Tempo de Colheita
Aos 61 anos, Cidinha sente ter a mesma energia dos 15

Tempo de Colheita

É como a administradora hospitalar Cidinha Féres classifica sua atual fase de vida, na qual só faz o que gosta, com as pessoas que ama; resultados de uma semeadura consciente e cultivo de anos de bons

Imagine essa rotina de atividades físicas: musculação todas as segundas, quartas e sextas; às terças, ginástica funcional e LPF (senha em inglês para Fitness de Baixa Pressão); às quartas, também beach tennis; às quintas, pilates, treino de tiro na esteira e tênis de quadra; aos domingos, ao menos 10 km de corrida de rua. Descanso aos sábados e, para silenciar a mente, um mínimo de 15 minutos de mindfullness todos os dias. Poderia ser a de um esportista de alto rendimento – e se pensarmos bem, até é o caso, mas de um outro tipo de rendimento. Para a administradora hospitalar Aparecida Féres ela rende corpo são, mente forte, resistência, disposição e uma autoestima à prova de tudo. Já o bom humor veio com ela, “de fábrica”.

 

Cidinha, como é mais conhecida, diz estar na fase de “colheita” da vida que construiu ao longo de 61 anos de semeadura – da carreira, da família, entre outros “bons frutos” – e cultivo de hábitos saudáveis. “A semeadura foi longa. Trabalhei 42 anos na área de saúde, 36 deles como administradora hospitalar. Imagine uma mulher, 36 anos atrás, fazendo gestão de hospital, com a maioria dos profissionais médicos e homens, onde as portas nunca fecham e qualquer falha custa muito caro. Coincidiu com a criação de meus filhos pequenos e tudo o mais que uma mulher tem que administrar. Para nós a jornada é tripla mesmo”, comenta.

 

O que fez diferença, segundo Cidinha: “nunca descuidei de mim, nem do meu tempo, da minha saúde mental e da minha saúde física, porque eu sabia que, para chegar ao final da jornada e realmente ter uma boa colheita, tinha que ter saúde. Então, cuidei muito disso a vida inteira”, declara.

 

Casou-se duas vezes. No primeiro casamento, que durou 20 anos, teve Diego, hoje com 41 anos, que cursa Gestão em Saúde; e Pedro, 31, psiquiatra. No segundo, com o médico Omar Féres, que já dura 16 anos, ganhou os enteados Arhur, 20 anos, e Omarzinho, 33 – ambos médicos. Cercada de homens também em casa, passou a entender como funciona o masculino, que tem “um papo muito reto”. “Também aprendi a ser muito direta, então foi simples [o convívio]. Eu tinha regras assim: dentro do seu quarto eu não mexo, mas do quarto para fora é área comum, então são minhas regras; pode tudo, mas não sem pedir; ninguém levanta a voz – se você tiver um bom argumento, sente-se e converse, senão, engula. São regras de civilidade que funcionaram muito bem. Todos moraram comigo até se formarem e tocarem a vida deles”, conta Cidinha, que agora tem uma neta de 12 anos, Valentina. “Está sendo um grande aprendizado para mim, porque nunca convivi com menina. É diferente. Está sendo um desafio e um prazer?”, diz.

 

Quando parou de trabalhar, em 2021, após a venda do último hospital que administrou, Cidinha passou a tomar conta apenas dos seus negócios e dos do marido, o que não lhe exigia mais jornadas presenciais. Decidiu, porém, que continuaria acordando no mesmo horário de sempre, entre 5h e 6h da manhã, mas para fazer só o que gosta – além das atividades físicas, seus hobbies são leitura, reuniões em família e viagens... muitas! Ela e o marido fazem uma grande por ano e várias outras menores. Em 2024, a maior foi de 22 dias, em que percorreram Laos, Camboja e Vietnã de bicicleta. Antes, já haviam feito turismo a pé, caminhando entre Cuzco e Macchi Picchu, no Peru. “Quanto mais a viagem me proporcionar sair da minha zona de conforto e mostrar outra forma de viver e encarar a vida, mais estimulante fica para mim, porque tenho mais a aprender”, declara.

 

O destino da viagem mais longa deste ano já está decidido: assistir ao campeonato de tênis de Wimbledon (França) e ao US Open (EUA). “Já fomos a Roland Garros e daqui dois anos será o Australian Open”, planeja.

 

Família

Sobre fazer 60 anos, não sentiu nenhuma diferença marcante em sua vida, em seu físico ou em seu psicológico. “O difícil foi quando entrei no climatério, dos 48 aos 50 anos. Não sabia o que estava acontecendo comigo, pois estava muito estranha, mas me reencontrei graças à reposição hormonal. Toda mulher deveria ir a um bom endócrino para lidar com isso, porque se você estiver com seus hormônios desregulados, não tem milagre que faça você acordar 6 horas da manhã bem-humorada. Não dá para ganhar disso!”, avisa.

 

Sente que a maturidade lhe trouxe mais coisas boas do que ruins. Por exemplo: “não deixo de sair se não tiver aquela roupa que queria; se alguém me faz alguma coisa, viro meu disco rapidamente, nem ligo; não sofro mais por bobagem ou mais do que preciso. São tão poucas as coisas que valem a pena de verdade!”, afirma.

 

Aos 61, Cidinha se sente com a mesma energia de quando tinha 15 anos e, como boa ariana, não pretende abrir mão de viver intensamente em qualquer idade. “Se vou morrer ou viver é com Deus. Vou fazer minha parte. Construí essa vida assim. Tem dias que está mais difícil, como para todo mundo, mas a gente tem que perseverar. O tempo não para”, conclui.


Lucas Nunes

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