Tédio e apatia social aumentam durante pandemia da Covid-19
Males já existiam, porém, sofreram um aumento durante o período pandêmico

Tédio e apatia social aumentam durante pandemia da Covid-19

Isolamento social trouxe preocupações e dilemas emocionais para grande parte da população

O isolamento social imposto pelas medidas restritivas de controle da transmissão da Covid-19, trouxe alguns “efeitos colaterais” como o tédio e a apatia social. Esses males já existiam, porém, sofreram um aumento durante o período pandêmico.

O estudante de Letras, Luís Paulo Pereira de Souza, de 26 anos, é uma dessas pessoas que perceberam a dificuldade em reestabelecer os vínculos sociais. Para ele, que sempre optou por lugares calmos e sem muitas pessoas, a reconexão social tem sido ainda mais desafiadora. 

“Como sou uma pessoa introvertida e ansiosa, perdi muito contato com amigos próximos. Parece que quanto mais a gente se isola, mais quer ficar isolado. Essa retomada de contato social tem sido bem complicada, as relações enfraqueceram muito neste período. Sinto como se estivesse reaprendendo a interagir com as pessoas. Conhecer pessoas novas também tem sido bem difícil”, conta o estudante.

A paralisação de projetos de médio a longo prazo, a obrigatoriedade em aderir a essa nova maneira de viver, além da desconfiança em relação às autoridades que gerenciam o controle da pandemia, podem ser alguns motivos que causam essas mudanças comportamentais, como explica a psicóloga Ana Flávia de Oliveira Santos.

“As desilusões frente tantas polarizações que se formaram tendem a acirrar conflitos diante das diferenças, o que transmite a ideia de que precisamos nos relacionar entre iguais. Por isso que, para alguns, voltar a socializar pode não ser lá muito motivador. Pode, inclusive, ser perturbador daquilo que de alguma forma se quer apaziguado. Essas causas dizem respeito a certa hesitação e resistência a um retorno ao contato social, em um momento de flexibilizações sempre relativas”.

O ser humano pode ser afetado por qualquer situação que fuja do padrão que está acostumado a vivenciar. André Bordini, psicólogo e psicoterapeuta na abordagem existencial, destaca que esse aumento nos diagnósticos, além dos quadros de depressão,  transtornos ansiosos, fobia e compulsão, podem elevar a probabilidade de suicídios. O especialista também explica quais as diferenças entre tédio e apatia social.

“No contexto da atual pandemia, esses quadros se apresentam bastante comuns na percepção do senso comum da população. A apatia tem um caráter de inércia, paralisação, ausência de movimento e indiferença, elementos inclusive presentes em vários quadros psicopatológicos. Enquanto o tédio, se situa num campo mais próximo da repetição, da previsibilidade, da rotina dos movimentos e ações”, explica.

Também durante a pandemia, muitas pessoas que adoeceram fisicamente e mentalmente, morreram ou enfrentaram o luto de perder alguém próximo. De acordo com Bordini, este período é um chamado para um reposicionamento diante da vida e de escolhas feitas, é um momento de ressignificação.

“É impossível que isso não deixe marcas indeléveis na existência de todos. Que esse momento possa significar uma inédita abertura nos paradigmas da vida presente e futura, tanto particular quanto coletivamente. Fraternidade, compaixão, empatia e solidariedade são produtos naturais do impacto psicológico dos riscos que a ameaça a população em meio a este período”.

Para se “livrar” dessas mudanças de comportamento que podem ser prejudiciais, a especialista Ana Flávia recomenda que o momento seja utilizado como uma forma de estabelecer um encontro com si mesmo, e depois com as outras pessoas. 

"Esses são sintomas que falam não apenas de uma desconexão com o outro, mas conosco, do sentir. Em um momento com tantas experiências de grande vulnerabilidade e perdas de toda ordem, a vida careceria de sentido? Urge, pois, resgatar um sentido que faça laço, pois que a pandemia também insta a algum lugar. E este pode não ser externo. Mas interno, no âmago do qual, quem sabe, poderemos nos reencontrar. Primeiro conosco. Depois com o outro, tão diverso quanto desconhecido".

Os especialistas orientam que, aqueles que sentirem necessidade de ajuda devem buscar, sem nenhum medo ou preconceito. "Os serviços públicos ou privados de apoio à saúde mental, tem equipes de médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e enfermeiros, que estarão disponíveis para ouvir e ajudar no que for necessário, tanto psicológica quanto farmacologicamente", finaliza Bordini.
 

 


Imagem: Pixabay

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