Entenda o que é deepfake e quais são seus riscos

Entenda o que é deepfake e quais são seus riscos

População deve ser criteriosa na avaliação dos conteúdos que recebe e evitar compartilhar vídeos sobre os quais não tem plena confiança da fonte

Inicialmente, a técnica conhecida como deepfake era mais utilizada para a produção de vídeos humorísticos compartilhados nas redes sociais. Em 2022, ano eleitoral, esse tipo de conteúdo se transformou em uma verdadeira ferramenta de manipulação política.

 

O recurso vem sendo utilizado, também, para promover difamação moral. “Essa tecnologia, nas mãos erradas, pode causar muitos danos. O perigo abrange desde manobras políticas e corporativas, até a vingança sobre um relacionamento amoroso que não deu certo. Na era das fake news, a deepfake é uma ferramenta poderosa para disseminar desinformação”, declara o professor de Engenharia de Software, Luciano Albuquerque Lima Saraiva. Na tradução, a palavra vem da junção de dois termos: o deep learning, ou aprendizado profundo, um dos métodos da Inteligência Artificial (IA), e o fake, que significa falso.


Na prática, as deepfakes são vídeos criados por meio de técnicas de IA, com imagens e sons manipulados em um conteúdo multimídia de uma situação que nunca aconteceu. “O algoritmo é capaz de trocar rostos entre pessoas através de uma tecnologia de mapeamento facial”, explica o professor. Através de aplicativos específicos, qualquer pessoa pode produzir uma deepfake, porém não com tanta qualidade quanto os profissionais da área..

 

De acordo com a coordenadora do curso de Ciências da Computação da Faculdade Barão de Mauá, Eliza Bonfim, quando o responsável pela alteração tem conhecimento dos recursos, o resultado pode ser extremamente realista, gerando, inclusive, uma certa dificuldade por parte do público em identificar os vídeos alvos da deepfake.  “O mais importante para a população é evitar compartilhar vídeos sobre os quais não tem plena confiança da fonte, minimizando a propagação desse tipo de conteúdo”, indica.  


Na comunicação


Os meios de comunicação têm o papel de difundir as informações em sua forma mais simples, verdadeira e democrática para a população. A função de desmentir falsas notícias também é atribuída a este setor, mas, com o aumento das deepfakes, esse processo foi impactado, segundo a pesquisadora e docente em Comunicação, Patrícia Cristina de Lima.

 

“Agora, a comunicação vai precisar acrescentar um processo a mais dentro daquilo que ela já vinha fazendo, que é essa questão da verificação rigorosa das informações. A deepfake acrescenta uma camada de dificuldade na hora de fazer a avaliação desses fatos”, explica Patrícia. No Brasil, uma das referências na produção destes vídeos destinados ao humor é o jornalista, humorista e influenciador digital Bruno Sartori [Veja o vídeo ao final do texto] . “Ele tem o cuidado de deixar algumas falhas para que seja possível identificar que se trata de uma deepfake”, pontua. 


No entanto, existem situações em que a técnica é utilizada para ser imperceptível. Patrícia relembra o suposto caso contra o ex-governador de São Paulo João Dória, em 2018, quando estava concorrendo para o cargo, e foi divulgado um vídeo pornográfico com sua imagem. “Grupos de estudo chegaram a avaliar, mas ninguém chegou a uma conclusão. Dória deu uma entrevista afirmando que se tratava de uma deepfake, mas até hoje não existe uma certeza dado o nível de evolução tecnológica”, discorre a pesquisadora. 

 

É crime? 


Apesar de suas consequências, atualmente, na justiça brasileira, as tecnologias de inteligência artificial e deep learning não encontram tipificação legal como crime, já que podem ser utilizadas para a criação de vídeos inofensivos.

 

No entanto, de acordo com o presidente da comissão de Direito Digital, Internet e Tecnologia da OAB e cofundador do escritório Bonilha & Freitas Advogados, Alexandre Bonilha, a palavra deepfake é, geralmente, associada a situações ruins, ou seja, que oferecem risco às pessoas, grupos sociais e até mesmo à democracia, podendo ser estudado caso a caso para eventual tipificação jurídica.

 

“Enquanto a inteligência artificial se desenvolve na velocidade da lebre, a justiça, que tem origem na lei, segue na velocidade de uma tartaruga. Os processos normativos são morosos e, atualmente, não atendem aos anseios, necessidades e aplicabilidades ao operador do direito, sem falar na ausência – até o ano passado – de regramento do direito digital nas instituições de ensino superior”, declara. 


Para Bonilha, a desinformação prejudica a construção e o desenvolvimento da sociedade, enquanto a deepfake pode acarretar em falsas imputações de crime, intencionais manipulações de conteúdo estático ou em movimento. “Junto ao Poder Judiciário, a deepfake pode forjar provas judiciais, no sentido de constituí-las ou destituí-las, implicando na má administração da justiça”, afirma. Segundo ele, enquanto a inteligência artificial tem trazido importantes avanços produtivos, a deepfake, se não combatida e criticada – especialmente por perícias – tende a ganhar força e aumentar casos de ilícitos no país. 


Foto: Reprodução - Bruno Sartori

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