Fraternidade e amizade social

Fraternidade e amizade social

Arcebispo metropolitano Dom Moacir lançou oficialmente a Campanha da Fraternidade em Ribeirão Preto

Na última quarta-feira, 14, foi lançada em oficialmente a Campanha da Fraternidade (CF) de 2024 com o tema "Fraternidade e Amizade Social”. O anúncio foi feito pelo arcebispo metropolitano Dom Moacir Silva, acompanhado do diácono Francisco Alves Ferreira Neto e do padre e assessor da campanha André Massaro. O lema da campanha esse ano é inspirado na passagem bíblica no livro de Matheus: "Vóis sois todos irmãos e irmãs".  A CF traz em seu objetivo geral o desafio de "despertar a o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos". À Revide, Dom Moacir deu detalhes sobre a CF de 2024, bem como falou da importância da quaresma e do apoio aos excluídos. 


Dom Moacir Silva nasceu em 16 de julho de 1954, em São José dos Campos, filho de Brasilino Silva e Maria Augusta Silva. Sendo o mais velho de cinco irmãos. Desde os 6 anos, Moacir já acompanhava o avô na Conferência Nossa Senhora D'Ajuda, no Bom Retiro, em sua cidade natal. Ao ingressar na escola, aos 9 anos, assumiu os trabalhos vicentinos e passou sua adolescência servindo como confrade. Foi secretário, tesoureiro e segundo vice-presidente do Conselho Particular “Eugênio de Melo”. Aos dezoito anos fundou a Conferência Nossa Senhora Aparecida, uma conferência de jovens sendo seu primeiro presidente. Dentro do Conselho Particular atuou na época como representante do Movimento Jovem, hoje “Coordenador da Comissão de Jovens”. As duas Conferências das quais participou existem até hoje. Ao longo de sua carreira acadêmica, Moacir fez o Curso Filosófico, entre 1980 e 1982, no Seminário Bom Jesus, em Aparecida e o Curso Teológico, entre 1983 e 1986, no Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté. Foi ordenado sacerdote em 6 de dezembro de 1986. Em abril de 2013, Dom Moacir foi nomeado pelo papa Francisco arcebispo metropolitano de Ribeirão Preto, e tomou posse na Catedral Metropolitana de São Sebastião, em 23 de junho de 2013.



Qual é a origem e a importância da Campanha da Fraternidade?


A Campanha da Fraternidade existe na igreja em todas as dioceses do Brasil em 1964. Nessa época, estávamos vivendo ainda sob o Concílio Vaticano II, que foi uma grande reflexão da igreja sobre si mesma, sua contribuição e presença em todo o mundo. Essa primeira fase da campanha da fraternidade se debruçou mais sobre a temática da Igreja, ajudando os fiéis a tomarem consciência de que a igreja é construída por cada um de nós. Depois, em uma segunda fase da campanha, nos debruçamos sobre temas problemáticos no Brasil. Questões sobre trabalho, tráfico humano, fome. Um pouco mais adiante, refletimos sobre problemas específicos do Brasil, como a proteção do meio ambiente, racismo, moradia, povos indígenas, etc. Nesses 60 anos, muitas das pastorais que existem hoje surgiram a partir de pastorais, como a da Comunicação, da Pessoa Idosa, são muitos os frutos e benefícios que a CF tem produzido.

 

E qual o tema deste ano?

Neste ano o tema escolhido foi a Fraternidade e a Amizade Social. Primeiramente, para comemorar os 60 anos de campanha de fraternidade, levando em consideração o mundo em que nós vivemos muitas vezes dividir polarizado. Essa mentalidade que se o outro pensa diferente de mim não é um adversário, mas um inimigo e ele deve ser destruído. Isso é muito isso é péssimo para a sociedade. Nós aqui no Brasil enquanto o Campanha da Fraternidade, como CNBB, escolhemos essa temática justamente como a contribuição para reflexão da sociedade a respeito da fraternidade. Esse tema tem muito de seu fundamento na encíclica do Papa Francisco chamada "Fratelli Tutti" (Todos irmãos). Toda a campanha Fraternidade tem sempre um objetivo geral e objetivo específicos. E o objetivo geral desse ano é: despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana. Se é preciso despertar é porque está fraternidade está adormecida. Deveremos promover e fortalecer os vínculos da amizade social para que em Jesus Cristo a paz seja a realidade entre todas as pessoas e povos. Esse é o grande objetivo que irá orientar toda essa campanha ao longo da quaresma. Um comprometimento da Igreja Católica com a fraternidade e a amizade social. Na encíclica, o Papa Francisco nos dá uma visão sobre o que é a amizade social: um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço. É o amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam. Amizade social é a capacidade diária de alargar o meu círculo, chegar aqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mundo, embora encontrem-se perto.


O católico hoje deve seguir rigorosamente as exigências da quaresma? O que o senhor considera indispensável?


O grande desafio da Quaresma é justamente a conversão tanto é que no dia de hoje a palavra de ordem da liturgia: é convertei-vos e crede no evangelho. Então o primeiro ponto para a quaresma é justamente o desejo de entrar nessa dinâmica de conversão de vida. No passado de fato havia de fato um rigorismo maior para o tempo quaresmal. Hoje, nós temos a abstinência de carne na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira Santa, os dois dias previstos para a abstinência de carne para as pessoas acima de 14 anos. Também quarta-feira de cinzas e sexta-feira Santa é dia de jejum para as pessoas maiores de 18 anos até os 60 começado. Basicamente o que exige-se um maior esforço seriam nesses dois dias.  Muitas vezes as pessoas têm costume de penitência de alguma coisa, como de bebida, cigarro, doces. É aqui é preciso observar de perto essa questão, o mais importante é a conversão. Às vezes a pessoa faz a opção de não comer doce na quaresma, mas por causa disso fica ansiosa, fica tensa e acaba atrapalhando o relacionamento. Esse sacrifício é agradável para Deus? Com certeza não. A penitência deve estar conjugada com seu esforço de conversão, o mais importante é a conversão do coração.

 

A CF não se furta de abordar temas espinhosos nos últimos anos. Ademais, não é raro vermos críticas às declarações do Papa Francisco sobre inclusão, bem como uma perseguição a figuras como o Padre Júlio Lancellotti. É difícil estar do lado dos excluídos?


É difícil, mas é o evangelho. Ou seguimos Jesus Cristo e nos colocamos do lado dos necessitados ou então, não os ajudamos, mas também não seguimos Jesus Cristo. O Papa Francisco sofre com a postura de alguns pelo mundo à fora que o rotulam de diversas coisas, porém, ele tem uma capacidade enorme de "desdramatizar". Podem falar o que quiser, mas ele sabe o que precisa fazer e tem a consciência clara de que está vivendo o evangelho.



Qual mensagem o senhor deixa à população nesse tempo de quaresma?

Estamos iniciando o tempo da Quaresma, o tempo que nos convida à conversão, a melhorarmos a nossa relação com nós mesmos, com os outros e com Deus. Porque a conversão passa por todas essas esferas. E a CF vem apontar um foco para trabalharmos essa conversão. Olharmos como está o meu diálogo com o outro, como eu o valorizo. Eu desejo a todos que aproveitem ao máximo esse tempo quaresmal, ouvindo mais a palavra de Deus, participando das celebrações, atentos ao tema da campanha e nos preparamos bem para o ponto alto da vida cristã que é a celebração da Páscoa do Senhor. 


Foto: Márcio Smiguel – Arquidiocese de Ribeirão Preto

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