O caminho é para dentro
Educação Socioemocional conquista cada vez mais espaço em Ribeirão Preto, promovendo maior empatia e respeito às diferenças
Diretamente relacionada à falta de convivência com a diversidade e ao aumento da polarização — seja por motivos políticos e sociais, culturais ou religiosos e étnicos — a crescente intolerância, também em ambientes educacionais, tem implicações para a saúde mental e a coesão social. Uma das soluções para isso passa pela inclusão de programas de Educação Socioemocional nas escolas.
Estudo publicado na revista Social Psychology of Education (2020) aponta que quando os estudantes têm maior contato com a diversidade cultural e discutem questões como preconceito e empatia, a intolerância tende a diminuir. Daí a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluir as competências socioemocionais — habilidades como autoconhecimento, controle emocional e empatia — na formação escolar, reforçando a importância de preparar os jovens não apenas para os desafios acadêmicos, mas também para lidar com questões emocionais e sociais no dia a dia.
O professor José Aparecido da Silva, especialista em Inteligência Emocional, sugere que governos e instituições invistam cada vez mais no tema. “Apesar de ainda não haver uma maneira precisa de mensurar todas as facetas da inteligência emocional, seus benefícios já são amplamente observados, e ela tem se mostrado um fator importante no sucesso não só acadêmico, mas também nas relações interpessoais e na liderança. A falta dessas habilidades pode levar a desarmonias e até a atritos sociais maiores”, aponta Silva.
Cenário local
Em Ribeirão Preto, dados recentes apontam um aumento significativo no interesse por programas socioemocionais, especialmente após o período pandêmico. De acordo com um levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Educação (SME), cerca de 40% das instituições de ensino locais já implementaram práticas em suas grades curriculares.
Na rede municipal, o projeto “Mais Vidas”, realizado em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde, atende alunos do 6° ao 9° ano em quatro das 140 unidades. Segundo a SME, cerca de 120 alunos trabalharam temas como suporte social e adolescência, comunicação não-violenta, bullying, ansiedade e depressão. Além disso, desde 2023 os professores realizam o módulo mensal "Saúde Mental" para promover o autocuidado e desenvolver competências socioemocionais.
Coordenadora de um projeto no Colégio FAAP Ribeirão, a psicóloga Marina Candiani Meles destaca como resultados o desenvolvimento da criatividade, pensamento crítico e proatividade dentro do ambiente escolar. “Buscando compreender as nuances que envolvem a adolescência e oferecendo espaços de expressão, acolhimento e escuta, criamos um ambiente de cuidado com a saúde mental que ultrapassa a sala de aula. Com maior compreensão das próprias emoções, aquisição de autoconhecimento e autonomia, entre outras habilidades, os alunos têm mais recursos na resolução de conflitos e conseguem aprimorar as relações interpessoais”, conclui a psicóloga.