Ecossistema de negócios
Foto: Ibraim Leão

Ecossistema de negócios

Ribeirão Preto tem as condições ideais para a criação de novas empresas e startups; especialistas avaliam cenário econômico e de inovação da cidade

Apesar da crise gerada pela pandemia da Covid-19, o empreendedorismo se manteve com relativa estabilidade no Brasil durante o ano de 2021, de acordo com um pesquisa do Sebrae em parceria com a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2021, publicada em março deste ano. O relatório aponta uma ligeira queda no número de empresários, microempreendedores individuais (MEIs) e os empreendedores iniciais que possuem negócios de até 3 anos em operação. Contudo, o volume de empreendedores à frente de um negócio com mais de três anos, chamados de empreendedores estabelecidos, voltou a crescer. O montante subiu de 8,7% da população adulta em 2020, para 9,9% no ano passado.

Especificamente em Ribeirão Preto, o índice de novos empreendedores é acima da média nacional. Segundo Guilherme Malagolli, economista, professor e especialista em empreendedorismo e inovação, esse desempenho se deve ao fato de Ribeirão Preto oferecer uma série de condições atrativas ao empreendedorismo. Entre elas, o capital humano qualificado com muitas instituições de ensino superior, infraestrutura para receber novos empreendimentos, localização geográfica estratégica e instituições de suporte ao planejamento, incubação e aceleração de novos empreendimentos. “Todo este contexto resulta em um chamado ‘ecossistema empreendedor’, que estimula a identificação de necessidades de mercado e a inovação em novos negócios, criando uma cultura empreendedora”, explica Malagolli.
 

O gestor do hub de Inovação do Dabi Business Park, Ricardo Agostinho, avalia que o aumento de empreendedores de alto impacto e novos negócios inovadores é resultado de um processo pelo qual Ribeirão Preto tem passado há anos. “Este processo envolve pessoas qualificadas, investidores, mercado, infraestrutura e o amadurecimento de projetos que incentivam a inovação em um ambiente que cada vez mais tem levado à geração de boas oportunidades para novos empreendedores, mas também para as empresas já estabelecidas”, detalha Agostinho. Esse ambiente fértil reflete a própria história profissional do gestor. Segundo Agostinho, boa parte dos fatores que construíram o cenário atual já estavam presentes há mais de uma década em Ribeirão Preto. “O que me trouxe até esse meio, foi justamente o desafio de construir essas novas oportunidades de negócios, com alto potencial de criar emprego, renda e bem-estar para a nossa comunidade.  O que nos fez evoluir ao ponto de hoje foram movimentos e projetos como o Mover e o Ribeirão Valley que foram capazes de reunir essas vantagens em favor da geração de novos negócios”, lembra.


Recalculando rota 

Apesar de ter as bases sólidas para a criação de novos negócios, a pandemia chacoalhou o mercado em Ribeirão Preto. Além de todos os fatores negativos da crise, uma das mudanças mais relevantes neste período foi comportamento do consumidor. “Na verdade, a pandemia acelerou uma mudança de comportamento que já estava em curso, mas que se intensificou rapidamente com o isolamento social. Neste período, os consumidores assimilaram mais rapidamente novas tecnologias de compras e de pagamentos”, pontua Malagolli. Características como praticidade, rapidez e segurança passaram a ser mais valorizadas na decisão de compra. Houve um contato mais frequente com startups que ofereciam estas características. Assim, as plataformas digitais e e-commerces ganharam força. Em 2019, o comércio eletrônico representava 5% do faturamento do varejo no país, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), indicando que a maior parte dos consumidores brasileiros não tinha o hábito de fazer compras online. Em 2021, essa taxa mais que dobrou, para 11,6%.  Agostinho acrescenta que, por parte das empresas, soluções focadas em necessidades urgentes geradas como a pandemia como o próprio e-commerce, ensino à distância, telemedicina, teletrabalho ganharam tração. “Por outro lado, a necessidade das pessoas se aproximarem e se conectarem ficou mais evidente, seja por ferramentas online, mas principalmente na relação presencial, que se mostrou efetiva e extremamente necessária para as pessoas e para os negócios”, pondera o gestor.

Problemas e soluções 

Criar uma startup é criar uma solução para um problema. Esse é o conceito que norteia a maioria dos empreendedores. O planejamento e a estratégia para resolver esse problema de forma eficaz e acessível aos clientes são pontos importantes. “Não existe sucesso sem trabalho e planejamento”, aconselha Agostinho. Segundo o gestor do hub de Inovação do Dabi Business, a dica é olhar mais para fora, para as pessoas, para as empresas do que propriamente para dentro da startup. “O segundo passo é procurar o apoio para desenvolver sua solução. E aí, vai outra dica: muitos empreendedores passam por problemas semelhantes. Por isso, procure se conectar com outras startups, buscar mentores e profissionais que possam oferecer auxílio, ideias e tenham experiência em processos e gestão”, indica Agostinho. Todavia, esse processo de planejamento do empreendimento esbarra em um desafio muito comum que é o acesso ao crédito. “Temos também boas opções de suporte para o empreendedor que busca fontes de financiamento. Um dos vários exemplos é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) do Sebrae, que foi criado durante a pandemia e que, em 2021, o governo transformou em uma política pública permanente”, orienta Malagolli. 


Fotos: Revide

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