
Entidades querem preservar o Lar Santana
Fechado desde o final do ano passado, prédio pode ter várias destinações, entre elas um centro de memória da resistência ao Regime Militar em Ribeirão Preto
Um abaixo-assinado pela preservação da memória do Lar Santana, em Ribeirão Preto, coletou assinaturas que deverão ajudar na negociação pela manutenção do prédio e sua futura destinação. O Lar, que atendeu crianças carentes por 96 anos fechou suas portas em dezembro do ano passado. A Câmara de Ribeirão Preto até aprovou a lei 13432/15 que qualifica o local como patrimônio cultural, histórico e arquitetônico do município.
A iniciativa do abaixo-assinado partiu da sociedade civil, por meio da Associação de Moradores da Vila Tibério, Associação Amigos do Arquivo Público e membros do Instituto de Cidades Criativas e Identidades Culturais de Ribeirão Preto.
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Lar Santana fecha as portas depois de 96 anos
O Lar justificou o encerramento das atividades em função da idade avançada das irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição (FIC), que mantém o local, além da necessidade de reformas estruturais do prédio, e o atendimento de adequações às exigências de acessibilidade do Corpo de Bombeiros.
O documento com o pedido de assinaturas também reivindica que o prédio seja incorporado aos bens patrimoniais da cidade, que já está sendo negociado entre a prefeitura e a FIC.
O edifício está tombado provisoriamente pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac), e a intenção dos idealizadores da manifestação é para que o conselho tombe definitivamente o Lar Santana.
“O que interessa é a memória do edifício. O histórico político da cidade durante a ditadura, que envolveu a madre Maurina”, diz a historiadora do Arquivo Público, Sandra Firmino Abdala. A madre Maurina Borges Silveira, que dirigiu o Lar no período da ditadura militar, foi presa e exilada por ceder um espaço no prédio a um grupo de oposição ao regime.
Utilização do espaço
O abaixo-assinado também sugere que o prédio não fique parado, e que tenha uma ocupação. Entre as sugestões está a transferência do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto para o local, que hoje está alocado em um imóvel no Jardim Paulista.
“Uma das coisas que pleiteamos é transferência, mas isso é um plano B, já que perdemos a Cianê. É apenas uma sugestão, que partiu dos vereadores”, completa a historiadora.
Outra possibilidade para manter o Lar Santana em funcionamento seria a criação de um Centro de Memória da Madre Maurina, que foi presa e torturada sem direito a julgamento pelos órgãos de repressão da ditadura civil-militar (1964-85).
Veja o texto do abaixo-assinado
“Nós, abaixo-assinados – Associação de Moradores do Bairro da Vila Tibério, Associação Amigos do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, Membros do IPCCIC (Instituto de Cidades Criativas e Identidades Culturais e Munícipes de Ribeirão Preto) –, manifestamos preocupação com o destino que será dado ao imóvel que abriga o Lar Santana, localizado na Rua Conselheiro Dantas, nº 984, considerado Patrimônio Cultural, Histórico e Arquitetônico do Município de Ribeirão Preto pela Lei 13432 de 22/01/2015 e tombado provisoriamente pelo CONPPAC, Processo n° 02 2014 0527199 em 04/02/15. Nossa preocupação se justifica pelo conhecimento que tivemos de tratativas realizadas entre a Prefeitura Municipal, a Congregação Franciscana da Imaculada Conceição e empresários que teriam feito uma proposta de compra do Lar Santana, tratativas estas que envolveriam a permuta do referido imóvel com outro pertencente à prefeitura. Manifestamos o desejo da comunidade ribeirãopretana de garantir, de fato, o Lar Santana como Patrimônio Cultural, Histórico e Arquitetônico de nosso município, e, para que isso se concretize, é fundamental que o imóvel mencionado seja incorporado aos bens patrimoniais da cidade de Ribeirão Preto. Manifestamos também o desejo de obter maiores informações acerca das tratativas que estão sendo realizadas pelas partes acima citadas, bem como nosso apoio às medidas que assegurem o tombamento definitivo do imóvel em questão e a preservação do Lar. Exprimimos, ainda, nosso apoio à sugestão da Câmara Municipal de Ribeirão Preto de que, após os trâmites legais de tombamento definitivo, o local possa ser sede de futuras instalações do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto e do Arquivo do Legislativo e Executivo Municipal. A instalação dessas instituições – que permaneceriam diferenciadas – em um mesmo espaço físico otimizariam recursos humanos com equipe adequada e qualificada, possibilitando gerar economia e sustentabilidade no processo de conservação dos acervos documentais públicos e municipais. Enfatizamos que o tombamento provisório sugerido pelo CONPPAC atendeu a uma demanda da sociedade civil de Ribeirão Preto, preocupada com a possível destruição de um imóvel que é símbolo de luta contra a ditadura militar em nossa cidade, um importante local de memória e resistência aos fatos verificados especificamente em 1969, quando ocorreu injustamente a prisão de Madre Maurina, irmã Franciscana da Imaculada Conceição, acusada de pertencer a um grupo guerrilheiro de Ribeirão Preto (FALN – Forças Armadas de Libertação Nacional)”.
Revide On-line
Fotos: Julio Sian/Arquivo Revide