
“Saúde precisa ser mais acolhedora"
Novo secretário municipal da Saúde revela otimismo após definir primeiras metas da pasta para 2025: diminuir o tempo de espera nas UPAs e reforçar a atenção primária
O médico Maurício Godinho acaba de assumir seu primeiro cargo público. À frente da Secretaria Municipal da Saúde, ele aposta em ações para transformar as unidades de saúde de Ribeirão Preto em espaços mais acolhedores, mas diz que o principal desafio é diminuir o tempo de espera no atendimento de urgência e aumentar a abrangência do programa Saúde da Família.
Em conversa com a Revide, o novo secretário atualizou o prazo de entrega da UPA Ribeirão Verde (era esperada para março) para o segundo semestre de 2025 e admitiu preocupação com uma possível nova epidemia de Dengue na cidade.
Nesses primeiros dias de governo, o senhor já consegue traçar quais serão seus principais desafios na Saúde?
São três os grandes e principais desafios: a atenção primária, o atendimento de urgência e emergência e a questão hospitalar. Nós precisamos melhorar a cobertura da atenção primária na cidade. Hoje, nós temos cerca de 23% de cobertura, o que a gente chama de estratégia de Saúde da Família. O médico vai à sua casa e uma equipe multidisciplinar, com enfermeiro, psicólogo e outros especialistas, acompanham a família. E qual é a vantagem disso? A longo prazo a gente evita que esses pacientes cheguem com doenças crônicas complicadas no hospital, como diabetes, hipertensão, identificação de uma pedra na vesícula... isso a gente consegue corrigir, controlar ou então fazer uma cirurgia antecipada, por exemplo, e evitar uma complicação maior no futuro. Então, o objetivo é aumentar essa cobertura e seguir exemplos de cidades que são modelos em atenção primária, como o Rio de Janeiro, que tem 75% de cobertura de Saúde da Família. Outro desafio é a urgência-emergência. E eu acho que esse é o maior termômetro que a gente tem na Saúde, pois a população entende imediatamente se o serviço está bom ou ruim. Imagine você precisar esperar nove ou dez horas para ser atendido. É natural a insatisfação. Então, nossa meta é ter mais médicos nas UPAs e o menor tempo possível de espera. O terceiro grande desafio é a questão hospitalar, as internações. Vamos começar pelo Hospital Santa Lídia, que é bem estruturado, bonito e no qual a gente entende que é possível aumentar o número de cirurgias, especialidades, internações.
Mas como aumentar essa capacidade hospitalar? Falta gente, recurso? O que pode ser feito na prática?
Eu acredito muito que é uma questão de gestão mesmo, de reestruturação da gestão, de organizar o recurso financeiro dentro da própria pasta. A Saúde é a pasta que tem o maior orçamento, é uma pasta de mais de R$ 1 bilhão. Apesar de ser muito dinheiro, não dá para falar que sobra na saúde, porque a necessidade é muito alta também. Mas é possível organizar melhor.
E o novo prédio do Hospital das Clínicas, que foi tema central na campanha eleitoral, o que é possível atualizar sobre esse tema?
A construção da nova unidade do HC é um fato. O prefeito Ricardo realmente colocou R$ 30 milhões de emenda própria dele para dar o ‘start’ na construção. Ele articulou com o governador, porque isso é uma obra do governo do Estado. A articulação dele como deputado federal, e hoje como prefeito, foi e continua sendo fundamental, mas a obra é do governo estadual. Ele está alinhado com o governador Tarcísio, que quer essa obra. Tanto é que a obra já começou. Tem trator hoje lá fazendo a terraplanagem.
Voltando à atenção primária. Melhorar e aumentar a cobertura do programa Saúde da Família na cidade também é uma questão de organização de recursos?
Nesse caso falta recurso humano específico e uma estruturação do plano de ação. Esse planejamento está sendo feito por uma equipe específica da secretaria. A partir da definição dos distritos e áreas que serão priorizadas, nós vamos iniciar a contratação de profissionais com o mapa completo do que precisamos para otimizar a estratégia da Saúde da Família.
Outro ponto que o senhor apontou como desafio é melhorar o atendimento nas UPAs. Como o senhor pretende fazer isso?
Efetivamente, a gente mudou a escala dos médicos, o que resultou em um aumento de médicos nas UPAs. Então, digamos: na UPA Norte, pela manhã, tem cinco médicos; na UPA Oeste tem três. O gerente que organizava isso. Então, a nossa ideia é homogeneizar todas as UPAs e ter uma quantidade de médicos pré-estabelecida. Então, o que mudou na verdade é a hora médica. Com a nova escala, são mais 3.500 horas por mês de médicos para as UPAs. Isso significa um investimento de mais de R$ 6 milhões no ano. Foi um pedido que eu fiz ao prefeito e ele concordou. Além disso, é possível fazer a contratação de médicos através da Fundação Santa Lídia, por meio de pessoa jurídica. São profissionais que já estão cadastrados na Secretaria e podem prestar esse serviço. O processo de contratação é rápido e os médicos já estão sendo convidados.
Sobre a UPA do Ribeirão Verde: essa unidade vai começar a funcionar em março como informado pelo governo anterior?
Infelizmente essa obra atrasou um pouco. Tivemos acesso ao diário de obra e eu acredito que conseguiremos inaugurá-la em agosto, início do segundo semestre. Além da UPA Ribeirão Verde, também pretendemos inaugurar neste ano a UPA Central, que hoje é o CAPs (Centro de Atenção Psicossocial). Essa UPA foi uma das principais questões do plano de governo do Ricardo. Estamos concluindo um edital para fazer a reforma da unidade e o investimento vai ser de R$ 4,5 milhões. Esse valor já está garantido para a execução da obra. Ou seja, até o fim de 2025 serão seis UPAs. Já o CAPs Central passará a funcionar em um outro prédio. Ainda estamos estudando duas opções estratégicas, mas possivelmente será nos Campos Elíseos.
Recentemente foram confirmados casos de febre amarela em macacos no campus da USP. Como está a situação vacinal e a preocupação da secretaria com uma possível contaminação de humanos?
A guarda universitária, durante as rondas nas matas da USP, encontrou cinco macacos contaminados. Eu acredito que vão encontrar mais, porque isso é a chamada epizootia, que é uma epidemia em primatas não-humanos. Então, entre eles a transmissão está acontecendo através do mosquito, mas é importante reforçar que os macacos não transmitem para a gente. Os transmissores são dois tipos de mosquito que vivem só na mata. Enquanto eles estiverem na mata e o vírus não vier para o meio urbano, isso traz uma segurança, mas a gente não pode ficar torcendo para que isso não aconteça. Então, iniciamos as vacinações. Primeiro, no campus da USP, porque foi lá que foi encontrado. A gente fez um negócio chamado de vacinação bloqueio, que é bloquear mesmo. Todo mundo que está ali dentro, obrigatoriamente, tem a vacina. Os postos estão vacinando normalmente as pessoas. Não tem previsão de falta de vacinas. Nós tínhamos poucas, três mil vacinas, quando assumiu. Já conseguimos mais 20 mil doses com articulação do governo do Estado, e outras 100 mil com o Ministério da Saúde. Pela nossa previsão, temos cobertura para todos que precisam. É diferente da covid, isso a gente precisa deixar claro. Contra covid a gente fez a vacinação em massa, todo mundo tinha que receber. Febre amarela não. Por exemplo, eu recebi uma dose da febre amarela há dez anos. Logo, não preciso mais receber. Estou dispensado dessa vacinação. E tem muita gente assim. No HC, por exemplo, são quase cinco mil pessoas trabalhando e apenas 800 precisaram ser vacinadas.
E em relação à dengue? Ano passado a cidade viveu uma epidemia e recordes de casos…
Trabalhamos com prevenção, com educação da população. A gente ainda não tem vacina para todo mundo. É uma situação do país. A Secretaria vacinou uma parte da população no ano passado, mas não há cobertura para todos ainda. Por isso, a melhor coisa ainda é usar repelente e evitar criadouros do mosquito. E aí a gente está fazendo ações e campanhas para intensificar a prevenção. É um trabalho em conjunto com a Secretaria de Infraestrutura.
Uma reclamação recorrente dos profissionais que atuam na saúde, principalmente em áreas mais vulneráveis da cidade, é a falta de segurança. Há alguma iniciativa para melhorar a segurança nos postos?
No passado, antes da gestão anterior, a gente tinha a Guarda Municipal dentro das unidades. As unidades cresceram de tamanho e os guardas foram retirados delas. O que a gente combinou com o comandante, o superintendente da GCM, Edson Ferreira da Silva, é que nós vamos fazer um modelo de ronda mais efetivo pelas unidades de saúde.
Em resumo, o senhor está otimista em relação ao cumprimento dos planos que o senhor citou?
Eu estou muito otimista porque eu acho que a gente tem um time muito bom. Eu não sou político, não sou de nenhum partido, mas conheci o prefeito. Ele é uma pessoa disposta realmente a fazer mudanças em Ribeirão Preto, e montou um time muito bom de secretários e de assessores. É um time focado na questão humana. É sempre esse o foco das nossas reuniões e discussões. Nossa missão é também tornar o sistema público mais acolhedor. O SUS pode e tem que ser bonito, afinal, é o principal sistema de saúde que a gente tem e precisamos entender dessa maneira. Vamos pintar as paredes de cores mais alegres, deixar as unidades mais acolhedoras. Começamos pela UPA Oeste e vamos fazer em todas. São detalhes que acredito fazerem diferença.
Foto: Luan Porto