Ribeirão Preto é uma das cidades com maior risco de difusão do coronavírus no interior, apontam pesquisadores

Ribeirão Preto é uma das cidades com maior risco de difusão do coronavírus no interior, apontam pesquisadores

Pesquisa realizada pela Unesp listou 13 municípios do interior do Estado de São Paulo que possuem potencial de difusão da doença

Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) revelou que Ribeirão Preto é considerada uma das cidades com maior risco de difusão do novo coronavírus no interior do Estado de São Paulo. O estudo é coordenado pelo professor Raul Borges Guimarães, do departamento de Geografia.

Com base em ferramentas estatísticas e de modelagem espacial, os pesquisadores traçam a evolução do vírus levando em conta uma série de variáveis. São observados, por exemplo: o tempo, as distâncias, a densidade demográfica, mobilidade urbana, perfil econômico e social da cidade, entre outros fatores.

Os resultados da pesquisa são disponibilizados no site Radar Covid-19, mantido por um comitê científico composto por profissionais de diversas áreas, como médicos, matemáticos, geógrafos e especialistas em computação. Apenas no laboratório no qual Guimarães mantém na Unesp, são 30 profissionais que se baseiam em quase três décadas de estudos.

O pesquisador explica que no início a doença se espalhou rápido, principalmente, por conta dos voos dentro do país. Após a diminuição na atividade dos aeroportos, a doença passou a se espalhar dentro das cidades e pelas rodovias.

“A disseminação saiu dos aeroportos e foi para o asfalto. Em São Paulo temos a Via Dutra e a Anhanguera que são a espinha dorsal da economia do estado”, explica o professor. Com grande fluxo de pessoas por essas rodovias, a doença chegou, primeiramente, às cidades que eram atravessadas por elas.

Ao todo, 13 cidades, além da Região Metropolitana de São Paulo, compõe um perigoso eixo de disseminação da Covid-19. São elas: Araçatuba, Araraquara, Bauru, Campinas, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Santos, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Sorocaba e Votuporanga.

O pesquisador esclarece que independentemente do tamanho da cidade, as medidas de isolamento devem ser mantidas. Isso porque, cada uma das cidades destacadas no estudo tem o potencial de espalhar a doença para outras cidades e distritos menores ao seu redor.

“Muitas pessoas moram em cidades menores e vão para Ribeirão Preto somente para trabalhar. Então, não faz diferença se ele mora em uma cidade rural, ele irá levar a doença para lá”, acrescenta.

Guimarães recomenda que o melhor caminho para quebrar a disseminação do coronavírus é seguir as orientações das autoridades de Saúde e manter o isolamento social. "Se a gente não cumprir o isolamento social, nós não vamos conseguir quebrar essa disseminação", comenta o pesquisador.

O estudo do grupo foi utilizado com uma das fontes que norteou as medidas tomadas pelo governo do Estado de São Paulo. Guimarães esclarece que não realiza a pesquisa a mando de políticos ou por “encomenda”. Pesquisas semelhantes já eram desenvolvidas pelo laboratório antes do início da pandemia.

“Estamos preocupados em salvar vidas e ajudar o sistema de saúde. O que fazemos e fornecer essas informações aos gestores para que eles tomem as melhores decisões”, explica.

Saída pela ciência

Até a manhã desta quinta-feira, 9, Ribeirão Preto possui 122 casos confirmados da doença e quatro óbitos. Apesar disso, ainda existem pessoas que desrespeitam as medidas de isolamento social ou, simplesmente, "não acreditam" nos fatos e na ciência.

Para Guimarães, nesse momento de crise, a ciência vem se mostrando como a única saída. O pesquisador recomenda que é o momento de as pessoas repensarem no papel da ciência na sociedade. "O mundo inteiro está provando que não existe uma saída que não passe pelo conhecimento científico", concluiu.

Mapeamento digital

Além do mapeamento dos casos da doença em todo o Estado, os pesquisadores também realizam um mapeamento digital sobre o coronavírus.

Essa pesquisa digital se divide em duas frentes: a primeira que foca na análise e mineração de dados de redes sociais e a outra na análise de dados de rumores. Com as redes sociais, mais precisamente o Twitter, os pesquisadores analisam a publicação de notas oficiais, que podem ajudar a encontrar possíveis novos focos de disseminação de Covid-19.

O mapeamento dos dados oficiais é um trabalho que envolve a checagem das bases de informação e elaboração de representações cartográficas tecnicamente mais adequadas. Dessa maneira, tweets são analisados diariamente de acordo com sua relevância para ajudar na busca por novos focos da doença.

Considerando a informação de casos confirmados de coronavírus no Estado de São Paulo, a localização dos tweets ajuda na análise de possíveis focos de disseminação do novo coronavírus.

Leia mais:
"Não subestimem a doença", diz empresário que se curou após quadro de Covid-19 em RP
Cientista alerta para elevação nos casos de coronavírus em Ribeirão nas próximas duas semanas


Imagens: Revide/ Radar Covid-19 Unesp

Compartilhar: