Em busca da cura
Imagem ilustrativa

Em busca da cura

Escassez de medicamentos gera problemas na saúde de Ribeirão e do Brasil; prefeito Duarte Nogueira participou de reunião em Brasília para discutir a situação

Os telefones não param de tocar e as filas de clientes não diminuem nas farmácias de Ribeirão Preto, mas os pedidos e as receitas médicas mudaram nos últimos quatro meses. A falta de medicamentos nas farmácias públicas e particulares tem gerado dor de cabeça a pacientes, farmacêuticos e médicos, que estão se desdobrando em busca da dose certa. Essa situação é sintoma dos problemas enfrentados pela indústria farmacoquímica nacional, que é altamente dependente de importações de matérias-primas e insumos para a produção dos remédios, impactadas por problemas de distribuição globais.

 


A reportagem da Revide conversou com representantes de cinco farmácias, uma em cada região de Ribeirão Preto. Em todas, os principais medicamentos em falta são os antibióticos (como amoxicilina e clavulanato), antialérgicos e mucolíticos (como pastilhas e xaropes para tosse seca). Até anticoncepcionais e remédios para reposição hormonal estão com problemas de distribuição. “Os medicamentos vêm e, rapidamente, somem do mercado. Pessoas de outras cidades da região nos ligam em busca de medicamentos, porque não encontram por lá”, afirma a farmacêutica Priscila Davoglio Azevedo Pelegrin.

 


Medicamentos de uso infantil também estão com problemas de abastecimento, como antibióticos e antialérgicos líquidos. A situação se arrasta há meses e obriga médicos a revisarem receitas, como relata o pediatra e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), Ivan Savioli Ferraz. “Sentimos muito a falta dos antibióticos. Por isso, tendemos a prescrever às vezes antibióticos de maior espectro, que matam mais tipos de bactérias. Isso não é bom, já que corre o risco de aumentar a resistência bacteriana”, afirma. No caso das crianças, a escassez de medicamentos é ainda pior, visto que nem sempre é possível trocar uma medicação infantil por uma adulta, fornecida geralmente em comprimidos ou cápsulas. “Se tiver crianças com medicamento contínuo, como anticonvulsivantes, não sei o que faremos. Na minha prática clínica, felizmente eu não cheguei a enfrentar esse tipo de problema. Existem doenças das quais não se pode ficar sem o medicamento”, destaca Savioli.

 


Dentre as razões para a escassez de medicamentos na indústria brasileira estão a guerra entre Ucrânia e Rússia e a política de lockdown na China em qualquer sinal alta nos casos de Covid-19. A China e a Índia são hoje os maiores fornecedores de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) para produção de remédios; já no caso do conflito no Leste Europeu, há dificuldades de importação de petróleo e minérios como xisto e alumínio, usados em instrumentos cirúrgicos. 

 

 

Centro das atenções

 


Em reunião com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), o ministro da Saúde Marcelo Queiroga declarou ter tomado providências para tentar normalizar a situação, como a retirada do imposto de importação para baratear o preço dos itens. Mesmo assim, alguns medicamentos não foram enviados para as farmácias públicas de Ribeirão Preto nas últimas semanas. Segundo a Secretaria da Saúde, nenhum paciente ficou desassistido durante a falta desses medicamentos. Para a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto (FCF-RP), Vania dos Santos, é preciso que o Ministério da Saúde se imponha em negociações internacionais. A docente aponta que a situação dos estoques deve se normalizar nas próximas semanas, mas critica a falta de investimentos na ciência para reduzir a dependência da indústria nacional sobre os insumos estrangeiros. “Os cortes na ciência impactam diretamente na qualidade das pesquisas desenvolvidas, nas universidades, nos institutos científicos e nos laboratórios nacionais de produção de medicamentos. Afetam, ainda, o desenvolvimento de novos medicamentos, com tecnologia brasileira, voltados para as nossas reais necessidades epidemiológicas”, finaliza Vania. 


Foto: Pixabay

Compartilhar: