Mulheres surdas têm menor acesso ao conhecimento e rastreamento de câncer do colo do útero e mamário, revela pesquisa da USP

Mulheres surdas têm menor acesso ao conhecimento e rastreamento de câncer do colo do útero e mamário, revela pesquisa da USP

Estudo “Avaliação Do Rastreio De Câncer Ginecológico Em Mulheres Surdas”, feito pelo grupo PET-Medicina, ainda aponta a necessidade de adaptação do sistema de saúde quanto a acessibilidade

Mulheres surdas têm menor acesso ao conhecimento e rastreamento do colo do útero e mamário. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Grupo PET-Medicina, sob orientação do professor Marcelo Riberto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, realizada desde 2021 com mais de 80 voluntárias, entre deficientes auditivas e mulheres ouvintes.

 

O estudo, ao comparar as experiências de mulheres surdas e ouvintes, detectou diferença significativa em relação à vacinação contra o HPV e ao conhecimento sobre a função do exame de Papanicolau, apesar do alto nível educacional de boa parte das participantes do estudo. Isso evidencia a disparidade no acesso à informação e rastreamento de doenças ginecológicas pelas mulheres surdas.

 

“Realizamos a pesquisa sobre acessibilidade para mulheres surdas nas consultas ginecológicas para o rastreio dos cânceres de mama e de útero, abrangendo: realização de consultas médicas, efetivação dos exames de rastreamento destes cânceres e possíveis barreiras e facilitadores encontrados no atendimento nos serviços de saúde, seja para avaliação, exames, agendamento ou orientações antes e após os resultados”, explica Olga Carvalho Gomes da Costa, aluna do 4º ano do curso de Medicina da FMRP e uma das responsáveis pelo estudo.

 

As participantes responderam a um questionário, traduzido para a LIBRAS (Língua brasileira de sinais), com colaboração do grupo CITRUS e PET-Conexões de Saberes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre outubro e dezembro de 2021. “Nossos resultados demonstram que, mesmo em mulheres com alto nível de escolaridade, há significativa discrepância no conhecimento sobre a função do exame Papanicolau e vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV) entre mulheres surdas, quando comparadas com as ouvintes”, comenta Olga.

 

“Além disso, há a baixa adesão à vacinação contra o HPV em ambos os grupos, ouvintes e não ouvintes. Nosso estudo evidenciou a necessidade de adaptação do sistema de saúde, público e privado, quanto a acessibilidade para essa população, principalmente no que tange o aprendizado de LIBRAS por parte dos profissionais de saúde”, complementa Giulia Ventorim Ferreira, parceira de Olga na pesquisa.

 

O estudo

 

Os cânceres de mama e de colo do útero apresentam alta prevalência na população brasileira, desempenhando um papel proeminente nos índices de morbidade e mortalidade entre as mulheres. Dessa forma, a investigação a respeito das práticas de prevenção desses cânceres em subgrupos de mulheres com alguma vulnerabilidade é importante para o planejamento de intervenções. A Lei Brasileira de Inclusão (2015) e a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (2017) buscam a inclusão das pessoas com deficiência em toda a rede do SUS. “Este estudo buscou identificar diferenças nas práticas de prevenção desses cânceres entre mulheres surdas e ouvintes, verificando também os fatores determinantes de tais diferenças”, destaca Olga.

 

Participaram do estudo 83 voluntárias, sendo 40 mulheres surdas e 43 mulheres ouvintes. Dentre o total de participantes, 33 (40,2%) eram residentes do estado de São Paulo, 16 (19,5%) de Santa Catarina, e o restante de outros estados brasileiros. Em relação à escolaridade, 21 (48,8%) ouvintes e 28 (71,8%) mulheres surdas possuíam ensino superior completo.

 

“O estudo possui limitações relacionadas ao uso de LIBRAS, uma vez que que nem toda mulher com deficiência auditiva é oralizada, alfabetizada ou fluente nessa língua. Não obstante, a disseminação do questionário dependeu de contatos entre as mulheres, o que limitou o espaço amostral para o contexto universitário. Este estudo evidencia a necessidade de estratégias para melhor comunicação de assuntos de saúde com a população com deficiência auditiva”, ressalta Giulia.
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Foto: Mikes-Photography por Pixabay

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