Empreendedorismo Materno
Fotógrafa Bianca Lemos

Empreendedorismo Materno

A fotógrafa Bianca Lemos conta como foi trocar a área de atuação e investir no próprio negócio a partir da chegada do filho, Pedro

Formada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, Bianca Lemos atuou na área por muitos anos, em cidades como Brasília, São Paulo e São José dos Campos. A mudança para Ribeirão Preto aconteceu por causa da transferência do marido, que é funcionário público. Aqui, consolidou-se como empresária do ramo da fotografia e se tornou um exemplo bem-sucedido de empreendedorismo materno, já que o novo caminho profissional, que era uma paixão antiga, desde a época da faculdade, começou a se concretizar, de fato, com a chegada de Pedro, hoje com sete anos. Dispensada pela agência que trabalhava logo após o período de licença-maternidade, Bianca decidiu seguir sua intuição. Depois de algumas experiências positivas no registro de momentos especiais, como o nascimento de Tom, filho de uma prima e amiga de infância, e a diversão das crianças em uma atividade de férias promovida por um shopping que assessorava, buscou aprimoramento técnico para contar histórias através de imagens e investiu no próprio negócio. Na entrevista a seguir, ela recorda alguns episódios marcantes desse processo de transição e destaca a importância de uma rede de apoio.

 

Como foi a transição de um emprego com carteira assinada para o empreendedorismo?

Quando engravidei, foi um momento bastante decisivo pra mim. Já tinha comprado um equipamento semi-profissional e, durante a gestação, fiz alguns trabalhos pagos. Minha primeira câmera foi uma Sony, com a qual fotografei algumas famílias para portfólio e para me testar também. Lembro que a irmã de uma amiga engravidou na época e acabei fazendo o ensaio gestante e o chá revelação do bebê. Eu gostava dos resultados, mas precisava estudar mais, me aprofundar na técnica. O sentimento já estava ali, a emoção. Tinha medo de ser demitida e acabava conciliando as agendas, afinal, a fotografia era um plano B. Saí de licença em dezembro. Em maio, prestes a voltar a trabalhar, com aquele misto de querer ser útil como mulher, mas também de querer ser mãe presente com presença, me senti livre para aceitar tudo que viesse. E, assim que retornei, fui surpreendida – ou não – com a minha demissão. A empresa tinha passado por vários cortes e tinha chegado a minha vez. Um cenário muito comum na vida de tantas mulheres que se tornam mães. Lembro que, quando me chamaram no RH, só perguntei: ‘onde assino?’ As pessoas ficaram até surpresas com a minha reação. Liguei para o meu marido, feliz da vida: ‘amor, fui demitida, vou poder comprar meu equipamento full frame e investir na fotografia’. Até hoje, eu não sei direito como ele se sentiu, mas nunca vou esquecer do apoio que ele me deu.

 

O mercado de trabalho tem evoluído no cuidado com a profissional que também é mãe? Ou ainda há muito para avançar?

Acredito que hoje já se tem mais espaço para falar sobre isso e, especialmente em empresas em que há mulheres nas posições de liderança, já vemos alguns avanços, mas isso é só o começo. Temos um longo caminho até implementar práticas consistentes. Vivi os dois lados do balcão, como empresa e como CLT, e sei onde me sinto mais feliz, mesmo com os altos e baixos do empreender.

 

Quais foram os seus primeiros passos?

Com o meu acerto, comprei todo equipamento novo e fui empreender. Tirei do baú tudo que aprendi na faculdade e na pós-graduação sobre comunicação e gestão. Queria fazer tudo certinho. Venho de uma família de empreendedores. Minha mãe abriu a loja dela eu tinha 19 dias. Cresci nesse ambiente. Meu pai também tinha comércio. Quando não estava em uma loja, estava na outra. Paguei minha faculdade com o dinheiro da papelaria que minha mãe abriu para mim na época. Ela tinha a dela, que era atacado, e abriu uma portinha para mim, em um outro bairro da cidade. Eu trabalhava e estudada. Nada nunca foi de mão beijada. Nunca foi fácil, mas, ali, com 17 anos, eu já empreendia. Já era responsável por compra, venda, estoque, caixa, entrega, atendimento ao cliente.

 

Tinha medos, inseguranças sobre como conciliar seu lado profissional e o seu lado mãe?

Eu tinha medo, sim, mas eu estava tão feliz e com tanta vontade de começar algo novo e me dedicar para aquilo que a chegada do Pedro só me ajudou. Eu fazia meus horários com base na rotina dele. O primeiro evento que fotografei depois que ele nasceu foi em abril de 2017. Ele tinha acabado de completar quatro meses. Foi um batizado com recepção e, depois, fui para outra cidade fotografar uma roda de gestantes. Foi um dia tão gostoso e especial que ali mesmo eu já torcia para ser demitida. Deus ouviu minhas preces todas. A maternidade só me ajudou. Porque eu chegava dos eventos ou ensaios, já baixava as fotos e fazia uma prévia para a mãe, porque eu precisava aproveitar o tempo da soneca do Pedro ou do meu marido em casa, pois nunca tivemos ajudantes. E essa prática me acompanha até hoje. Acabei ficando conhecida aqui em Ribeirão pela rapidez na entrega. Imagina deixar uma mãe ansiosa? Jamais. Era bom para elas, para mim enquanto mãe e dona de casa também, e para fazer o meu nome como profissional.

 

 

Você já tinha familiaridade com esse conceito de empreendedorismo materno? Ele nasce da necessidade dessa mãe de se ajustar no mercado de trabalho?

Como eu disse, nasci e cresci vendo mulheres empreender na minha família. O empreendedorismo feminino está enraizado, embutido na minha história. Eu carrego a força de muitas mulheres que vieram antes de mim, que foram para a luta para fazer dar certo, mas, em muitos casos, empreender é a única solução para a mulher que precisa conciliar a maternidade e compor a renda familiar. Para as mães que têm algum suporte, o empreendedorismo traz alguma liberdade de horário para se dedicar aos filhos e cuidar da própria saúde.

 

Como foi o seu processo no empreendedorismo? Pesquisou, estudou sobre o assunto, foi algo gradativo?

Comecei em casa, como a grande maioria. Primeiro pensei no portfólio, marca e identidade da empresa, nome, cores, como seria meu processo de trabalho, desde o primeiro contato com o cliente, até a entrega final e pós-venda. Acabei juntando tudo que aprendi ao longo dos anos nas empresas que trabalhei e na minha bagagem familiar. Eu precisava me atualizar da técnica da fotografia, direção de pessoas, composição e regras fotográficas. Isso me tomou muitas e muitas madrugadas estudando e amamentando. Muitas noites em claro.

 

Quais foram os principais desafios e as principais conquistas do início até agora?

Os desafios são imensos. A realidade da mulher empreendedora está muito longe de ser um conto de fadas. Para ter um negócio que se sustente, precisamos pensar na organização financeira, de comunicação, de agenda. Muita gente ainda encara o empreendedorismo materno como um trabalho amador. Isso é lamentável. Então, minha maior conquista é ter conseguido estruturar um negócio sustentável, ser reconhecida e remunerada pela minha dedicação, além de ter realizado o sonho de abrir as portas do meu Estúdio Casa, que é pioneiro na cidade, assim como o conceito de campanhas sazonais, lista vip, entre outros.

 

Aqui em Ribeirão Preto, existe um ecossistema de mulheres que incentivam e apoiam o empreendedorismo materno?

Em muitas cidades, as mães se juntam. Ter o apoio de uma rede pode ser ótimo para quem está começando. Eu não sou de Ribeirão e esse ecossistema me ensinou muito sobre a dinâmica de negócios na cidade. Além disso, em grupo, é possível viabilizar feiras e eventos, trocar contatos de fornecedores, ter boas indicações. Também fiz amizades e, hoje, me coloco disponível para conversar com quem está começando.

 

Qual o seu conselho para quem está pensando em ingressar nesse modelo de trabalho?

As realidades são muito diversas entre empreendedoras, mas acredito que um conselho que pode servir para muita gente é o de valorizar o próprio trabalho: cobrar o que é justo, investir em cursos e especializações constantemente para agregar valor ao serviço e ser correta nas suas entregas. Quando a gente está começando, pode dar um medo de não conseguir clientes, da carreira não decolar, mas você precisa ser a primeira pessoa a valorizar o seu trabalho para que os outros também valorizem.


Fotos: @fotografabiancalemos

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