Entidades empresariais são contra a prorrogação da quarentena em Ribeirão Preto

Entidades empresariais são contra a prorrogação da quarentena em Ribeirão Preto

Organizações que representam os empresários temem prejuízos socioeconômicos

Entidades que representam empresários e o comércio em Ribeirão Preto emitiram notas de repúdio contra prorrogação da quarentena decretada pelo prefeito Duarte Nogueira (PSDB) e pelo governador João Doria (PSDB), nesta sexta-feira, 17. Se posicionaram contrárias às medidas de isolamento social a Associação Comercial e Industrial (Acirp), o Centro das Industrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto (Sincovarp) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

"Entendemos que é importantíssimo proteger vidas humanas, no entanto, não pode ser levado em consideração apenas esse lado para a tomada de decisões que impactam profundamente as vidas de centenas de milhares de trabalhadores", escreveu o Sincovarp em nota conjunta com a CDL.

Já a Acirp descreveu a medida do governo municipal e estadual como insensível e desorganizada. "Diante do que pode vir a ser a maior crise global do século, a única medida dos poderes constituídos tem sido a interrupção das atividades do setor produtivo e o isolamento horizontal da população indistintamente", informou a Associação.

As entidades se viram contrariadas após, na visão delas, o prefeito Duarte Nogueira ter sinalizado uma possível reabertura do comércio a partir do dia 22 de abril. Oficialmente, a Prefeitura não divulgou nenhuma informação que indicasse uma flexibilização da quarentena.

Segundo o Sincovarp, tanto o prefeito quando o secretário de Saúde, Sandro Scarpelini, sinalizaram haver espaço para uma flexibilização, ainda que gradual, do funcionamento do comércio varejista e demais atividades empresariais. Criaram expectativa de preparação para uma retomada.

O Ciesp criticou o prefeito Duarte Nogueira e citou a reunião por vídeo conferência realizada na última terça-feira, 14, na qual o prefeito teria indicado uma possível reabertura gradual do comércio. "É necessário dosar medidas de isolamento com as medidas econômicas para enfrentarmos esse período de crise", escreveu a Diretoria Regional de Ribeirão Preto do Ciesp.

O Sindicato argumentou que nem o País, muito menos Ribeirão Preto, "aguentam uma paralisação prolongada" do comércio.  "Suspender as atividades é agravar, ainda mais, a situação do comércio varejista que, em sua maioria, é composto de micros e pequenos lojistas, um dos setores mais atingidos por essa crise. A situação é desesperadora para a maioria dos comerciantes o que nos traz o temor de uma onda de fechamento de empresas e de demissões em massa", escreveu em nota conjunta com a CDL.

Com isso, o Sincovarp defende que o prefeito reconsidere a prorrogação e "imediatamente se reúna com representantes do setor produtivo no sentido de organizar a retomada das atividades empresariais, em especial do comércio varejista, o quanto antes". A entidade informa que defende uma volta planejada e que siga rigorosamente as regras sanitárias determinadas pelas autoridades em saúde.

Para a Acirp, a prorrogação do decreto é um ato "radical" e não considera as características de cada município e região, sem indicar soluções efetivas para mitigar os impactos dessas medidas na vida da população, das empresas, de trabalhadores e não indica perspectivas para que o setor econômico possa se planejar.

A Associação alerta para a dificuldade da população menos favorecida em conseguir o acesso à renda emergencial e compara com a dificuldade que os empresários têm tido para obter financiamentos para fluxo de caixa e pagamentos de salários. Na nota, a Acirp também afirma que iniciativas de prorrogação de impostos apenas adiam em dois ou três meses o pagamento devido, "sendo que os estudos mais otimistas,  apontam que os impactos desta crise para as empresas se prolongarão por pelo menos 18 meses", alegam.

"A Acirp entende que não há conflito entre a defesa da vida e a defesa da economia, uma vez que ambas as linhas estão amplamente ligadas uma a outra. É com os recursos do setor produtivo, na forma de produtos, salários e impostos, que o Estado terá condições de cuidar de pessoas", conclui a nota.

Prorrogação

A decisão de prorrogar até o dia 22 de maio foi divulgada na manhã desta sexta-feira, 27, em entrevista coletiva convocada pelo prefeito Duarte Nogueira (PSDB). Segundo o chefe do Executivo, a decisão foi tomada após reunião realizada na noite de quinta-feira, 16, com 15 entidades que fazem parte do Comitê Técnico de Contingência do coronavírus na cidade. Composta por pesquisadores, médicos e epidemiologistas, a decisão foi tomada de forma unânime. 

"[A decisão foi tomada] Por uma questão de cautela, prudência e profundo respeito à vida. Neste exato instante, o mundo atinge uma curva de crescimento dos casos de covid-19 [...].Em Ribeirão Preto a nossa curva está em ascensão linear e estável. A nossa estrutura assistência tem retaguarda de apoio para atender um eventual aumento abrupto de situações de maior gravidade", declarou Nogueira.

Dentre as medidas propostas pelo Executivo estão o uso obrigatório de máscaras em estabelecimentos, o aumento para dois metros de distância entre pessoas, desinfecção constante do ambiente, uso prioritário de ventilação natural e que seja evitado o trabalho ou a exposição ao risco de pessoas acima de 60 anos ou que fazem parte dos grupos de risco.

Sobre possíveis riscos à economia, Nogueira foi enfático ao defender a proteção das vidas em primeiro lugar. "Neste momento, o mais importante é preservar as vidas. Porque todas as decisões que foram tomadas de maneira abrupta ou pouco reflexiva em momentos de extrema cautela e responsabilidade como se exige agora, foram onde aconteceram as grandes tragédias da humanidade e os grandes genocídios. Uma vida perdida não pode ser substituída, um emprego perdido pode ser reconstruído", declarou Nogueira.

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, Ribeirão Preto possui 197 casos confirmados do novo coronavírus até esta sexta-feira, 17. Ao todo, o município possui 1074 casos notificados, 479 descartados e cinco óbitos.

Uma morte a cada meia hora

Nesta semana, o Estado de São Paulo registrou o maior número de mortes pelo coronavírus. Nesta sexta-feira, 17, o Estado totaliza 928 óbitos, com 320 novas mortes desde segunda-feira, 13. Em média, uma morte a cada meia hora. Desde ontem, foram 75 vítimas fatais da COVID-19. O número de casos confirmados da doença chega a 12.841.

Já são 5,7 mil pessoas internadas em hospitais, sendo 3.465 em leitos de enfermaria e 2.275 em leitos de UTI. Até o final da tarde desta sexta-feira, eram 2 mil internações a mais em comparação aos últimos quinze dias, um aumento de 51%. Em 3 de abril, eram 3,8 mil internados, sendo 1500 em UTI e 2.343 em enfermaria.

Tendo em vista o avanço da doença, o governador João Doria (PSDB), anunciou nesta sexta-feira, 17, a extensão da quarentena em todos os 645 municípios do Estado até 10 de maio. A medida mantém o fechamento de comércio e serviços não essenciais para reforçar o isolamento social e reduzir a circulação de pessoas ante o crescimento de casos e de mortes pela covid-19.

O anúncio do governador ocorreu ao mesmo tempo da coletiva convocada pelo prefeito Duarte Nogueira. Apesar de anunciar que o decreto de calamidade pública será prorrogado até o dia 27 de abril, o prefeito adiantou que se a decisão do governo do Estado será acatada.


Foto: Arquivo Revide

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