Duas lições de Isaac Asimov

Duas lições de Isaac Asimov

O sumo sacerdote ou mestre da ficção científica

 

Em 18 de setembro de 1989 Isaac Asimov era entrevistado no The Dick Cavett Show, cujo apresentador que dá nome ao programa o apresentou como “o sumo sacerdote ou mestre da ficção científica”. Talvez você o conheça por ser o autor do livro Eu, Robô, do qual já falei no artigo O limite da humanidade. Mas, sem dúvida, se você assistiu algum filme com robôs e inteligência artificial já foi apresentado às três leis da robótica, descritas no livro mencionado e que revolucionaram a ficção sobre o tema. Ao assistir a entrevista, além de tudo o que se pode aprender com as obras de Asimov, duas lições me chamaram a atenção: sobre talento e pessoas.

A entrevista divulgava o lançamento do livro Chronology of Science and Discovery, o 431º livro escrito pelo autor. Não houve erro de digitação, eram mesmo 431 livros escritos e publicados na época, sendo o total de cerca de 500 obras até seu falecimento em 1992, aos 72 anos de idade. O entrevistador então pergunta a Asimov se ele gostaria de focar seu conhecimento e interesse em algum ramo específico da ciência no qual daria uma contribuição importante, citando como referência Jonas Edward Salk, um médico, virologista e epidemiologista norte-americano, mais conhecido como o inventor da primeira vacina antipólio. O ponto que chamou a atenção sobre o talento foi a resposta de Asimov, assim: “eu não sei se eu teria o talento para isso, me parece que eu tenho uma mente de gafanhoto¹ e talvez se eu tentar ficar em um único lugar eu ficaria entediado ou provaria que não tenho capacidade para isso, quem sabe, eu acho que estou mais seguro fazendo o que descobri que posso fazer razoavelmente bem que é um pouco de tudo”. Fica para nós uma questão: você já descobriu o que faz razoavelmente bem?

A próxima pergunta traz uma lição singela, mas muito importante, sobre as pessoas. Asimov conta uma história na qual estava em um cruzeiro com Carl Sagan e Marvin Minsky quando o primeiro lhe perguntou como era a sensação de ser a terceira pessoa mais brilhante da sala. O entrevistador interrompe a narrativa para perguntar se Carl Sagan sabia que o próprio Asimov os considerava mais inteligentes. A resposta é que nunca foi um segredo que aqueles dois eram considerados mais inteligentes por ele próprio, sendo que, inclusive, Asimov respondeu a brincadeira de forma sagaz, dizendo “o terceiro mais brilhante, talvez, mas eu não disse quem era o mais talentoso”.

Ainda sobre assunto o entrevistador pergunta se Carl Sagan e Marvin Minsky não foram maldosos de alguma forma ao falar dos livros ou zombar de alguma forma de Asimov, o que o escritor prontamente negou, dizendo que ambos são pessoas muito legais. E aqui vem a lição sobre pessoas que me chamou a atenção: logo após afirmar que Carl Sagan e Marvin Minsky são pessoa muito legais Asimov pergunta: “você não acha que vou considerar um rato² mais inteligente do que eu?” A reflexão, então, é essa: que pessoa irritante você considera mais inteligente ou melhor do que você? Talvez o chefe, um professor ou qualquer um que detenha uma posição social melhor do que a sua. Lembre-se, qualquer um que te trata mal e se acha superior não é melhor do que você (considerando que você seja uma pessoa gentil).

Eu aprendi ainda muito mais nessa entrevista, por isso deixo o link aqui. Isaac Asimov escreveu o já mencionado Eu, Robô e também Fundação, com um total de sete livros que receberam uma recente adaptação como uma série da Apple TV. Vale a pena conferir as obras de Isaac Asimov, um gênio da ficção científica.

 

Notas:

¹significa que seu foco de atenção salta de forma imprevisível de um assunto para outro aleatoriamente;

²“rato” foi usado no sentido de insulto, como alguém irritante.

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