Em média, uma pessoa desaparece a cada dia em Ribeirão Preto
Desde o início de 2017, foram registrados mais de 370 casos de desaparecidos, conforme registros em boletins de ocorrência
Em média, uma pessoa desapareceu a cada dia em Ribeirão Preto desde o início de 2017, segundo registros de Boletins de Ocorrência nas delegacias do município. Os casos ocorrem em todos os cantos da cidade e afetam mais homens (220 ocorrências registradas), do que mulheres (155). Para os investigadores, os desaparecimentos são bem complexos para serem resolvidos, pois diversas ponderações devem ser levantadas.
O Portal Revide conseguiu, por meio da Lei de Acesso à Informação, os registros de desaparecimentos de pessoas em Ribeirão Preto desde o início de 2017 até o mês de fevereiro de 2018. Ao todo, são 375 casos registrados no período, em diversos cantos da cidade – ao todo, foram registradas ocorrências em 95 bairros diferentes.
Os bairros em que foram registradas mais ocorrências de desaparecimentos foram o Ipiranga (19 registros), Campos Elíseos (18 casos), Centro (17 casos) e Vila Tibério (13 ocorrências). Na maioria das vezes, a última vez que a pessoa desaparecida foi vista foi dentro da própria residência – cerca de 64% dos casos registrados.
Além disso, os dados também mostram que 52% dos desaparecimentos de mulheres são de jovens, entre 13 e 18 anos. O delegado Cláudio Salles, responsável pelo Setor de Homicídios e Pessoas Desaparecidas da Delegacia de Investigações Gerais de Ribeirão Preto (DIG), aponta que esses casos são “mais complicados”, porque, de acordo com ele, muitos são relacionados a jovens que tiveram problemas de relacionamento com as famílias e, por isso, saíram de casa.
“Muitos jovens passam por fases difíceis e acabam fugindo de casa para ir viver com um namorado, ou são mulheres que saem de casa por violência doméstica e o marido aparece registrando o BO. Notamos que, muitas vezes, esses casos se resolvem por si só, com situações em que a pessoa volta voluntariamente para casa”, explica o delegado.
Ele ainda aponta que a investigação sobre casos de desaparecimento são muito complexas, porque muitas vezes a pessoa que registra a ocorrência não informa tudo o que pode ter acontecido.
“Só o que está no BO não é razoável para se fazer uma investigação, por isso, colocamos um investigador para apurar casos antigos de desaparecimento, problemas familiares, entre outros”, afirma Salles, que lembra que muitos casos envolvendo mulheres são referentes a esposas que saíram de casa após sofrer algum tipo de violência doméstica.
Caso clássico
O “caso clássico” de pessoas desaparecidas, explica o delegado, ocorre quando se trata de crianças, pessoas com doenças mentais e idosos.
Desde o início de 2017, foram registradas nove ocorrências de desaparecimento de crianças entre 0 e 12 anos de idade e 11 de pessoas com mais de 60 anos de idade. Os registros não apontam possíveis enfermidades das pessoas desaparecidas.
Salles conta que, nestas situações, o trabalho tem sido exitoso, embora não fale em números. “Poucos são os casos clássicos de desaparecimento. Temos tido bastante sorte de solucionar esses casos”, embora ele afirme que ocorrem dificuldades nestas situações, pois não existe um cadastro nacional de pessoas desaparecidas.
“Às vezes, a ocorrência foi registrada em Ribeirão Preto e a pessoa aparece em Minas Gerais, e a polícia daqui não tem acesso a essa informação se não for comunicada pela família”, relata o delegado, que também lembra que algumas ocorrências podem terminar em averiguação de homicídio.
Saúde pública
Quando o desaparecido é usuário de drogas, com vários BO's registrados anteriormente por desaparecimento, o caso pode ser tratado como caso de saúde pública, porque, muitas vezes, a pessoa saiu de casa motivada pelo vício em bebidas alcoólicas ou drogas. “Isso é uma questão de saúde pública que tem que ser resolvida, mesmo assim, empenhamos policiais nestes casos, porque temos de aplicar as investigações da melhor forma possível”, conclui.
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