PROFESSOR: agente transformador

PROFESSOR: agente transformador

Daniela Brunelli Teada

Profa. Dra. Elaine Assolini

 

O profissional docente, além de dominar o saber científico, pode aderir a estratégias efetivas para mediar os processos de aprendizagem, considerando que irá trabalhar e lidar com seres humanos, estudantes cujas características são sempre únicas e singulares. Sendo assim, é fundamental que acumule conhecimentos teóricos e práticos que poderão instrumentalizá-lo, a fim de que possa auxiliar os estudantes pelos quais será responsável no desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais.

Nos cursos superiores de formação, somos confrontados com questões que dizem respeito ao tipo de profissional que desejamos ser e, especialmente na licenciatura, refletimos sobre qual o perfil de aluno desejamos formar. Esse aluno representa o futuro profissional e, para tal, é fundamental o desenvolvimento de competências técnicas, comportamentais e emocionais.

Os alunos dos cursos de licenciatura, que serão futuros professores, precisam ser estimulados a desenvolverem práticas significativas, que podem ser auxiliadas por projetos ou aulas exploradas por problemas do cotidiano. O professor precisa estar atento para que o aluno não reproduza conteúdos sem entender o motivo e a aplicação deles. Pela ressignificação, pode-se transformar a prática educativa, acreditando-se nos potenciais dos sujeitos singulares envolvidos nesse processo.

Ao se depararem com a experiência profissional e as novas metodologias, observarão que na relação professor-aluno haverá o mapeamento das dificuldades e daquilo que ainda não se sabe. Portanto, da dor de aprender vem o aprendizado, seja na sala de aula ou fora dela. 

Por meio de uma prática inspiradora previamente planejada e com um objetivo definido, os alunos serão estimulados ativamente. Ensinar para a vida contempla diferentes ações, para torná-los protagonistas do processo ensino-aprendizagem, aptos a resolver situações-problemas na sala, na sociedade e contribuir também nas futuras escolhas profissionais. “É preciso dar-lhes um destino sócio-histórico-cultural, ou pessoal. E, para além disso, é preciso transformar informações e conhecimento em saber, em saberes, em sabedoria” (ASSOLINI, 2010).

É preciso considerar que o ambiente escolar, muitas vezes, precisa se submeter às demandas do nosso sistema capitalista. Nesse contexto, cabe aos docentes e futuros docentes adotarem novas perspectivas, a fim de se reinventarem. O processo da formação de cidadãos críticos é um ato político e de humanização. Existe uma intenção do professor que caminha além dos conteúdos formais do currículo.  Sendo assim, "não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho” (FREIRE, 1996).

         Edgar Morin, exímio pensador francês, defende que não existem soluções simples, mas paradigmas a serem desconstruídos, para alcançarmos novas práticas transdiciplinares, e, para isso, serão necessárias ideias e saberes norteadores - ou seja, ensinar conforme a condição humana, dentro da ética do gênero humano -, nas quais o conhecimento faça sentido; esses e outros parâmetros compõem o pensamento dialético.

A nova prática educacional, para Edgar Morin, supera as visões fragmentadas, tendo como ponto de partida o entendimento da complexidade e da totalidade do universo, natural, individual e social, e as experiências pedagógicas vitoriosas e positivas encerram a ilusão de que se deve apenas dominar os saberes para unicamente transmiti-los a alunos passivos. O modelo tradicional, que prioriza a figura do professor como detentor do saber, e cuja função está restrita a apenas transmitir o conteúdo de maneira autoritária é desconstruído por Morin, Freire e Assolini.

Compartilhar o conhecimento, fazer adaptações e conexões, pressupondo um aluno ativo, que ocupa lugar importante, central no processo ensino-aprendizagem são os atuais desafios. No cenário da pandemia, a interdisciplinaridade conduz a um pensamento crítico que confere o aporte a descobertas e possibilidades, como, por exemplo, as que dizem respeito ao uso das tecnologias e à exploração da relação com o cotidiano. Todos os dias, alunos e professores estão aprendendo, e, no atual contexto, em que as tecnologias estão fortemente presentes, podemos ensinar e aprender uns com os outros. Professores que ainda se agarram às metodologias tradicionais, que entendem que o aluno nada tem a oferecer, poderão deixar de vivenciar experiências interessantes, ligadas às tecnologias, o que repercutirá negativamente no processo de ensino e de aprendizagem.

Neste atual cenário, não cabem mais, portanto, autoritarismo, voz única do professor, cópia, ditado, reproduções sem sentido, mandos e desmandos sem que o estudante saiba os motivos, mas, sim, situações de ensino e de aprendizagem em que o diálogo, a conversa, a interação, o aprender em conjunto, as trocas e oportunidades efetivas ocupam lugar nobre.  “Pensar a educação de forma complexa é acreditar que venha a ser um processo que contribua para a formação do sujeito cidadão” (RIBEIRO, 2018, p.47) e faça sentido.

A escola e o professor contemporâneo precisam estar atentos, portanto, às suas possibilidades de ajudarem os estudantes a construírem  novos projetos de vida, ocupando o lugar de protagonistas de sua própria história, transformando, assim, o aluno em ser ativo, crítico, pensante, cidadão capaz de analisar criteriosamente o mundo à sua volta, o que contribuirá para que, no futuro, possa ser um profissional responsável, competente e humano. Nessa linha de pensamento, destacamos o que nos ensina Perrenoud (2002), ou seja, as competências procuradas evidenciam a complexidade de ferramentas nas quais somente os conhecimentos sobre técnicas não caracterizam o “bom profissional”. Devem-se atentar a outras habilidades práticas, desenvolvidas nas experiências, no contato com o outro, na troca, no desenvolvimento do autoconhecimento e do gerenciamento das emoções, inclusive a capacidade de aprender, reaprender e aprender a aprender.

        

REFERÊNCIAS

ASSOLINI, Elaine. A dor de aprender. BLOG EDUCAÇÃO ESCOLAR_REVIDE: 2010. Disponível em      <https://www.revide.com.br/blog/elaine-assolini/dor-de-aprender/>. Acesso em 30 de abr. de 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2016. Disponível em: < https://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio>. Acesso em: 1 de maio de 2020.

PERRENOUD, P. A formação dos professores no século XXI. In Perrenoud, P., Gather Thurler, M., De Macedo, L., Machado, N.J. e Allessandrini, C.D. Porto Alegre: Artmed Editora, pp. 11-33 [2002_09].

RIBEIRO, Flávia Nascimento. Edgar Morin. O pensamento complexo e a Educação. Pró discente, Rio de Janeiro, v.17, n.2, p.40-50, jul./dez.2018.

 

 

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