Dia Mundial da Saúde: médicos contam rotina do combate à Covid-19 em Ribeirão

Dia Mundial da Saúde: médicos contam rotina do combate à Covid-19 em Ribeirão

Apesar da rotina exaustiva, profissionais da saúde se dizem realizados em poder ajudar no combate ao coronavírus

No dia 7 de abril é comemorado o Dia Mundial da Saúde. A data é uma homenagem à criação da Organização Mundial (OMS) da Saúde, fundada no mesmo dia no ano de 1948. O "embrião" da OMS, contudo, data do início do século XX, no antigo Comitê de Higiene da Liga das Nações, criado após a Primeira Guerra Mundial, em 1919.

Em 2020, a data ganha ainda mais destaque, tendo em vista a batalha travada pelos profissionais de saúde no combate ao novo coronavírus em todo o planeta. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom publicou em seu perfil oficial no Twitter a seguinte mensagem:

"Aproveito a oportunidade para convidar a todos para refletirem sobre a importância da Saúde e para pensar naqueles que estão lutando dia e noite para nos manter a salvo de ameças como o coronavírus", escreveu.

E, em Ribeirão Preto, a situação não é diferente. Profissionais de saúde, sejam da rede pública ou particular, lutam dia e noite contra a pandemia.

Para Fernando Bellissimo Rodrigues, professor Associado do Departamento de Medicina Social da USP que também faz parte do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, a rotina de trabalho está mais cansativa que o normal.

"Tenho tido alguma dificuldade para dormir devido à jornada estendida de trabalho e à agitação mental, mas, no geral, me sinto bem. Ao mesmo tempo, é gratificante se sentir útil à sociedade e perceber que os vários anos de estudo e treinamento não foram em vão", comentou o profissional que atende no Hospital das Clínicas.

O médico Marcelo Bonvento, coordenador da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Ribeirania, acrescenta que a experiência de trabalhar num cenário de pandemia é desafiadora, tendo em vista que estão lutando contra uma enfermidade nova e que o mundo ainda tenta desvendar.

"Nós médicos devemos garantir e assegurar na pandemia toda dignidade e respeito ao ser humano e dividir com nossos pacientes e seus familiares todas as opções possíveis. Nossa atenção está inteiramente voltada a atender princípios fundamentais da dignidade humana, a autodeterminação, a integridade e a vulnerabilidade social", declara Bonvento.

A experiência do combate à pandemia também tem surtidos efeitos na forma como os médicos lidam com a vida. Bonvento conta que dividir com os profissionais de saúde essa experiência tem gerado um grande ganho pessoal. 

"Poder estar do lado dos companheiros e dizer para eles 'eu vou cuidar do paciente, eu vou cuidar de você e de toda nossa equipe' faz toda diferença. Nunca foi tão importante cuidar das pessoas, ter empatia, escutar o próximo e dizer: eu estou aqui e me importo com você", revela o médico.

Segundo Bellissimo, por conta dessas reflexões, ele busca reduzir os danos que ele possa causar ao planeta e ao próprio corpo. Para isso, ele pretende reduzir as viagens aéreas internacionais a trabalho e substituí-las por vídeo conferências. Além disso, ele pretende mudar os hábitos alimentares.

"Hoje me sinto ainda mais inclinado a consumir cada vez menos carne, no máximo 50 gramas por dia, o que, além de reduzir meu risco de diabetes, infarto e câncer, também contribui para diminuir as emissões de carbono e o aquecimento global, e reduz os riscos de novas pandemias como essa que ora enfrentamos", disse

Defesa da ciência

Apesar do trabalho árduo dos profissionais da saúde durante essa pandemia, ainda existem pessoas que "não acreditam" nos métodos científicos ou minimizam os perigos comprovados da Covid-19.

Bellissimo pondera que o tempo é o maior aliado na busca pela verdade. "Com o tempo, as informações verdadeiras se consolidam e os dogmas e crendices tendem a se esvaecer. A ciência não é perfeita e tem seus limites, mas é ainda hoje o meio mais seguro e amplamente disseminado de busca pelo conhecimento", explica.

O especialista entende que a crise atual enseja várias reflexões sobre o nosso modo de vida atual. "A paralisação parcial das atividades comerciais fez reduzir o nível de consumo, o que nos leva à seguinte questão: será que realmente precisamos de tudo aquilo que estamos habituados a consumir amplamente? Ou podemos e estamos sobrevivendo com bem menos?", reflete o médico.

Já Bonvento avalia a situação como um "experimento social". A atual crise, avalia o médico, trará um amadurecimento coletivo para a sociedade.

"Acredito que precisamos evoluir como pessoas de uma sociedade de crenças populares e saudosismos para uma sociedade consciente nas boas práticas de cuidados de saúde apoiados na ciência e nas evidências científicas, oferecendo cuidado de qualidade e de resultado para nossos pacientes e seus familiares", diz.

Cuidados em casa

Apesar de passar a maior parte do dia – e às vezes da noite – tomando todos os cuidados para se proteger do vírus dentro do ambiente hospitalar, os médicos também levam esse cuidado para casa.

Bonvento recomenda que o ideal é entrar em casa sem os sapatos, e retirar a roupa assim que possível, preferencialmente na área de serviço, indo diretamente para o banho, antes de entrar em contato com os familiares. Os sapatos devem ficar na área de serviço e serem higienizados sempre que possível. 

O médico do HC conta que em casa reforça os hábitos gerais de higiene que já faziam antes, como aplicar álcool nas mãos ao chegar, antes das refeições, evitar o compartilhamento de copos e talheres. 

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Foto: Pixabay (Imagem ilustrativa)

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