Médicos apontam "fortes evidências" de que paciente foi reinfectada pela Covid-19, em Ribeirão Preto

Médicos apontam "fortes evidências" de que paciente foi reinfectada pela Covid-19, em Ribeirão Preto

Técnica de enfermagem de 24 anos pode ser um dos raros casos de reincidência do vírus

Nesta quinta-feira, 6, médicos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto explicaram o caso de uma paciente que pode ter sido infectada duas vezes pelo novo coronavírus, em Ribeirão Preto. A evolução do quadro de saúde da paciente foi descrito em um relato de caso da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). 

A entrevista foi concedida por Afonso Diniz Costa Passos, superintendente do Núcleo de Vigilância Sanitária Epidemiológica Hospitalar, e Fernando Bellissimo, médico infectologista, e a figura central do caso, a técnica enfermagem Gabriela Carla da Silva, de 24 anos, que contraiu o vírus. 

Não obstante, estudo de caso ainda não é um documento definitivo sobre o que, de fato, ocorreu com a paciente, mas, segundo o Fernando Bellissimo, existem fortes indicíos que apontam para uma reinfecção.

"Existem fortes evidências tanto do ponto de vista clínico, laboratorial, epidemiológico de que ela tenha tido a infecção pelo novo coronavírus duas vezes. Em medicina a gente nunca diz ter certeza absoluta, mas nós não conseguimos encontrar uma outra explicação que se encaixe em tudo o que aconteceu com ela", admitiu o médico. 

Segundo os especialistas, episódios como esse são extremamente raros. Até o momento, somente o caso de Ribeirão Preto e um ocorrido em Boston, nos Estados Unidos, foram descritos com mais detalhes em publicações oficiais.

Mesmo assim, os médicos reforçam a importância das medidas de distanciamento entre as pessoas e o uso de máscara, mesmo para pessoas que já contraíram a doença. "Não há motivo para pânico. Trata-se de uma eventualidade extremamente rara", alertou Bellissimo.

"Desde o início da pandemia, a possibilidade de reinfecção por SARS-CoV-2 tem sido aventada e investigada por diferentes pesquisadores em todo o mundo. [...] O presente caso apresenta forte evidência não somente de reinfecção por SARS-CoV-2, como de recidiva clínica da Covid-19, de forma semelhante a apenas um outro caso clínico relatado em Boston (EUA)", escreveram os pesquisadores no relato de caso.

Gabriela relatou que, no dia 4 de maio, na UBS do Ribeirão Verde, teve contato com um colega de trabalho que foi infectado pelo coronavírus.Dois dias após o contato, ela apresentou dor de cabeça, mal estar, febre e dor de garganta. No quarto dia dos sintomas, realizou um teste que apresentou resultado negativo. 

Como os sintomas ainda estavam no início, a técnica foi orientada pelo Serviço de Vigilância Epidemiológica municipal a repetir o exame PCR, considerado o mais confiável e que comprova a presença do vírus no organismo. Dessa vez, o resultado foi positivo.

Segundo o estudo, a paciente evoluiu bem, com a resolução completa dos sintomas em dez dias. Após se recuperar da Covid-19, Gabriela passou 38 dias sem apresentar nenhum sintoma, trabalhando normalmente. "Não tive nenhum sintoma nesse período, pensei 'estou curada, vida que segue", comentou.

Contudo, no dia 27 de junho, ela acordou com mal-estar, febre e dor de garganta, com a piora desses sintomas nos dias seguintes. "Os sintomas estavam ainda mais fortes do que da primeira vez. Mas não cheguei a ficar acamada ou fazer nenhum tipo de tratamento especial", contou. No quinto dia de sintomas, ela passou por um novo teste PCR, no qual foi confirmado que ela estava, novamente, com a Covid-19.

Segundo Bellissimo, não há possibilidade do teste ter sido um "falso positivo" e nem do teste ter apontado uma infecção residual, quando ainda restam traços do RNA do vírus no portador, mas ele não apresenta mais sintomas. 

"A história clínica dela não sugere uma doença persistente. Tampouco o resultado do segundo teste pode ter sido um resultado residual. Mas no caso dela, ela não só recrudesceu a doença, como ela teve sintomas muito típicos da Covid na segunda vez que ela não teve na primeira", explicou.

Estudo 

Os próximos passos da equipe do HC serão investigar o sistema imunológico de Gabriela para entender o porquê da reinfecção. "Isso poderá auxiliar no desenho de uma vacina que não falhe e induza a imunidade persistente. Entender o porquê ela se expôs ao vírus e não se imunizou, pode ajudar no planejamento de novas vacinas", disse o infectologista. 

Gabriela conta que, apesar do susto no início, ficou animada com possibilidade de poder fazer parte de uma pesquisa que ampliará o entendimento sobre a Covid-19, 
"No começo eu fiquei um pouco assustada, depois eu agradeci por não ter sido algo tão grave. E agora poder ajudar outras pessoas com o estudo do meu caso", afirmou.

Poucas evidências

Uma hora após as explicações dos médicos no HC, a Prefeitura concedeu uma entrevista coletiva para explicar a reabertura do comércio em Ribeirão Preto. Durante a entrevista, o secretário municipal de Saúde, Sandro Scarpelini, que também é médico no HC, avaliou com cautela os resultados dos colegas.

Segundo o secretário, um relato de caso não tem o mesmo peso de um estudo científico. Para que fique comprovada e documentada a reinfecção da Covid-19, segundo Scarpelini, seria necessária a observação de mais casos e com controle e parâmetros científicos.

"Um relato de caso é a mais fraca das mais fracas das evidências. Na verdade, o HC deveria estar preparando uma publicação. [...] Isso a gente não manda para a mídia, mandamos para revistas científicas. O significado disso hoje, ponto de vista científico, não muda nada", frisou Scarpelini.

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Foto: Paulo Apolinário

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