Policiais impedem protesto durante jogo no Estádio Santa Cruz

Policiais impedem protesto durante jogo no Estádio Santa Cruz

Um torcedor ficou ferido após a ação

Policiais Militares impediram um protesto realizado pela torcida organizada "Botafogo Antifascista", durante a partida entre Botafogo e Palmeiras, nesta quinta-feira, 19, no Estádio Santa Cruz em Ribeirão Preto.

 

Os torcedores estavam com faixas e entoavam gritos de: "sem anistia". Em alusão a crimes cometidos durante atos antidemocráticos e possíveis irregularidades do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

 

O Portal Revide entrou contato com a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, em nota, inforamram que uma faixa que estava sendo exibida pela torcida organizada do Botafogo estava causando "animosidade e grande risco de enfrentamento entre outros torcedores que não concordavam com seus dizeres". Confira o posicionamento completo abaixo.

 

Segundo relatos, os policiais militares foram até os torcedores que realizavam o protesto com a intenção de que ele fosse cessado. Durante as negociações, o torcedor José Augusto ficou ferido. Vídeos compartilhados nas redes sociais da organizada atribuem à PM a agressão. "Eu estava desarmado e dialogando", declarou Augusto enquanto exibia os ferimentos. Veja o vídeo no final da matéria.

 

"A PM, no entanto, já  disposta a truculência e autoritarismo, localizaram a faixa aos pés de um torcedor, a retiraram de sua posse sem que houvesse qualquer resistência e, sem demora, decidiram detê-lo", declarou a Botafogo Antifascista em nota.


A organizada conta que os torcedores autuados estavam sendo encaminhados para fora do estádio, quando os atos de violência teriam começado. "Foi nesse momento que –  importante ressaltar: ainda dentro do estádio – membros da torcida foram surpreendidos com violência policial em alto grau de perversidade", argumentam.

 

O advogado Juarez Alves De Lima Júnior acompanhava a partida e se prontificou a representar Augusto. Todavia, segundo ele, lhe foi negado esse direito.

 

"Fui preterido da minha função naquele momento, mesmo tendo exibido minha carteira da OAB. Uma violação flagrante a minha prerrogativa de atuação [...]. Não é essa a Polícia Militar que almejamos para nos garantir segurança e tranquilidade. Ao contrário, o que estamos observando é uma politização da PM e isso é inaceitável", acrescentou ", afirmou o advogado.

 

"A nossa preocupação de momento é com o pronto reestabelecimento do nosso amigo José Augusto quanto às agressões sofridas na noite de ontem sem qualquer justificativa da Polícia Militar. Lamentamos totalmente que essa retaliação tenha ocorrida de forma tão abrupta contrapondo-se ao que se verificou em matéria de conivência, proteção e empatia observada àqueles que estavam flagrantemente cometendo crimes na 5ªCSM objetivando um golpe de estado", declarou.

 

Na nota,  organizada criticou a ação da PM. "Os integrantes das polícias paulistas passam por um processo de alienação em sua formação, que resulta nessa cegueira quanto às demandas do povo. Aqueles que nos atacam com ódio com seu cacetete, na verdade, descarregam em nós sua frustação pessoal com a própria vida, descarregam sua raiva contra um imaginário 'diabo comunista', no momento em que 'descarregam' sua frustação se tornam significativos para o sistema. Sendo considerados 'heróis' pelo próprio grupo", escreveram.

 

O torcedor e o advogado foram conduzidos ao 1º DP de Polícia no Centro de Ribeirão Preto. Ele foi ouvido e liberado ainda na quinta-feira. 

 

Polícia Militar

 

Em nota, a Polícia Militar declarou que  durante a partida, uma equipe policial foi acionada no Posto de Comando informando que uma faixa que estava sendo exibida pela torcida organizada do Botafogo estava causando "animosidade e grande risco de enfrentamento entre outros torcedores que não concordavam com seus dizeres".

 

Com isso, a equipe policial se deslocou até o local, contudo, segundo os policiais, foi  "hostilizada pelos torcedores que a portavam, ocorrendo resistência e desobediência por parte de alguns torcedores mais exaltados".

 

"Dessa forma foi necessário o uso de força física moderada a fim de promover segurança aos participantes do evento e aos policiais. Cabe-nos esclarecer que a mesma faixa havia sido impedida de entrar anteriormente, tendo-se por base o Estatuto do Torcedor e outros dispositivos legais estabelecidos com o objetivo de fomentar a paz nos estádios, no momento em que foi identificada ainda durante a revista policial. O material entrou no evento de forma clandestina e não identificada", declarou a Polícia Militar.

 

Segundo a PM, os torcedores devem solicitar antecipadamente à realização evento, a entrada de faixas em eventos esportivos, com o intuito de que sejam avaliadas quanto à capacidade de produzir efeitos que conduzam à "quebra da ordem publica".

 

"Destacamos que a missão da Polícia Militar do Estado de São Paulo é proteger as pessoas, fazer cumprir as leis, combater a criminalidade e preservar a ordem pública, sempre contando com a colaboração, parceria e participação da comunidade, para a alcançar a excelência na prestação dos serviços de Segurança Pública ao Cidadão Paulista", concluiu.

 

Protestos em estádios

 

De acordo com o Regulamento Geral de Competições da Federação Paulista de Futebol, são vetados em estádios os atos contrários à disciplina por parte dos componentes dos clubes ou de suas torcidas, em razão de manifestações atinentes a raça, cor, religião, etnia, origem, orientação sexual ou identidade de gênero.

 

Contudo, existem diferentes regras, em diferentes esferas no futebol, tratando do assunto mas, nem todas, são claras. Em seu Código de Conduta, a Fifa fala em "neutralidade", o que inibe mensagens ou slogans em qualquer idioma de teor político, religioso ou pessoal.

 

A lei federal nº 10.671, conhecida como "Estatuto do Torcedor", também deixa margem para interpretações. O texto fala que o torcedor não pode não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos; além de não incitar ou práticar atos de violência. As manifestações permitidas pela lei apontam para "manifestações festivais e amigáveis". 

 

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Foto: Luan Porto

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