USP deve ampliar cotas para negros e estudantes do ensino público em 2018

USP deve ampliar cotas para negros e estudantes do ensino público em 2018

Em Ribeirão Preto, 30% das vagas abertas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras pelo Sisu serão destinadas para o sistema de cotas

O processo seletivo para a Universidade de São Paulo (USP) vai ficar diferente em 2018. Isso porque, deve ser ampliada a forma para candidatos oriundos de escolas públicas e autodeclarados negros, pardos ou indígenas ingressarem na universidade. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) do campus Ribeirão Preto, um terço das vagas disponíveis será destinada para alunos cotistas.

O presidente da Comissão de Graduação da FFCLRP da USP, Joaquim Cezar Felipe, explica que nos 10 cursos da faculdade, que conta com 425 vagas abertas a cada vestibular, em 2018, 30% das vagas serão destinadas via Sistema de Seleção Unificada (Sisu) - porcentagem máxima estabelecida pela universidade, que também tem a Fuvest como forma de ingresso.

Além disso, em quase todos os cursos, este percentual será dividido com 1/3 para escolas públicas e 2/3 exclusivamente para PPIs (Pretos, Pardos e Índios) oriundos de escolas públicas, totalizando 108 vagas para escolas públicas. “Esta decisão vai de encontro ao anseio da comunidade estudantil e representa um importante passo para a inclusão social dentro da Faculdade e também da Universidade de São Paulo, cumprindo esta, de forma mais efetiva, o seu papel junto à sociedade”, afirma Felipe.

Ele lembra que uma das metas da USP é que 50% dos alunos sejam oriundos de escolas públicas, sendo desses 35% do grupo de PPI – proporcional a população autodeclarada negra, parda ou indígena no Estado de São Paulo.

A nova proposta de entrada de estudante na universidade foi comemorada na classe acadêmica. Alguns professores consideraram um grande avanço, por considerarem este ser um meio ainda “muito conservador”. A nova proposta, que deve valer a partir de 2018, inclusive, foi apresentada pelos próprios estudantes da universidade.

O sociólogo e o pesquisador do Centro Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELLAC), Silas Nogueira, acredita que está decisão é muito importante para as lutas dos movimentos sociais. Nogueira acredita que esta não representa uma escolha apenas pela cor de pele, mas sim uma forma de diminuição da exclusão social.

O sociólogo aponta que esta é uma vitória dos movimentos negro e indígena no País, já que as cotas são um objeto de luta muito antiga dos movimentos. “Eles estão historicamente aleijados das benesses e inseridos em uma sociedade desigual, e sofrem as mais graves forma de violência, que é o extermínio. Basta dar uma vista nas notícias”, salienta Nogueira.

Para ele, as cotas são um instrumento de inclusão social, já que o acesso à universidade pública ainda é muito elitizado. Na última semana, o Conselho Universitário da USP divulgou que em 2017 houve um aumento no número de ingressos de estudantes do sistema público de ensino na universidade, que passou de 3.763 (34,6%) para 4.036 estudantes (36,9%).

Em 2017, foram oferecidas 11.072 vagas, sendo 8.734 destinadas a seleção pela Fuvest e 2.338 vagas pelo Sisu. Também foi registrado aumento no número de ingressantes que se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas. Dos 10.944 estudantes matriculados, 2.114 (19,3%) são PPI. Em 2016, essa porcentagem foi de 17,1%.

“O aumento do acesso é uma forma de diminuição da desigualdade, é uma tentativa de reparação da exclusão. Inúmeras pesquisas já constataram que os estudantes cotistas vão bem, e às vezes até melhor do que os não cotistas”, reforça Nogueira, que lembra que deve ser combatida a ideia que as cotas olham apenas para a cor da pele e que são é uma forma de reparação histórica, cultural e social.


Foto: divulgação USP

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