Um dragão na mesa do café

Um dragão na mesa do café

Aumento generalizado no preço dos insumos pressiona o setor de alimentação e encarece os itens do café da manhã

Nem o café da manhã escapou do dragão da inflação, que registrou alta de 1,62% no mês de março. O resultado é o maior registrado no mês de março desde a implantação do real, em 1994. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que mede a inflação oficial, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os principais aumentos estão nos setores de transportes, com alta de 3,02% e de alimentação e bebidas, com 2,42%. O aumento no preço dos alimentos está concentrado principalmente nos alimentos para consumo no domicílio, com alta de 3,09%. Entre os itens que registraram maior alta estão os alimentos e ingredientes presentes no café da manhã como o pão francês, com alta de 2,97%, o leite longa vida com aumento de 9,34%, frutas com alta de 6,39% e o óleo de soja, que registrou alta de 8,99% em março. Os campeões no aumento de preço foram o tomate, com aumento de 27,22% em março, e a cenoura, com 31,47% de alta. 

De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), Dorival Balbino, as consequências internacionais da pandemia e fatores naturais internos, contribuem para o cenário econômico.

“Estamos vivendo ainda as consequências econômicas da pandemia de Covid-19. Durante os momentos mais tensos, a demanda internacional estava reprimida. Quando a economia voltou a andar, a demanda por produtos cresceu e isso influenciou os preços dos alimentos no Brasil. Além disso, internamente, tivemos fatores naturais como as geadas que o país enfrentou no meio de 2021, que foram muito negativas para o mercado, com menos alimentos à disposição. Outro fator foi a crise hídrica que o país enfrentou e provavelmente ainda impacta o preço dos alimentos”, explica. Balbino destaca a influência do conflito entre Rússia e Ucrânia no aumento dos preços, como o aumento no preço dos fertilizantes e petróleo, que afetam toda a cadeia produtiva. 

“Do ponto de vista da oferta, acredito que teremos um ano complicado. Com os juros mais altos, a demanda interna deve arrefecer e pressionar menos os preços. Mas ainda assim é uma situação complicada, para o consumidor não será um ano fácil. Com relação aos produtores e revendedores, a situação é ambígua, pois o setor vem de forte recuperação com a abertura econômica. O setor de bares e restaurantes tem se fortalecido desde o ano passado, então esse mercado depende da estratégia de cada estabelecimento. Mas uma coisa é certa, terão de enfrentar a decisão entre diminuir sua margem de lucro ou repassar custos e correr o risco de ver sua clientela diminuir”, completa Balbino.

 

 


 

Segundo Roberto Ottani Junior, sócio-diretor da Mister Ottani e integrante do Grupo de Alimentos e Relacionamento para Food Service (Garfoos), o setor busca alternativas para reduzir os custos e aumentar a produtividade. “Realmente o setor está muito pressionado. As vendas não estão em um nível pré-pandemia e da parte de alimentação, tudo aumentou muito. O consumo dos produtos fora da cesta básica, que não são de primeira necessidade, já começam a reduzir. E a indústria tenta reduzir os custos, aumentar a produtividade com automatização, menos mão de obra, inovar em tecnologias e meios produtivos”, diz o empresário.

O diretor da Mister Ottani, empresa especializada em massas, destaca que os insumos que mais sofreram aumentos durante a pandemia foram a farinha de trigo e o óleo de soja. “Desde o início da pandemia, a farinha de trigo, de 2020 pra cá, teve um aumento de 70% no preço e de 270% no óleo de soja, que são os dois principais insumos que utilizamos. E nós repassamos apenas 25% no preço final, o restante a gente teve que absorver e tentar reduzir os custos de outras maneiras”.

Além do aumento nos insumos, os custos de embalagens e transportes também impactam diretamente no preço dos alimentos. “Com aumento do petróleo, o plástico também subiu e as embalagens ficaram mais caras. Consequentemente, isso afeta os alimentos industrializados. Importante destacar também o aumento do frete, devido ao aumento no combustível, isso também impactou no aumento dos alimentos. Então é um conjunto de fatores que afetou diretamente as indústrias. Embalagem, transporte, insumos, diversos itens sofreram aumento e a indústria alimentícia realmente passa por uma dificuldade muito grande para conseguir absorver e repassar o mínimo possível ao consumidor final”, explica o empreendedor. 


Foto: Pixabay

Compartilhar: