Tratamento inédito

Tratamento inédito

A introdução de uma manga endoscópica pode levar os pacientes a perder cerca de 30% do peso e a controlar 90% da diabetes

Uma nova técnica para o tratamento da obesidade mórbida, realizado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP-SP em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, tem alcançado resultados animadores. O estudo, iniciado em 2006, busca melhorias no tratamento de pacientes obesos e diabéticos.

A obesidade mórbida ocorre quando o peso de uma pessoa ultrapassa o valor 40 no índice de massa corporal ou o valor 35 associado com co-morbidades (hipertensão arterial, diabetes, etc.). O Serviço de Endoscopia Gastrointestinal do HC-FMUSP selecionou 78 pacientes obesos mórbidos, diabéticos tipo II, entre 18 e 65 anos, com indicação cirúrgica para a redução do estômago. Foi introduzido um dispositivo plástico de exclusão do duodeno (parte do intestino delgado entre o estômago e o jejuno) e do jejuno proximal (porção do intestino delgado compreendida entre o duodeno e o íleo), por via endoscópica, sob sedação e controle radiológico por um período de um ano. Isto impediu o contato do alimento com a mucosa do duodeno e do jejuno proximal, o que interferiu com o processo de digestão e absorção, culminando na perda de peso e controle da diabetes.

De acordo com o diretor do Serviço de Endoscopia Gastrointestinal do HC-SP, doutor Eduardo Moura, o objetivo do teste é propiciar ao paciente com indicação cirúrgica, porém de elevado risco, a perda de peso pré-operatória que possa influir decididamente na boa evolução pré e pós-operatória imediata. Dr. Moura explica também que o modelo utilizado tem níveis de complicações muito baixos. “A implantação da prótese é reversível. Após um ano, ela é retirada do paciente”. Ele ainda ressalta que o resultado é bastante significativo. “Obtivemos um perda de 30% do excesso de peso e controle efetivo da diabetes tipo II em torno de 90% dos pacientes”.

O estudo é efetivamente um estímulo ao paciente obeso mórbido e diabético tipo II, que apresenta indicação cirúrgica, mas com alto risco de complicações. “O paciente perde peso, controla a diabetes e adquire melhores condições para ser submetido à cirurgia”, afirma.

Para o autônomo Ederson Grigolete Fleming, participar do teste do HC-SP foi como ter encontrado uma luz no fim do túnel. Na fila de espera desde 2004 para fazer a cirurgia bariátrica, Ederson e a esposa souberam do procedimento da manga endoscópica que seria realizado pelo hospital. “Fizemos os exames, acompanhamos palestras para compreender o procedimento em outubro de 2008. Eu e minha mulher decidimos participar do teste, pois seria a nossa única salvação”, conta. O autônomo lembra, ainda, que no início do teste pesava 220 kg e, após um grande regime, fez o procedimento do HC pesando 207.

Paulo de Tarso, cirurgião dentista, também participou do teste da manga endoscópica e conta que o seu quadro (diabetes tipo II e sobrepeso) se encaixava na pesquisa. Foi com o apoio de familiares e amigos, que decidiu fazer o teste. Segundo o dentista, a obesidade lhe causava muitos transtornos, como ronco, apneia do sono, dores nas pernas e na coluna. “Após o teste, passei a controlar a diabetes e a hipertensão, não ronco mais e as dores nas pernas diminuíram”, explica. A autoestima também melhorou muito, enfatiza.

Conforme estudos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de obesos no país está aumentando. São cerca de 17 milhões de obesos no Brasil, o que corresponde a 9,6% da população. Pessoas com histórias de vida semelhantes às de Ederson e Paulo, que participaram do teste para o tratamento da obesidade mórbida, tem no avanço tecnológico e médico novas alternativas para mudar o sentido de suas vidas. “Tenho uma nova vida. Devo tudo a Deus e aos médicos”, afima Ederson. E Paulo acrescenta. “Na minha vida, melhorou a saúde, a autoestima. Melhorou tudo”.

Revide On-line (Colaborador Fernando Belezine)

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