Acusados na Operação Têmis temiam cair no próprio golpe
Delação de advogado envolvido na Operação Têmis revela venda de informações sigilosas de pessoas multadas pela Transerp

Acusados na Operação Têmis temiam cair no próprio golpe

Delação premiada foi assinada junto aos promotores do Gaeco do Ministério Público

A delação premiada de um dos advogados envolvidos na Operação Têmis revelou detalhes dos golpes aplicados em Ribeirão Preto. Inclusive um esquema de compra de informação sigilosa da Empresa de Trânsito e Transporte Urbano (Transerp).

Apesar de bem arquitetado, os acusados tinham medo de serem vítimas da própria armação. A informação foi revelada na delação premiada do advogado Ângelo Feijó Bazo junto aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP) de São Paulo, na quinta-feira, 21.

No depoimento, Bazo explicou que o escritório de advocacia Lodoli, Caropreso, Bazo & Vida, recebia dados sigilosos de dentro da Transerp, vazados por um ex-funcionário da empresa. Com isso, a empresa recebia informações sobre multas aplicadas e dados pessoais dos motoristas que as receberam.

Em posse desse material, os advogados moviam ações questionando as multas aplicadas pelo município, sem que os donos dos documentos soubessem. Com isso, nos casos em que os advogados venciam a apelação, a justiça determinava o pagamento dos honorários de sucumbência.

Esses honorários são direcionados ao pagamento dos custos que o cliente, supostamente, teve com o advogado. Como o escritório recebia semanalmente, segundo exposto na delação, levas de documentação vazada, o negócio se tornou lucrativo.

Feitiço contra o feiticeiro 

Na delação, Bazo explicou que um ex-funcionário comissionado da Transerp, indicado pela gestão Dárcy Vera, era o responsável pelo vazamento das informações. Semanalmente ele levava os documentos ao escritório do delator.

Contudo, quando o funcionário foi exonerado da empresa de transporte público, os advogados temiam o que poderia acontecer. Segundo Bazo, o advogado Gustavo Caropreso tinha receio do comissionado pedir emprego no escritório de advocacia.

“E eu falei: mas tem algum problema dele trabalhar no escritório? E o Gustavo mencionou que se ele vendia essa documentação diretamente da Transerp, se ele que conseguia arrumar todas essa documentação diretamente lá dentro, quem diria que não ia vender documentos do escritório para outra pessoa?”, declarou Bazo ao MP.

Por meio de nota, a Transerp afirma que  foi surpreendida com a informação sobre o repasse de dados de multas de trânsito. Esclarece que não recebeu nenhum dado oficial da delação, entretanto, tão logo consiga a íntegra do documento, tomará as medidas administrativas e criminais cabíveis.

"Ademais, segundo dados recebidos através da imprensa na data de hoje, trata-se de funcionário comissionado da gestão anterior e que foi exonerado há mais de dois anos. Por fim, a Transerp repudia veementemente o acesso irregular de informações e coloca-se à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos.", declarou a empresa.

Relembre o caso

A Operação Têmis foi deflagrada no dia 11 de janeiro de 2018, em Ribeirão Preto. A investigação apura golpes aplicados contra pessoas que possuíam restituições de valores perdidos em poupanças com a implementação do Plano Verão durante o governo do ex-presidente José Sarney. 

O escritório de advocacia colocava os processos em segredo de justiça para que as vítimas não conseguissem consultá-los. Quando eles ganhavam a causa, o dinheiro era repassado diretamente ao escritório e repartido entre as empresas envolvidas.  


Foto: Gustavo Ribeiro

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