Médicos respondem dúvidas de leitores sobre a variante Delta em Ribeirão Preto
Coronavírus: leitores enviaram dúvidas sobre a variante Delta

Médicos respondem dúvidas de leitores sobre a variante Delta em Ribeirão Preto

Através do perfil da Revide no Instagram, leitores enviaram perguntas sobre a nova cepa do Coronavírus; especialistas responderam as questões

Na última segunda-feira, 23, a Prefeitura de Ribeirão Preto informou que a variante Delta do Coronavírus foi identificada na cidade. De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, foram confirmados oito casos da nova cepa da doença no município e foi emitido um alerta para que a população mantenha os cuidados e evite aglomerações.

Para auxiliar os leitores, a Revide abriu um espaço em seu perfil no Instagram para receber as dúvidas sobre a nova variante da doença. Procuramos médicos infectologistas para responder as perguntas selecionadas. Confira abaixo.

Quais são os sintomas da variante Delta?

“A variante de preocupação Delta, identificada inicialmente na Índia, já foi relatada em todas as regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com sintomas semelhantes aos da gripe comum, o paciente infectado com a Delta costuma apresentar coriza, dor de cabeça e dor de garganta, dificultando a suspeita diagnóstica. Perda de paladar e do olfato, tosse e sensação de falta de ar não estão sendo observados nos casos de infecção pela variante Delta”, Angela Ginbo, infectologista do Grupo São Lucas.

Como saber se estou com a variante Delta?

“Não é possível fazer algum exame, disponível comercialmente, para identificar qual é a cepa do Coronavírus que está causando a infecção em determinada pessoa. Para isso, é necessário a realização de um teste de biologia molecular, que ainda não é disponibilizado nos laboratórios públicos ou privados, de forma rotineira, assistencial. Hoje, a identificação da variante é feita por amostragem, em que alguns exames de PCR positivos para Covid-19 são enviados para laboratórios de referência no Brasil, e de forma anônima são realizados testes de genotipagem em cada um deles, sendo possível identificar qual é a cepa do Coronavírus que está ali presente.

Desta forma, é fundamental falar sobre prevenção e cuidados para evitar a transmissão do vírus, como se vacinar, usar máscaras, passar álcool nas mãos e distanciamento social”, Claudio Penido Campos Junior, infectologista da Comissão de Controle de Infecção do Hospital São Francisco, que faz parte do Sistema Hapvida.

A Delta é pura politicagem. Até a eleição o uso de máscara será suspenso

“O uso de máscaras e os cuidados devem ser mantidos por muito tempo enquanto o vírus estiver circulando, e como a Delta e outras variantes estão em circulação, é obrigatório o uso de máscaras, distanciamento social e higiene das mãos.”, Valdes Roberto Bollela, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Falam que a variante Delta é mais transmissível, porém, ela é mais letal que as anteriores?

“A variante Delta é muito mais transmissível que as anteriores e nós não sabemos ainda se ela é mais letal. Aparentemente não, mas é preciso considerar que a maior parte das pessoas agora está vacinada e as outras variantes, as primeiras, quando circularam, a maioria das pessoas não estava vacinada, por isso que as outras cepas do Coronavírus ficaram associadas a mais mortalidade naquela época e não agora. Mas, como a Delta transmite mais, se houver colapso do sistema de saúde, a gente pode ter mortalidade porque não vai ter como atender a todo mundo que tiver infecção. E é isso que aumenta a mortalidade, a incapacidade de atender muitas pessoas, não é só a agressividade do vírus”, Valdes Roberto Bollela, professor da FMRP da USP.

Qual é a diferença dessa variante para o vírus original?

"A variante Delta é o resultado de mutações ou alterações genéticas ocorridas no vírus original. Os vírus passam por diversas mutações e a maioria não é relevante. Mas, algumas alterações podem tornar a doença mais transmissível ou mais grave. No caso da Delta, as mutações a fizeram mais transmissível, tornando-se quase que duas vezes mais contagiosa que a cepa original. Outra diferença da variante Delta está nos sintomas clássicos descritos da Covid-19, já que seu quadro clínico parece mais com um resfriado, com relatos de dor de cabeça e garganta e coriza, sendo menos comum a perda do olfato e paladar, tosse e febre, presentes na cepa original", Ana Raquel de Seni Rodrigues, infectologista do Grupo São Francisco.

Qual é a vacina mais segura contra a Delta?

“A variação na estrutura do vírus, em suas proteínas, não é tão significativa a ponto do sistema imune não reconhecer aquele vírus. Então é por isso que se espera que todas as vacinas disponíveis contra o Coronavírus reconheçam as variantes e a cepa original da doença. Saiu uma publicação recente sobre a proteção da Coronavac, de 77% para as formas de pneumonia e de 100% para as formas graves, com comportamento similar para a variante Delta. Já a Pfizer tem proteção de 95%, quando foi lançada, sem considerar as variantes. As vacinas já demonstravam uma proteção inicial alta.

Quando você avalia as novas cepas, a variação que acontece do vírus não acontece na estrutura principal, mas em segmentos não tão importantes. Nos segmentos mais importantes, as variações são pequenas, de modo que o sistema imune reconhece a proteína do vírus e faz a produção dos anticorpos a partir do estímulo dessa proteína (no  caso das pessoas vacinadas). As variantes não representam grandes mudanças no vírus, do ponto de vista estrutural, por isso que as vacinas acabam tendo cobertura para essas variantes”, Luiz Fernando Baqueiro de Freitas, infectologista do Grupo São Lucas.

Será necessário uma terceira dose da vacina?

O Ministério da Saúde decidiu, no último dia 23 de agosto, algumas estratégias para o combate da variante Delta: a) antecipar a segunda dose da vacina – o objetivo é vacinar toda a população adulta até o final de outubro; b) aplicar uma dose de reforço nos indivíduos imunodeprimidos e nas pessoas com mais de 70 anos, e que fizeram a última dose há mais de 6 meses. A dose de reforço é para aumentar o efeito protetor da vacina nesses grupos mais vulneráveis”, Angela Ginbo, infectologista do Grupo São Lucas.

Jovens sem comorbidades e vacinados com as duas doses da vacina estão mais sujeitos a serem infectados?

“Jovens vacinados com as duas doses têm menos chances de serem infectados, têm menos chances de adoecer e menos chances de ficar em estado grave por conta da Covid-19. Uma coisa que é importante frisar é que a vacina protege mais das formas graves do que da infecção. Então, mesmo vacinado, a gente sabe que pode se infectar, mas não vai desenvolver a forma grave da doença. Isso vale para jovens e para adultos”, Valdes Roberto Bollela, professor da FMRP da USP.

Pode ocorrer uma nova pandemia com a variante Delta? 

"A variante Delta já foi detectada em vários países, na maioria dos estados brasileiros e vem se espalhando rapidamente. Segundo o Centers for Disease Control and Prevention, há a previsão que se torne a variante dominante no mundo nos próximos meses. Nos Estados Unidos já é responsável por mais de 80% dos casos de infecção. Neste momento, sua transmissão e aumento dos casos de forma rápida também é influenciado pela flexibilização das fronteiras e nas medidas de prevenção, como isolamento e distanciamento social, além das diferentes fases do processo de vacinação entre os países", Ana Raquel de Seni Rodrigues, infectologista do Grupo São Francisco.


Foto: Freepik (foto ilustrativa)

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