Inspiração: morador de Ribeirão Preto comemora 100 anos com energia e bom humor
Inspiração: Morador de Ribeirão Preto comemora 100 anos com energia e bom humor

Inspiração: morador de Ribeirão Preto comemora 100 anos com energia e bom humor

Heleno Pereira chega ao centenário com exemplo de fôlego e com boas histórias para contar

Esbanjando bom humor, saúde e uma incrível energia, Heleno Expedito Pereira, ou Seu Heleno, completou 100 anos de idade na quinta-feira, 18 de maio. Seu centenário não o impede de contar muitas histórias e mostrar que nunca é tarde para realizar seus sonhos.

Nascido em Bonfim Paulista, na Fazenda União, em 18 de maio de 1917, Seu Heleno foi casado duas vezes e tem cinco filhos, oito netos e oito bisnetos. Hoje mora com a filha Ana Lúcia, no bairro Vila Elisa, zona Norte da cidade.

Ele conta que logo cedo se mudou com a família para Ibitiúva, a 65 quilômetros de Ribeirão Preto. “Meu padrinho comprou uma fazenda e nos mudamos. Não gostava de lá, morávamos no mato e perdi um tempo de escola, que ficava na cidade”. Seu Heleno conseguiu fazer apenas um ano de escola no local. Seu pai, que era da Bahia, costumava dizer que o filho tinha que trabalhar duro e se tornar enxadeiro.

“Meu pai gostava muito de morar no mato, mas eu e minha mãe nunca gostamos. Prometi para ela que quando eu crescesse não iria trabalhar com enxada e iria trazê-la pra cá”, ele explica. Determinado, conseguiu trazer a família para Ribeirão Preto mais tarde. “Graças a Deus os trouxe de Ibitiúva para Ribeirão. Nós éramos em 10 irmãos, eu sendo o segundo mais velho, o resto era tudo criança”, lembra.

Seu Heleno diz que era um sonho dele trazer toda a família para a cidade. “Mandei jogar fora todos os colchões de palha de milho e comprei novos para nossa casa, minha mãe chorava de alegria”, ele conta, com um sorriso no rosto. “Aluguei uma casa na João Saldanha, era tudo mato na época, a cidade só chegava até na Campos Salles. Passando dali não tinha mais nada”.

Ele explica que sempre se interessou por automóveis e aprendeu a dirigir praticamente sozinho, com o carro de seu padrinho. “Guiava carros sem carta e meu padrinho sabia que se me desse uma carta de motorista eu sairia por aí e não voltava mais”, ele diz, dando risadas. Por meio de um trabalho que conseguiu em uma garagem no centro da cidade, foi introduzido ao trabalho de motorista. “Um dos nossos clientes era instrutor de motoristas daqui de Ribeirão, morava lá no bairro Santa Cruz do José Jacques. Tirei a carta quase sem prestar exame. Naquele tempo o instrutor batia um papo com o delegado e ficava tudo certo”.

Apesar de também ter trabalhado em fábricas e postos de gasolina, foi como chofer que ele passou muito tempo de sua vida e colecionou muitas histórias para contar. “O Seu Chico, chefe da garagem, gostava muito de mim. Ele tinha dois sobrinhos no ponto de automóvel e me perguntou se eu gostaria de entrar lá também, não tinha táxi naquele tempo”, explica Seu Heleno, que depois disso não parou mais.

Seu Heleno, quando atuava como chofer: muitas histórias
 

Hoje, ao relembrar a carreira como chofer, Seu Heleno se diverteAlguns de seus clientes eram pessoas que hoje dão nomes às ruas e avenidas da cidade, como Francisco Junqueira, Costábile Romano, Antônio Diederichsen e Leite Lopes, que nomeia o aeroporto de Ribeirão Preto. “Cheguei a ir até São Luís do Maranhão, Rio de Janeiro, inclusive para a Bolívia. Fui fazendo uma freguesia grande”, ele completa, dizendo que também atendia a coronéis, generais e gerentes de banco.

Uma de suas histórias favoritas é a viagem que fez para Brasília nos anos 50, quando a capital ainda estava sendo construída. “Fui a Brasília com o Maurílio Biagi e a família dele, na época em que ainda estavam desbravando o cerrado para construir a cidade. Cheguei lá e vi aquele vermelhão de terra, cheio de automóveis, caminhões, ônibus, pau de arara. Um movimento que nunca tinha visto na vida”, ele conta, fazendo gestos e com os olhos arregalados. “Os candangos vinham de todo canto para trabalhar. O que tinha ali por perto de estadia estava tudo lotado, ainda não tinha nada em Brasília, só o cerrado mesmo”.

No último sábado, 20, foi realizada a comemoração do seu centenário na Vila Elisa, com a presença dos familiares e de seus amigos da Igreja Liro dos Vales. Fã de orquestras, ele recebeu uma homenagem em um show recente da Orquestra Filarmônica, no Theatro Pedro II. Além disso, também participou de vídeos especiais para um canal do Youtube, onde responde perguntas de internautas sobre estilo de vida, namoro e preconceito.

Hoje, Seu Heleno passa os dias fazendo o seu passatempo preferido: tocar saxofone. “Ele sempre teve esse sonho, aprendeu quase que sozinho e toca sempre pela casa e nos aniversários dos bisnetos”, comenta Ana Lúcia, sua filha, enquanto ele pega o saxofone e começa a tocar variadas melodias, com um fôlego impressionante.

Ela também conta que o pai adora reformar e desenhar as plantas da casa de suas filhas, dividindo os cômodos. “Ele contrata o pessoal e idealiza a casa inteira, os quartos, o quintal. Ele é muito sonhador, sem limites para seus sonhos, não quer parar nunca, junta o dinheiro dele para realizá-los”, completa Ana Lúcia.

Perguntado sobre o fôlego e energia que tem para tocar o saxofone, Seu Heleno sorri e responde: “Dá para incomodar os vizinhos, não dá?”.


Fotos: Arquivo Pessoal

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