensam muito mais na adaptação escolar de crianças pequenas, no entanto, não valorizam tanto a adaptação do adolescente. “O adolescente volta para a escola com uma carga de estudo muito maior do que uma criança. Se for adolescente em fase de ensino médio, ele já volta super pressionado por causa do famoso vestibular. Então, o processo de reingresso escolar de um adolescente também deve ser planejado e visto com afeto, visto com cautela pelos pais também”, explica Denise. 


Nesse sentido, o acolhimento e o diálogo são fundamentais. Na casa de Tatiana de Oliveira Dutra Castaldellli, o diálogo é a base para um retorno tranquilo à rotina escolar. “Eu gosto muito de conversar com meus filhos. A previsibilidade e antecipação são importantes em algumas situações, por isso sempre conversamos sobre a escola. A rotina é muito importante na minha vida, para tudo, então mesmo nas férias nós mantivemos horários e a rotina da casa, para eles se adaptarem melhor nesse retorno”, comenta.


Tatiana explica que Joaquim, de 6 anos, e Emília, de 1 ano, tiveram processos diferentes de adaptação quando começaram a rotina escolar. Mas, o processo da família nessa rotina sempre seguiu algumas diretrizes como a conversa, rotina de refeições à mesa, sem TV e atividades em família, com todos fazendo a maior parte das coisas sempre juntos. “A participação de todos nas atividades e em arrumar a mesa do café, por exemplo, é importante. Também optamos por colocá-los em escolas diferentes pois acreditamos que cada fase da infância da criança demanda uma coisa. Também percebemos que soma muito para o desenvolvimento deles”, detalha Tatiana.  

 




Na família de Tati Dutra, a rotina tem a participação de todos e o diálogo é a base para enfrentar as mudanças

 

A especialista Denise Dias destaca o trabalho de todo o processo, mas destaca que a calma é fundamental. “Se nem os adultos se adaptam em uma semana no novo emprego, por exemplo, como esperar que crianças se adaptem em dois ou três dias em um novo ambiente cheio de regras e pessoas estranhas?! Então, a calma é fundamental”, encerra.  

 

ALIMENTAÇÃO INTELIGENTE 

A alimentação ganha ainda mais importância na volta à rotina. Um café da manhã equilibrado é crucial para fornecer a energia necessária para o dia. É importante incluir alimentos ricos em fibras e proteínas, como frutas, cereais integrais e laticínios. Ao preparar lanches para a escola, opte por opções saudáveis e nutritivas. Evitar alimentos processados em favor de alternativas mais naturais contribui para a saúde física e mental dos pequenos. 

 

ÓCIO X ROTINA: EQUILÍBRIO PARA A SAÚDE MENTAL

Ao traçar as estratégias práticas para o retorno às aulas, é importante reconhecer a importância tanto do ócio quanto da rotina na vida das crianças e adolescentes. Enquanto o período de férias permite um descanso essencial e a exploração livre, a rotina escolar oferece estrutura e disciplina, fundamentais para o desenvolvimento emocional e cognitivo. Entender e equilibrar esses dois aspectos é a chave para uma vida saudável e harmoniosa. O ócio proporciona a liberdade necessária para a imaginação e criatividade, enquanto a rotina oferece a estabilidade e os limites que ajudam na formação de hábitos e responsabilidades. 


DICAS PARA VOLTAR À ROTINA

1- ESTABELEÇA ROTINAS 


Reintroduza gradualmente as rotinas escolares. Isso inclui horários regulares de sono, refeições e tempo dedicado às tarefas de casa. Essa prática ajuda as crianças a se ajustarem ao ritmo escolar, reduzindo o impacto da mudança repentina na rotina. 

2- ESTEJA ATENTO ÀS NECESSIDADES EMOCIONAIS 

Converse abertamente com seus filhos sobre seus sentimentos em relação ao retorno às aulas. Esteja atento a sinais de ansiedade ou preocupação e ofereça apoio emocional. Reconhecer e validar esses sentimentos é crucial para construir confiança e segurança.

3- CONECTE-SE COM OUTROS PAIS 

Participar de grupos de pais pode ser uma ótima maneira de compartilhar experiências e obter dicas valiosas. Essas comunidades oferecem suporte mútuo e são espaços onde os pais podem trocar informações sobre a escola, professores e atividades educacionais.  

Fonte: Fundação Abrinq


Fotos: Luan Porto

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