Especialista avalia causas do desabamento da Gruta Duas Bocas, em Altinópolis
Foto da entrada da Gruta Itambé (a 1km de distância do local do acidente). Tirada pelo professor Cláudio Santos em 2013

Especialista avalia causas do desabamento da Gruta Duas Bocas, em Altinópolis

Segundo o professor Cláudio Santos, mestre em geotecnia, chuvas acima da média nos últimos dias podem ter contribuído para desabamento

O desabamento do teto da Gruta Duas Bocas, local onde nove bombeiros morreram nesse último domingo, 31, em Altinópolis, Região Metropolitana de Ribeirão Preto, pode ter sido causado pelas chuvas acima da média que ocorreram em outubro. É o que explica o professor Cláudio Santos, mestre em geotecnia.

“Dentre os diversos agentes causadores de desabamentos, é bastante provável que o desabamento tenha sido ocasionado pelas chuvas intensas, acima da média, no mês de outubro. A água percolando de forma mais intensa nos vazios da rocha pode ter fragilizado ainda mais o maciço rochoso até um dado momento em que o teto da gruta não possuía mais resistência para se manter estável”, diz o especialista.

Segundo Santos, a Gruta Duas Bocas é formada por arenito, rochas sedimentares estruturadas em camadas pela acumulação de grãos de areia ao longo de milhões de anos. O especialista diz que a resistência desse tipo de rocha depende diretamente de como ela foi formada e do material dá liga aos grãos de areia, que pode variar de acordo com o ambiente e clima em que elas foram formadas. 

“Em resumo, a resistência desse tipo de rocha pode ser bastante heterogênea, o que pode originar regiões de fraqueza dentro do maciço rochoso. Além disso, a água que naturalmente percola dentro dos vazios desses arenitos pode ir aos poucos carregando os grãos de areia formando vazios cada vez maiores nestas rochas, este inclusive é o processo de formação da Gruta Duas Bocas”, comenta Santos.

O arenito, de acordo com o professor, são característicos da região de Altinópolis. Ele esclarece que eles são pertencentes a formação Botucatu, que é a mesma da zona Leste de Ribeirão Preto. “Ambas as formações são Arenitos formados em antigos desertos e são bastante comuns na região de Altinópolis”.

Apesar de não ser possível prever o exato momento deste tipo de acidente, a geotecnia pode auxiliar na prevenção de acidentes como esse, apontando para zonas de risco. “A geotecnia descreve um movimento de massa como um evento ocasionado por um gatilho atuando sobre características que fragilizam o maciço rochoso ou o solo. Havia no local, tanto fatores predisponente como, arenitos formados em camadas e com resistência heterogênea, quanto agentes deflagradores, no caso, as chuvas intensa nos dias anteriores. O que indicavam claramente que o risco de ocorrência de desabamentos era bastante elevado na ocasião do acidente”, afirma.

Socorristas precisaram usar escoras para evitar novos desabamentos

Acidentes comuns

Segundo Santos, esses desabamentos e as quedas de blocos de arenito são bastantes comuns nas grutas da região, inclusive, ele afirma que há sinalização preventiva instalada alertando aos visitantes acerca dos riscos de quedas de blocos na Gruta de Itambé, que é próxima ao local do acidente.

Dificuldade nos resgates

O local da Gruta Duas Bocas é de difícil acesso para os veículos de resgate. As equipes de resgate utilizaram escoras para evitar novos desmoronamentos.

Desabamentos como este sempre são dificultosos para realização de resgates. “Um desabamento de rocha em cavernas, independentemente do tipo de rocha, sempre é uma situação de difícil busca e resgate, inicialmente por não ser possível definir a localização exata dos soterrados que podem estar sob o material desabado ou isolados em alguma câmara, além disto o desabamento de grandes blocos de rocha pode dificultar a remoção manual do material complicando assim o acesso e as buscas”, diz o especialista.

Treinamento

O acidente na Gruta Duas Bocas, que fica em uma propriedade particular, ocorreu durante o treinamento de 26 Bombeiros Civis.

Para Santos, cabe aos responsáveis julgarem os riscos adicionais de treinamentos em situações desfavoráveis a serem desenvolvidos em regiões de risco. “Obviamente os responsáveis pelo treinamento também devem obedecer às instruções da defesa civil, dos bombeiros militares e instruções de segurança determinadas pela prefeitura municipal para acesso e uso destas áreas”, conclui o especialista.

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Fotos: Arquivo Pessoal e divulgação

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