
Entrevista: Maria Eugênia Ugucione Biffi, Secretária Municipal de Cultura
Ativista cultural e candidata à vereança nas duas últimas eleições municipais, a advogada e professora universitária Maria Eugênia Biffi aceita o desafio de ser governo
Jovem – fez 35 anos em outubro –, a nova secretária municipal de Cultura e Turismo de Ribeirão Preto, Maria Eugênia Ugucione Biffi, era mais conhecida como ativista de movimentos culturais antes de começar a concorrer à vereadora, nos pleitos de 2020 (pelo PDT) e 2024 (MDB). Advogada e professora universitária com mestrado em Gestão de Políticas Públicas, presidiu o Conselho Municipal de Políticas Culturais por muitos anos, o que equivale a dizer que já foi “pedra”, cobrando medidas e muitas vezes criticando o poder público municipal. Agora se aventura a ser “vidraça”, em uma pasta que há muitas gestões não recebe as melhores dotações do Orçamento municipal. O desafio não parece assustá-la. Na verdade, Maria Eugênia mostra-se otimista quanto a conseguir realizar algumas das metas que já traçou para sua gestão e atribui sua nomeação a critérios técnicos seguidos pelo prefeito eleito Ricardo Silva (PSD) na escolha de seu secretariado. “Vejo como uma valorização do meu currículo e história”, afirma.
Como e por que ingressou na política?
Desde muito jovem sempre fui uma pessoa que acredita que a política é uma das principais formas de transformação social. Quando os gestores políticos possuem sensibilidade, capacidade e competência para conseguir realizar ações – porque sabemos que o sistema em si é muito mais travado, burocrático e difícil – e estão alinhados com seus propósitos para alcançar as transformações sociais que fazem diferença para a sociedade, isso acontece. Isso tende a ter um outro olhar da população. Estar na política é estar disposta a ter um propósito de vida para melhorar a qualidade de vida das pessoas, para melhorar o viver da sociedade. E isso carrego comigo desde muito nova. Então, na verdade, meu ingresso na política veio com o propósito de realizar e possibilitar fazer transformações e mudanças estruturais e importantes para o desenvolvimento de uma sociedade.
Quais são seus principais planos para a área da cultura durante sua gestão no cargo?
Eu quero que a Secretaria de Cultura e Turismo seja uma referência em sustentabilidade, inclusão e democratização. Preservar e valorizar o patrimônio cultural da nossa cidade, não apenas como uma herança do passado, que é, sim, importante, mas também como algo ativo, vivo, que conecta as gerações e faça com que se tenha interesse em interagir, em conhecer, que seja uma fonte de lazer para as pessoas. Quero descentralizar as atividades culturais, garantindo que a arte e a cultura cheguem em todos os bairros e territórios de Ribeirão, mas principalmente reconhecendo, fortalecendo e valorizando a produção local de cada território. A cultura também precisa ser acessível para todo mundo. Por isso vamosa implementar alguns programas de inclusão e acessibilidade com ações afirmativas, que valorizem a diversidade e que promovam a oportunidade para quem historicamente sempre esteve mais à margem. Além disso, eu quero ocupar os espaços públicos com arte, cultura, teatro, literatura, iniciativas de economia criativa, gerando oportunidades para os artistas e para os pequenos produtores locais criativos. Precisamos também pensar em projetos que sejam voltados para as crianças, para os adolescentes e para as pessoas idosas, para promover acesso à cultura, pertencimento e o próprio orgulho de fazer parte de Ribeirão. E é óbvio que integrar a cultura com a pauta da sustentabilidade ambiental é indispensável, por isso iremos implementar práticas que reduzam o impacto das atividades culturais no meio ambiente.
O que achou do projeto de Requalificação do Centro de Ribeirão Preto, de iniciativa da Acirp?
Sinto que o projeto tem potencial gigantesco. Acho que é possível de ser realizado a partir da soma das forças de todas as partes envolvidas nisso. O objetivo de um projeto de requalificação, de ocupação e de vivência, de tornar vivos os espaços, é conseguirmos atender à população. Então, nosso olhar precisa ser para atender a isso e, também, para garantir direitos, porque o direito à cidade é fundamental de todas as pessoas. Somar forças o poder público, a sociedade civil e o empresariado para que um projeto saia do papel, é esplêndido! Do ponto de vista da implementação, teremos que estabelecer prazos, com bastante tempo – porque existem propostas que vão demandar muito mais tempo até do que, talvez, uma gestão de A, B ou C –, mas para ser um projeto dentro do município e abraçado por todas as partes.
De que forma a Secretaria pode contribuir com esse projeto?
Enquanto poder público, temos algumas responsabilidades das quais não podemos nos afastar. Ao mesmo tempo, é importante ter um olhar específico. Particularmente na Secretaria de Cultura e Turismo, temos no Centro prédios públicos muito expressivos em sua representatividade histórica. Pensar em retrofit [processo de revitalização de prédios antigos que preserva a edificação original] é uma das possibilidades que precisamos destacar nessa ideia de requalificação. É esse olhar do restauro, da modernização das estruturas, mas ao mesmo tempo da preservação do património material e imaterial. Do ponto de vista da manutenção da história, a responsabilidade sobre esses prédios públicos, que têm impacto e fazem parte da nossa memória, sem dúvida nenhuma compõem o que é uma das responsabilidades nossas como poder público.
Sua pasta engloba o turismo. Concorda que existe um potencial turístico em Ribeirão Preto que falta ser explorado?
Sem dúvida. Para além do Centro, temos atividades de impacto turístico que acontecem em diversas partes da cidade. Uma das coisas que podemos explorar mais e potencializar dentro de Ribeirão Preto é o turismo esportivo, por exemplo, que é muito significativo e fez parte de um outro momento da história do município, em que muita gente vinha até aqui. Temos exemplos de atividades esportivas que fazem uma mobilização regional gigantesca, com pessoas vindo de todas as partes do Estado de São Paulo e até de fora para participar. Dentro da cultura, temos determinados eventos realizados no município que envolvem não só o Estado de São Paulo, como vem gente do Brasil todo participar, como a Folia de Reis. Um dos nossos objetivos é potencializar as ações tanto culturais quanto turísticas dos espaços descentralizados da nossa cidade. Um dos objetivos que eu gostaria de conseguir executar durantes esses quatro anos de gestão é transformar e alcançar o nome e o reconhecimento de um município de interesse turístico. Porque potencial para isso nós temos.
Entre os patrimônios valiosos de Ribeirão Preto estão os museus localizados no campus da USP, fechados ao público há um tempo. Qual a atual situação deles?
Ribeirão Preto tem cinco museus: MIS (Museu da Imagem e do Som), Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto), Museu da Guerra, Museu Histórico e Museu do Café, que estão sob responsabilidade da Secretaria de Cultura e Turismo. Nos Museus Histórico e do Café, que ficam na área da USP, começou-se um processo de construção de uma reserva técnica, que tem o objetivo de acolher todo o acervo desses museus para depois iniciar um processo que seria de restauro e de cuidado da estrutura que está lá. Enquanto estiver realizando a construção desse prédio, eu gostaria de começar um processo de análise e avaliação das suas condições. Vamos precisar saber qual peça está em condição de ir direto, qual vamos precisar fazer algum trabalho de restauro, qual vai precisar de um cuidado mais específico. Em paralelo, reativar alguns movimentos que aconteciam nos Museus Histórico e do Café será importante. A minha proposta é reativar esse espaço com atividades nos finais de semana, manifestações culturais, artísticas e musicais. O chorinho de domingo que tinha lá é um marco. Fiz uma solicitação e daremos início, em fevereiro, a uma análise no espaço, para saber se tem condição estrutural de receber [eventos]. O objetivo é reabrir [ao público] nos primeiros 100 dias de Governo.
O que acha do fato de alguns patrimônios históricos e culturais de Ribeirão Preto, como o Theatro Pedro II, não terem um esquema de visitação pública?
Conversei com a Flávia Chiarello [recém-empossada presidente da Fundação Theatro Pedro II] e apresentei a ela a minha proposta de tornar as ações da Secretaria mais acessíveis e inclusivas e ela disse que uma das coisas que vai fazer no Pedro II é isso: abrir o teatro para visitação, havendo o planejamento de como isso acontece. Porque uma das grandes dificuldades que nós temos no poder público é o número reduzido de pessoas. A Flávia está pensando em fazer uma primeira proposta, que seria visitação com escolas públicas para oferecer essa experiência de entrar no teatro.