Por uma educação respeitosa, positiva e consciente
A médica Mariana Paes Leme Ferriani com o marido, Edurado Petrella, e os filhos: Diego e Maria

Por uma educação respeitosa, positiva e consciente

Pais ribeirãopretanos compartilham a experiência de criar filhos sob novo modelo de educação baseado no respeito à criança como indivíduo, com empatia e sem castigos físicos

“Não é só mais uma coisa sobre maternidade, mas sobre mudar o mundo. O mundo é assim porque muitas crianças nunca foram tratadas com o devido respeito”.

 

É preciso dizer que, quando esta repórter ouviu o enunciado acima da médica pediatra e mãe respeitosa Mariana Paes Leme Ferriani, achou um pouco idealista demais. Estava iniciando a apuração sobre esse movimento parental relativamente novo chamado Educação Respeitosa ou Positiva, derivada da abordagem educacional conhecida como Disciplina Positiva, por sua vez inspirada na corrente da Psicologia Positiva [leia o box 'Tudo começou com a Psicologia Positiva' ao final deste texto]. Porém, conforme estudava e entrevistava outros pais que a praticam em Ribeirão Preto, a reflexão de Mariana foi fazendo cada vez mais sentido. É que não se trata apenas de mais uma teoria sobre criação de filhos, mas de pais em pleno esforço de reforma interior para conseguirem educar suas crianças diferente de como foram criados.

O movimento de Educação Respeitosa busca ensinar e estabelecer limites para as crianças de forma empática e sem castigos físicos ou psicológicos, respeitando seus desenvolvimentos naturais em vários aspectos – biológico, cerebral, psicológico e social. O objetivo final é formar indivíduos otimistas e resilientes, respeitosos consigo e com os outros, emocionalmente equilibrados, que naturalmente escolham o diálogo em vez do confronto em situações de conflitos e repudiem qualquer tipo de violência. Se imaginarmos um futuro com mais adultos assim, não só fica fácil concordar com o enunciado de Mariana como ter esperança de um mundo realmente melhor no futuro.

Nesta reportagem, ouvimos psicólogos, pais e uma educadora parental sobre como o novo modelo tem sido aplicado por aqui.

Premissas
O primeiro equívoco que cometemos ao nos depararmos com pais em plena prática da Educação Respeitosa é considerá-la “permissiva”. O segundo é imaginar que praticá-la é cômodo. Nada poderia ser mais diametralmente oposto à realidade, já que a educação positiva implica – sim! – colocar limites à criança, mas respeitando seu direito de se expressar da forma que sabe em cada idade. E é difícil de praticar no dia a dia porque os pais precisam estar muito atentos para resistirem a reações automáticas cristalizadas pela educação que eles próprios receberam, como a de gritar ou dar uma palmada para serem obedecidos.

Tão difícil que mesmo com toda a teoria sobre Educação Respeitosa que a médica Mariana Ferriani estudou, ela achou melhor buscar outra profissional para dar suporte a si e ao marido: a psicóloga Rejane Villas Boas Tavares Corrêa. Pós-graduada em Inteligência Emocional e Educação Parental, com formações em Disciplina Positiva, Parentalidade Consciente, Educação Positiva, entre outras, Rejane orienta pais interessados em criar seus filhos neste novo modelo, que ela acredita ser de Educação Respeitosa, Positiva e Consciente. “É respeitosa porque respeito meu filho e a mim. Se eu respeitar só meu filho, vou ser permissiva. Se eu respeitar só a mim, serei autoritária. Entre um e outro extremo não existe apenas um caminho do meio. Cada pai deve construir o seu, tendo como premissa obrigatória o respeito como uma via de mão dupla”, ensina.

É consciente, segundo a educadora parental, porque convida os pais a saírem do piloto automático e se autoconhecerem, para terem consciência das próprias atitudes e emoções. A partir disso, ficarão aptos a frear as reações instintivas, pensar e escolher a nova atitude em substituição ao automatismo.

Por fim, é positiva porque tem as mesmas bases teóricas da Educação Positiva, cujos cinco pilares são: a teoria do apego seguro, do psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby; o desenho original do ser humano [estudado na biologia], a ciência do desenvolvimento humano [neurociências], inteligência emocional e estudos sociais.

Um educador parental deve ser versado em todos esses assuntos para poder orientar os pais, mas não se engane! Não é papel dele ensiná-los como agir em cada situação [leia box “Educador parental: um olhar para os pais” no final deste texto], até porque cada família é uma e cada criança diferente. “Eu nunca vou dizer, por exemplo ‘pare de gritar com seu filho”, porque vai fazê-lo só engolir a raiva, o que faz muito mal. Vou convidá-lo a refletir: ‘por que eu grito com o meu filho?’. Tem alguma coisa por trás disso para a qual é preciso olhar. Não que ele vá parar imediatamente, mas vai diminuindo até fazer sentido o porquê desse automatismo. É quando o pai reconhece nele a causa da reação. Então ele conseguirá olhar dessa forma para as reações do filho também”, explica Rejane.

Para colocar tudo isso em prática no dia a dia, tanto educadores parentais quanto a literatura à disposição sobre o tema concordam nas seguintes dicas aos pais: ter em mente que mudar o próprio comportamento é a forma mais efetiva de ensinar a criança; que compartilhar responsabilidade e se colocar como aprendiz funcionam; usar mais leveza e brincadeiras pode ajudar; e saber lidar com o sentimento de culpa e frustração é fundamental!

Casal embarca junto

Mesmo já sendo médica pediatra quando teve a primeira filha – Maria, hoje com 7 anos –, Mariana Paes Leme Ferriani confessa ter chegado à maternidade completamente despreparada. Sabia que não queria repetir alguns modelos de criação apreendidos da educação que recebeu, mas não sabia o que colocar no lugar, então foi estudar. Quando chegou o segundo filho, hoje com 3 anos, já estava completamente dentro da Educação Respeitosa. Seu marido, o jornalista Eduardo Petrella, demorou um pouco mais para “embarcar” e até isso acontecer foi difícil para ela, que se sentia uma espécie de “lixeira emocional” das crianças, principalmente de Maria, quando da chegada do irmãozinho. Mariana ouvia muito: “ela estava ótima, foi só você chegar que começou a chorar”, porque só com a mãe a pequena se sentia mais livre para se expressar. “Aquilo me sugava. Foi o maior convite para eu buscar autoconhecimento. Pensei: preciso me cuidar para saber cuidar dela”, lembra a médica.

Buscar a educadora parental ajudou muito o casal. “Éramos dois polos bem opostos. O natural do meu marido era o polo do autoritarismo e o meu, querendo compensar isso, de uma possível permissividade. Na verdade, era o caminho do meio que a gente estava buscando, o que para nós, hoje, é a educação respeitosa. Agora ele está cada vez mais embarcado comigo, graças a Deus!”, diz Mariana.

Ambos entendem, agora, que a desregulação emocional (dificuldade em controlar a intensidade e duração das emoções), chamada pejorativamente de “birra”, é uma das formas da criança se comunicar, e que reprimi-la é danoso. “O comportamento é só a ponta do iceberg. Eu não posso cortar, senão ‘mando o mensageiro embora antes de pegar a mensagem’. Preciso olhar para o iceberg inteiro, porque a resposta sobre a causa desse comportamento está lá embaixo: podem ser minhas necessidades não atendidas, o que eu estou sentindo, o que eu estou pensando, o que estou precisando... está tudo ali. Só precisa olhar”, explica a educadora parental Rejane.

Para Mariana, permitir às crianças se expressarem livremente é até lindo de ver. “Às vezes, a Maria ficava quase 1h chorando e, de repente, parava. Parecia outra pessoa. Porque ela tinha colocado para fora tudo o que precisava desabafar. Ela me ensinou tanto com isso! O problema é a gente ter que aguentar, porque ninguém aguentou a gente”, comenta.

Às vezes, quando Maria se incomodava com o choro do irmão mais novo, a mãe explicava que “tudo bem ele chorar, pois precisava pôr para fora algo que estava lhe fazendo mal”. Maria assimilou tanto que hoje, quando Eduardo fica sozinho com as crianças, traz relatos assim para a esposa: “você precisava ver: ele não queria ir para a escola e a Maria parecia você convencendo-o com carinho”. Mariana entendeu que, quando está só com a filha, Maria sente-se segura para ser puramente criança, mas em sua ausência assume o papel de apoio do irmão, que já a idolatra. “Somos o modelo deles. Sempre soubemos que o exemplo é muito importante. A criança ainda não consegue se autorregular, mas se o pai e a mãe conseguirem, ela vai aprender”, acredita.

‘Os adultos somos nós’

Mariana admite ter cometido deslizes antes de entender muita coisa nos comportamentos das crianças. “Hoje, consigo ver claramente as minhas violências. É [um processo de] a gente sair da ignorância e entender o que está fazendo. O próximo passo é modificar a atitude. Você consegue ver a diferença. Por exemplo: quando chego em casa, às 18h, e entro direto falando ‘vamos para o banho’, sem antes entrar no universo da criança, é óbvio que ela não vai querer. Então, a palavra [mais importante] que aprendi é conexão”.

Atualmente, ante qualquer contrariedade dos filhos, em vez de usar um tom autoritário, Mariana tenta se conectar pela via lúdica para fazer o que é preciso como mãe. E quando percebe que está prestes a se descontrolar, apela à autoeducação. “Às vezes falo: ‘a mamãe está chateada, então vai na cozinha – ou tomar água ou outra coisa – e já volta’”. Quando não consegue se segurar e explode, se desculpa. “É bom eles verem a gente por inteiro, inclusive errando”, diz.

A jornalista Thaís Souza, que tem a sorte de contar desde o início com a parceria do marido, o empresário Walter Lima de Souza, na prática da educação respeitosa, também confessa ser desafiador mantê-la no dia a dia com os filhos – Miguel, de 9 anos, e Caê, 7. “Para mim, o mais difícil é me educar para educá-los. Eu brinco com meu marido que às vezes queria ser uma mãe dos anos 1980, que quando a criança faz birra mete uma mão aqui, taca um chinelo ali, dá uma cintada e manda dormir chorando, com fome e tudo”, diz, mas emendando imediatamente, a sério, que considera esses atos extremamente desrespeitosos. “Quando estou em desacordo com algum colega no trabalho não vou lá e meto a mão nele. Por que vou fazer isso com um ser humano muito menor que eu? Acho de uma covardia absurda. O que garante que isso está educando e não criando uma ferida? Porque eu me lembro de quando minha mãe me batia eu pensar: ‘meu Deus, como eu odeio essa pessoa!’. E era tão triste e confuso sentir isso pela mãe, que a gente ama tanto!”, diz.

A segunda coisa mais difícil para Thaís é lembrar que as crianças se descontrolam emocionalmente porque ainda não sabem se comunicar direito. “Principalmente o Caê, que é mais colérico, como eu quando criança. Pra gente entender por que ele está tendo aquela reação, precisa se colocar no lugar dele. Ao mesmo tempo o automatismo faz a gente pensar: ‘ele tem tudo, um quarto cheio de brinquedo, comida, escola boa, reclamar do quê?’ Dá vontade dar uns tapas. Só que nós somos os adultos da relação. Cabe a nós darmos o exemplo”, diz.

Ela confessa, porém, que nem sempre consegue de primeira. “Às vezes preciso pedir uns cinco minutos e ir para o banheiro chorar, porque naquele momento eu não queria ser mãe. Aí me recomponho, saio de lá e vou ser a mãe que eles precisam”, diz.

Apego seguro

Para Thaís e Waltinho, educar com respeito também passa longe do autoritarismo – que é diferente de autoridade, algo conquistado com respeito – denotado em frases como “a casa é minha e quem manda aqui sou eu”. “Não é esse senso de família que eu quero que eles tenham. É o lar deles, o ninho deles. É para onde eles podem voltar se alguma coisa der errado”, afirma Thaís, sem saber que dá um exemplo prático da Teoria do Apego Seguro. “Se eles não têm respeito dentro de casa, quando chegarem lá fora vão achar que é normal serem desrespeitados. Vão pensar: ‘se os meus pais, que dizem que me amam, não me respeitam, está tudo bem o fulano da rua, o meu chefe, um amigo, meu companheiro ou companheira não me respeitarem’”, reflete a jornalista.

De acordo com a educadora parental Rejane, prover um apego seguro não se trata de proteger os filhos a ponto de evitar que sofram, até porque eles estão no mundo e eventualmente vão cair, mas os pais podem atuar como “amortecedores”. “É como eles desenvolvem a resiliência. O que eu sempre trago para as pessoas é: como mãe, não vou deixar o mundo mais fácil, nem vou fazer ficar mais difícil dentro de casa, de propósito, para eles aprenderem. Preciso ajudá-los a desenvolver habilidades para lidar com esse mundo difícil aí fora de uma forma não violenta. E caso não consigam em algum momento, eles têm para onde correr. Esse é o apego seguro. Agora, se cada vez que eles errarem eu der bronca, eles não voltam para casa nunca mais! Isso corta completamente a conexão”, alerta a profissional.

 

DEPOIMENTO

‘Dá para colocar limites com amor, sem castigo, bronca ou berro’

É no que acredita o médico urologista Pedro Lugarinho Menezes, que tem com a esposa, Priscila Tavares Cruz Lugarinho, os filhos Samuel Tavares Cruz Lugarinho, de 3 anos de idade, e Melina Tavares Cruz Lugarinho, com apenas seis meses. O médico conta que até abriu mão de uma parte das atividades profissionais para ter mais presença de qualidade na vida dos filhos, junto com a mulher. É ele quem descreve, a seguir, como o casal entende e pratica a Educação Respeitosa no cotidiano:

"Para mim, Educação Respeitosa é entender que a criança não é um miniadulto. A gente tem que esperar dela coisas de criança, mesmo que isso seja mais trabalhoso para os pais, e todo tipo de correção e auxílio deve ser feito com amor, compreensão, entendendo sempre o lado dela. Nem sempre a gente consegue, mas tudo é um processo.

Educação respeitosa não é sinônimo de educação permissiva. Eu entendo que dá para colocar limites, ensinar de um jeito correto ou corrigir uma atitude com amor, sem precisar de castigo, bronca ou berro, e deixando a criança se expressar. Isso também é muito importante pra gente. Não quero repetir uma questão que hoje em dia tenho: chorar, para mim, é uma coisa muito difícil, mesmo quando estou emocionado. Não quero que meus filhos tenham essa trava. Sempre falo para o meu filho Samuel, que é o homem e o mais velho, que pode chorar, porque é uma forma de se expressar. Quando ele vai tomar vacina, digo: “se você precisar, pode chorar porque o papai está com você, fica tranquilo”.

Os momentos de choro ou birra geralmente acontecem mais para o final do dia, quando ele fica contrariado por ter que parar a brincadeira e tomar banho, ou quando está com sono. A gente mantém a calma. Eu pego no colo, porque o Samuel gosta desse carinho, e vou conversando com ele, explicando, dando uma distraída até sair dessa parte do choro. Nem sempre é fácil ou simples, mas no geral, a gente consegue resolver bem.

Como resultado, a gente já percebe que o Samuel é uma criança empática, que se preocupa com os outros e conversa com as pessoas. Quando a gente faz alguma coisa errada, tipo derrubar algo no chão que suja, ele fala: ‘fica tranquilo pai, vamos limpar’.

Outra coisa que a gente leva muito a sério é não dar telas para eles. Quando estamos com eles, nem nós vemos TV ou vídeo no celular. A gente ouve bastante música, lê livros – até Samuel tem os dele e adora – e conversa muito. Por isso o Samuel tem um bom vocabulário para uma criança de 3 anos. Celular só vamos dar quando forem adolescentes. Acho que isso também é uma forma de respeito.

 

 

TUDO COMEÇOU COM A PISCOLOGIA POSITIVA

A Psicologia Positiva, que inspirou a Disciplina Positiva e a Educação Respeitosa, é um ramo recente da Psicologia, surgido em 1998, em um congresso internacional da área, no qual o psicólogo e cientista estadunidense Martin Saligman expôs suas ideias e pesquisas sobre o papel das emoções e sentimentos na forma como as pessoas reagem às circunstâncias do meio.

Segundo a psicóloga e professora universitária na Unaerp Teresinha Pavanello, que trabalha com a linha, a Psicologia Positiva estuda as forças e virtudes que permitem aos indivíduos e comunidades prosperarem, e estabeleceu um novo paradigma de investigação terapêutica, promovendo uma mudança de perspectiva, do negativo ao positivo. “Ela passa a abordar o funcionamento positivo da personalidade das pessoas, o bem-estar subjetivo e o ensino da resiliência. A Psicologia Positiva tem como objetivo auxiliar as pessoas a encontrarem a verdadeira felicidade”, explica a professora.

Para ela, a Educação Respeitosa ou Positiva se fundamenta na Psicologia Positiva por incentivar as crianças, adolescentes e até mesmo adultos a se relacionarem de uma forma mais confiante e calma, possibilitando que os dois lados de uma relação/comunicação possam se sentir respeitados, acolhidos e até mesmo esperançosos e resilientes.

 

EDUCAÇÃO PARENTAL: UM OLHAR PARA OS PAIS

Apesar do que o substantivo sugere, o papel do educador parental não é “ensinar” os pais a educarem seus filhos com fórmulas prontas, pois eles próprios deverão encontrar seu modelo de parentalidade. A função do profissional é ampará-los e apoiá-los, orientando-os no processo de autoconhecimento e municiando-os com informações que os ajudarão a entender seus filhos. A partir disso, a ideia é que os pais fiquem aptos a construir, no dia a dia, seu próprio modelo de criação dos filhos, considerando suas individualidades e o contexto familiar.

“A educação parental é um olhar para os pais. A gente está ajudando-os a desconstruir um modelo de educação tradicional e autoritária, que a gente herdou, e a construir um novo por meio da autoeducação [deles]. A gente também ajuda informando-os sobre novos modelos, sobre neurociência, estudos sociais – este último porque cada sociedade, raça ou comunidade tem suas especificidades, que devem ser consideradas cautelosamente na construção do novo modelo de educação”, explica a psicóloga e educadora parental Rejane Villas Boas Tavares Corrêa.

Por tudo isso, o olhar do educador parental precisa ser amplo, embasado em muitas formações. “Temos que ter bastante informação para poder oferecer, entre todas, aquela que uma família em específico está precisando”, diz Rejane. “Isso implica olhar para cada família como única. Ou seja, não existe uma regra ou ferramenta que se aplique a todas. A única premissa que não muda é o respeito como via de mão dupla”, conclui.

 

QUANDO A PRÁTICA LEVA À TEORIA E VICE-VERSA

Os pais ouvidos nesta reportagem têm discursos parecidos e até usam termos semelhantes da Psicologia, de Disciplina Positiva e Educação Parental, o que sugere que consumiram muita teoria a respeito. Mas foi, antes, um desejo anterior de substituírem a educação tradicional que tiveram que os levou a buscarem embasamento teórico para uma ideia que já acalentavam sobre educar com respeito.

Para Mariana Ferriani, a busca por mais conhecimento começou quando Maria tinha 1 ano de idade. "Foi quando começaram a surgir as primeiras questões, como eu querer trocar a fralda e ela não”, lembra. A mãe começou, então, a ler conteúdos sobre as famosas “birras”. “O primeiro foi ‘O Cérebro da Criança’, do Daniel Siegel, e entrei de cabeça no assunto. Eu ia lendo e as coisas iam fazendo muito sentido. Você se surpreende pensando: ‘quanta coisa nós só reproduzimos de nossos pais, que reproduziram de nossos avós!’”, lembra. Continuou com livros da pedagoga e educadora parental Maya Eigenmann, e do médico e autor húngaro-canadense Gabor Maté, que aborda traumas e o impacto das ações dos pais no futuro dos filhos. “Isso tudo fui aprendendo na comunidade da Escola de Educadoras Parentais da Juliana Franco [Pulsar]. Fiz curso de Disciplina Positiva, que foi a primeira base mais sólida que tive, baseada nos livros da Jane Nelsen [terapeuta familiar californiana, autora e coautora de 18 livros, que cunhou o termo Disciplina Positiva]. Comecei a me aprofundar mais e descobri a Teoria do Apego [John Bowlby]”, enumera.

O médico urologista Pedro Lugarinho Menezes foi buscar informações na internet e hoje acompanha o canal “Paizinho vírgula”, no YouTube e no Instagram, que é voltado para pais.

Já Thaís e Waltinho começaram a praticar uma educação respeitosa instintivamente, após trocarem muita ideia sobre o que consideravam certo e errado na educação que receberam. Quando sentiu necessidade, foi Thaís quem buscou auxílio teórico, mas nada específico sobre Educação Respeitosa. Suas referências são autoras como Roseli Mendonça e Rafaela Carvalho, da editora Matressência, conhecida por publicar títulos que tratam de forma leve e inovadora assuntos como puerpério, relações familiares e criação dos filhos. Seu ideário sobre parentalidade, porém, parece ter saído direto de um manual de Educação Positiva. Quem duvida pode assisti-la em seu canal “Pode ou Não Pode”, do Youtube, no qual trata, em vídeos de 40 a 50 minutos, sobre temas relacionados à criança que ninguém gosta muito de abordar, como prevenção de abuso, erotização infantil, entre outros conteúdos que ela considera desrespeitoso deixar os filhos acessarem sem o devido cuidado e supervisão.

 

PEQUENO MANUAL PARA PAIS RESPEITOSOS
Para praticar a educação respeitosa ou positiva, os pais precisam:

- Praticar a empatia: colocar-se no lugar da criança, o que implica reconhecê-la como um indivíduo com vontades e direitos;

- Serem modelo de comportamento: não basta ensinar, é preciso dar exemplo com ações e posturas no dia a dia;

- Comunicar-se de forma efetiva e não violenta: argumentar e dialogar em vez de assumir posturas e frases autoritárias, como “quem manda aqui sou eu” e “Criança não tem querer”;

- Abrir espaço para a expressão emocional: choro e explosões de raiva são formas de comunicação que os pais precisam decifrar em vez de reprimir;

- Reconhecer as próprias limitações: pais podem errar e admiti-lo;

- Buscar constantemente melhorar: errar é inevitável, mas tente não repetir o mesmo erro;

- Não aceitar qualquer tipo de violência contra a criança: palmadas (ou pior) nem pensar!
 

LEIA CONTEÚDO EXTRA DAS MÃES ENTREVISTADAS PARA ESTA MATÉRIA CLICANDO NESTE LINK.


Luan Porto

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