TI em plena expansão

TI em plena expansão

Apesar dos tempos de crise, o mercado de Tecnologia da Informação segue com a expectativa de fechar 2015 com uma taxa de crescimento de 7%

De acordo com as principais pesquisas da área, o Brasil ocupa, graças aos investimentos realizados, a sétima posição no ranking mundial do mercado de Tecnologia da Informação (TI) — que supera os U$ 3,8 trilhões — e o primeiro lugar na América Latina, de onde detém 46%. Apesar de apontarem números um pouco mais ou um pouco menos otimistas, as grandes consultorias internacionais registram que este mercado está em expansão no Brasil e fechará 2015 em alta. Enquanto a Gartner prevê a movimentação de U$ 95 bilhões para este ano, a International Data Corporation (IDC) estima em U$ 165 bilhões o volume de recursos envolvidos nas transações do setor. Apesar de utilizarem métricas diferentes, as duas gigantes concordam que a expansão do segmento no Brasil estará na casa dos 7%, mesmo em ano de retração do Produto Interno Bruto (PIB), em aproximadamente 1,5%.

No mundo inteiro, ainda de acordo com o IDC, aproximadamente um terço dos investimentos globais devem ser relacionados ao universo da TI, incluindo serviços na nuvem, dados, aplicações de mobilidade e redes sociais. A área de “cloud computing”, por exemplo, deve movimentar U$ 118 bilhões em 2015, enquanto os gastos com sistemas de armazenamento e servidores girarão em torno de U$ 143 bilhões; já as áreas de “big data” e “analytics” responderão por aproximadamente U$ 125 bilhões, sendo a previsão para o braço empresarial do mercado de software U$ 335 bilhões.

De volta ao Brasil e considerando isoladamente o mercado de software e de serviços, a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) revela que o faturamento atingiu, no ano passado, U$ 11,2 bilhões, sem as exportações; já o mercado de serviços chegou a um faturamento de U$ 14 bilhões no ano passado. A mesma organização mostra que o mercado brasileiro de software e serviços é liderado por micro e pequenos negócios, com a participação de 45% e 50%, respectivamente. As empresas de médio porte representam 4,33% do mercado e os grandes negócios, apenas 1,03%. O estudo revela, ainda, que o Sudeste tem mais de 60% de participação nos investimentos em hardware, software e serviços, seguido do Sul (14,53%), Centro-Oeste (10,9%), Nordeste (10,1%) e Norte (3,7%). A pesquisa aponta que o número de computadores instalados no Brasil chegou a 69,9 milhões em 2014, quando o país tinha 120 milhões de usuários de internet.

O cenário ribeirãopretano

Em Ribeirão Preto, a TI encontra situação favorável. A atenção ao setor fica evidente, por exemplo, na presença do Supera Parque de Inovação e Tecnologia, uma iniciativa que envolve vários parceiros e já abriga 50 empresas, entre associadas e incubadas. O local possui Centro de Negócios, Centro de Tecnologia e Incubadora, além do Polo Industrial de Software (PISO), uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é trabalhar pelo avanço do setor de TI e pela profissionalização da indústria de software. Segundo a diretoria do PISO, a região ribeirãopretana já está entre as que mais emprega na área de TI.

Instalada no Supera está a Kidopi, empresa de desenvolvimento de softwares de alto valor agregado em inovação para o setor de saúde. Sob o comando de Mario Sergio Adolfi Junior, doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, a empresa vem se destacando em seu ramo de atuação, tendo acabado de ser premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) pela criação de um dos melhores softwares voltados à saúde do ano. O CleverCare é uma ferramenta que ajuda a prover cuidado próximo e contínuo a pacientes fora do hospital.

Segundo o empreendedor, a Kidopi manteve o crescimento em 2015 por, entre outros fatores, atuar com foco em vários mercados-alvo, como o médico, o odontológico e o da terceira idade. “Na minha visão, em cenários como o atual, as áreas mais promissoras são aquelas que resolvem problemas reais, que é o nosso caso. Na minha leitura, diria que a tendência para os próximos anos está em aplicativos de acompanhamento a distância, nas tecnologias vestíveis e em algoritmos de previsibilidade”, opina Mario Sergio.

Focada em desenvolver soluções tecnológicas para o varejo supermercadista e para atacados e distribuidores, a Consinco existe há 25 anos e vem acompanhando todas as transformações do setor. Uma delas diz respeito à mentalidade do mundo corporativo em relação à TI, que já é entendida como investimento por uma boa parcela. “Em ano de crise, muitas soluções tecnológicas tem a capacidade de levar alternativas para redução de custos e/ou aumento da produtividade, quesitos que fazem a diferença nesse momento”, elenca José Maria da Silva, diretor de produto da Consinco.

Segundo ele, 2015 está sendo um ano de incertezas para o mercado de atuação da empresa, o que reflete em insegurança na hora de investir em grandes mudanças na gestão do negócio. Ainda assim, será possível, na previsão do diretor, atingir 95% da meta pré-estabelecida para o ano. “Estamos sendo muito cautelosos nas nossas decisões estratégicas, especialmente porque temos certeza de que o mercado irá se recuperar e precisaremos estar preparados para isso. A dúvida é quanto tempo isso irá demorar”, avalia José Maria.

Também com mais de 20 anos de atuação nesse mercado, o empresário Sergio Pontin Amâncio acrescenta que o mercado de 2015 se mostrou crescente, mas muito mais exigente, planejado e profissional. “A TI contribui para melhorar processos, reduzir custos, aumentar produtividade e criar diferencial de mercado. Sendo assim, o setor pode apresentar um bom crescimento em momentos de crise”, expõe Sergio, revelando que sua SVC Laser, especialista em planejamento, projetos, suporte técnico e manutenção, dobrou o faturamento nos últimos 36 meses.

Para a continuidade da expansão do setor, é preciso investir na profissionalização. Segundo o analista sênior e professor Matheus Lara Calache, os órgãos especializados apontam que, até 2020, ocorrerá no Brasil uma falta de 750 mil profissionais para atuar no segmento. “A procura pelos cursos de formação e especialização na área tem se intensificado e isso deve acontecer cada vez mais. Os centros de formação devem se preparar para uma considerável alta de demanda”, recomenda o especialista, que leciona disciplinas relacionadas à TI nos cursos oferecidos pela Faculdade Reges. Nesse sentido, Ribeirão Preto também apresenta inúmeras possibilidades, uma vez que concentra diversas universidades e centros universitários.

Afinal, o que é TI?

Por se tratar de um termo bastante amplo, não é fácil definir o que é TI. Em linhas gerais, pode-se dizer que a sigla se refere ao conjunto de atividades e de soluções relacionadas ao universo da computação, seja para produção, armazenamento, transmissão, acesso, segurança e uso de informações. “Alguns autores preferem usar TI para definir aspectos técnicos e SI (ou Sistemas de Informação) para representar questões relativas ao fluxo de trabalho, pessoas e informações. Eu entendo tudo como uma única área, incluindo ainda telecomunicações, automação, recursos multimídia, entre outras ferramentas que fornecem dados e informações capazes de auxiliar o gerenciamento de empresas, sem deixar de lado os recursos humanos”, define Débora Pelicano Diniz, docente e coordenadora do Curso de Ciência da Computação do Centro Universitário Barão de Mauá. Atualmente, uma outra sigla vem se tornando comum. A TIC, para representar a Tecnologia da Informação e da Comunicação, reforça o papel cada vez mais importante da comunicação nesse cenário.

Para tornar o entendimento um pouco mais fácil, pode-se pensar a TI divida em duas grandes fatias: hard-
ware e software. A primeira inclui os componentes físicos do segmento, como montagem de máquinas, redes de computadores, servidores e outros itens necessários para a infraestrutura de TI. Na segunda se refere à inteligência da área, como desenvolvimento, banco de dados, gestão de projetos de informática, entre outras subáreas. No entanto, essa leitura já não representa com fidelidade a importância que o segmento ganhou, graças às evoluções da própria tecnologia.

A caminhada rumo ao momento atual começou no século passado, nos anos de 1960, quando os computadores começaram a se tornar importantes para grandes e médias empresas, mas de forma limitada. A interação entre uma ferramenta e outra era praticamente inexistente, e precisava ser feita de maneira totalmente individualizada. Na década seguinte, as linhas telefônicas passaram a permitir, ainda de forma insipiente, o acesso a informações remotamente. Já em meados dos anos 70, as transformações tecnológicas passaram a possibilitar uma comunicação maior, já permitindo a geração de um “sistema de apoio à decisão”. Especialistas apontam que, nesse período, a maior evolução foi transformar o processamento de transações em gerenciamento de dados.

Já na década de 80, quando o termo Tecnologia da Informação passou a ser mais utilizado, a tecnologia existente até então passou a ser mais acessível, por meio dos PCs (Personal Computers) e dos softwares de baixo custo. Ainda assim, nesse momento, os computadores ainda não permitiam grande integração e flexibilidade. Essas características ganharam corpo nos anos de 1990, que se tornaram a “era da integração e da reestruturação dos negócios”, uma vez que as barreiras impostas por tempo e local começaram a ser superadas.

A chegada do século XXI trouxe com ela um universo já consolidado, tanto no uso pessoal quanto na utilização corporativa das tecnologias. Os sistemas operacionais e os softwares mundialmente utilizados foram se tornando, dia após dia, mais comuns e indispensáveis. Agregue a isso a internet, cada vez mais presente na rotina das pessoas, e o surgimento de computadores portáteis, smartphones e outros equipamentos móveis com acesso a web e, pronto, dá para começar a imaginar a dimensão que a Tecnologia da Informação adquiriu nos últimos anos. “Se olharmos para o que vem sendo chamado de ‘Internet das coisas’ (da sigla em inglês, IoT), que representa a interação remota com os mais diversos objetos eletrônicos, teremos a certeza de que esse é um cenário de possibilidades infinitas. Isso gera uma integração total entre o mundo real e os sistemas computacionais e, como consequência, uma maior eficiência, acurácia e economia”, avalia Débora, que é mestre em Ciência da Computação.


O céu (não) é o limite

A interatividade proporcionada pela TI já não é uma novidade. Porém, as tendências do setor sinalizam que esse movimento ainda tem muito a expandir. Uma das áreas que mais crescem no mercado é o “cloud computing”, ou computação em nuvem. A expressão é utilizada desde 2008, mas os conceitos por trás de tal tecnologia são mais antigos. A tendência remete à noção de utilizar, em qualquer lugar do globo e independente de plataformas, as mais variadas aplicações por meio da internet com a mesma facilidade de tê-las instaladas em computadores locais. “Se, até pouco tempo atrás, era necessário investir em servidores e outros equipamentos para atender às demandas do mercado corporativo, hoje há outros modelos de negócio que garantem o armazenamento de arquivos e de dados de forma segura com uma infraestrutura física mais enxuta”, explica Thiago Carvalho, diretor comercial da Otimiza Software. Nesses casos, o armazenamento ocorre “na nuvem”. “Dessa forma, o usuário transfere para o fornecedor do serviço a responsabilidade de desempenhar tarefas como desenvolvimento, armazenamento, manutenção, atualização, backup, escalonamento, entre outras, ganhando tempo e dinheiro para focar especialmente no seu negócio”, complementa o especialista, distribuidor dos grandes fabricantes de softwares mundiais no Brasil, com sede em Ribeirão Preto. Dentro desse cenário, o “X as a Service”, ou XaaS, é um dos novos termos que vem se despontando. Ele representa três grandes áreas da TI que estão deixando de ser produtos para se transformarem em serviço: Infraestrutura, Plataforma e Software. “O chamado SaaS, ou Software como Serviço, é o modelo de licenciamento e delivery que mais cresce atualmente. Isso porque ele garante eficiência com investimento menor, em comparação aos modelos localizados no servidor, rede ou máquina próprios, através de uma assinatura mensal ou anual”, esclarece Thiago. 

Revide Online
Luiza Meirelles

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