Em Ribeirão Preto, família mantém tradição na arte da sapataria
Em Ribeirão Preto, família Diniz mantém tradição na arte da sapataria, mas área está escassa de profissionais

Em Ribeirão Preto, família mantém tradição na arte da sapataria

Ofício passa de pai para a filha, mas profissionais da área são cada vez mais raros em Ribeirão Preto

A estudante Otávia Diniz, de 18 anos, herda do pai um ofício cada vez mais raro de se encontrar em Ribeirão Preto. A garota sonha em seguir a tradição da família na “arte” da sapataria, uma profissão que está em risco de desaparecer nos próximos anos motivado pelo avanço da tecnologia na indústria, o que barateia os produtos e diminui a necessidade de consertos.

O ofício ela aprendeu com o pai, Renildo, que há 40 anos trabalha fabricando ou consertando sapatos. Ele começou em uma fábrica em Franca, depois se mudou para São Paulo, sempre produzindo. Depois de mais de 20 anos na área, resolveu trabalhar por conta própria e abriu a sapataria.

O sapateiro conta que, embora seja difícil de encontrar um profissional da área, a procura ainda é grande. Ele calcula que conserta até 20 pares ao dia e a maior clientela é de mulheres.

“Ainda tem procura. Tem algumas sapatarias que precisam de sapateiro, mas não têm. Mas ainda fazemos muitos sapatos. Depende do dia, conseguimos fazer uns 20 pares, outros 10. Depende do grau de dificuldade. Mais sapato feminino, que precisa refazer o salto”, conta Renildo, que acredita que ainda dá para sobreviver do ofício em razão do custo benefício que ele proporciona ao cliente.

A filha Otávia conta que pegou gosto pela profissão quando ia acompanhar o pai em uma oficina que ele trabalhava, ainda na infância, e pretende manter a tradição na família – a mãe trabalha no mesmo ateliê, e o irmão mais velho também foi inserido na área, embora não tenha o mesmo apego que o resto da família.



“Tudo no sapato acho interessante. Porque é legal. Sempre são serviços diferentes. Nunca fica numa coisa só”, afirma. Otávia diz que pretende crescer na área, mas também tem outros planos. Ela quer continuar os estudos, e se formar em dermatologia, mas sem deixar a função na sapataria de lado. “Eu pretendo crescer. Crescer a sapataria, e me formar. Quero terminar os estudos, mas mantendo os dois”, destaca a estudante.

Diversifique

O consultor e professor universitário Murilo Carneiro, blogueiro no Portal Revide, apoia a iniciativa da jovem. Isso porque, para ele, é importante sempre estar preparado para o que o mercado oferece, o que muda cada vez com mais frequência em razão do desenvolvimento das tecnologias.

“Pode ter certeza de que mais cedo ou mais tarde um computador ou robô vai substituir você, caso trabalhe em uma área que precise de muito esforço físico. Vai sobreviver quem presta serviços”, comenta o professor, baseado em pesquisas, como a da consultoria norte-americana CB Insights.

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Seu trabalho tem futuro?

Pesquisa divulgada recentemente pela consultoria aponta que 10 milhões de empregos – números referentes aos Estados Unidos - estão ameaçados pela inteligência artificial em todo o mundo ao longo da próxima década. Profissionais que atuam em serviços braçais são os mais ameaçados.

Carneiro dá dicas para quem quiser se manter atualizado e pronto para não perder oportunidades para as máquinas.

1º ficar antenado: é preciso pesquisar o mercado.

“E preciso manter continuamente o mapeamento do mercado em que atua”, afirma o consultor.

2º Busque alternativa e diversifique.

“Mesmo em uma profissão “x”, você tem que se reciclar, procurar capacitação e não ficar paralisado”, comenta Carneiro.

3º Saiba o que você está fazendo.

“Algumas profissões têm essa tendência ‘artesanal’, como é o caso da sapataria, alfaiataria, costura, entre outros. Então, é importante você entender o que você faz. Estude, procure conhecimento, leia sobre a sua área. Isso serve até para saber se o ‘barco está naufragando’”, finaliza o consultor.


Foto: Amanda Bueno

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