Biólogos continuam processo de adaptação de elefanta Bambi para caixa de transporte

Biólogos continuam processo de adaptação de elefanta Bambi para caixa de transporte

Elefanta será transferida do Bosque Fábio Barreto, em Ribeirão Preto, para o Santuário de Elefantes no Mato Grosso

*Matéria atualizada às 18h10 de terça-feira, 22

Desde a última sexta-feira, 18, biólogos, veterinários e profissionais do Bosque Fábio Barreto, em Ribeirão Preto, realizam o processo de aclimatação da elefanta Bambi à caixa de transporte. O animal será transferido de Ribeirão Preto para o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso.

Os profissionais estimavam que a elefanta fosse transferida nesta terça-feira, 22, mas uma nova tentativa será feita nessa quarta, 23. Segundo o biólogo Daniel Moura, diretor do Santuário, apesar da estimativa, o processo leva em consideração o tempo de adaptação do próprio animal.

"Nesse processo de aclimatação, o animal entra e sai da caixa, sente o cheiro dela e o estimulamos de maneira positiva a ficar lá. Mas o processo tem que ser natural, sempre no tempo do elefante, nunca no tempo do humano", explicou Moura.

Durante a manhã e o início da tarde desta terça, os profissionais tentaram fechar a caixa, porém, a elefanta se sentiu desconfortável e mostrou resistência. "Quando o animal mostra resistência, nós voltamos à estaca inicial, não o forçamos", acrescentou Alexandre Gouvêa, diretor do Bosque. Como a elefanta ainda não se adaptou, uma nova tentativa será feita nessa quarta-feira. 

A viagem para o SEB será feita em um caminhão adaptado para esse tipo de transporte e deverá durar cerca de 30 horas. Uma equipe com veterinários acompanhará o comboio que ainda terá escolta da Polícia Rodoviária Federal.

Moura frisa que nenhum tipo de sedativo é utilizado durante o procedimento de aclimatação nem durante a viagem. "É um transporte ético", comentou. O diretor do Santuário ressalta que este é o sétimo elefante a ser transferido e com o menor tempo de viagem.

Para a equipe do Bosque, fica a saudade do animal "A Bambi vai e a saudade fica. Temos amor por todos os animais, mas ela se tornou um caso emblemático", ressalta Gouvêa. Após a saída da Bambi, o Bosque Fábio Barreto ainda segue com a segunda elefanta, a Maison. "Assim como a Bambi, a Maison também está muito bem", conclui o diretor do Zoo.

Entenda o caso

A polêmica sobre uma possível transferência dos animais ganhou força após a ativista Luiza Mel iniciar uma campanha nas redes sociais. Mel alega que o Bosque Fábio Barreto não possui a estrutura necessária para manter os animais.

"Capturada da natureza, explorada, humilhada e abusada pelo Circo Stancowich durante quase toda sua vida. Quando foi resgatada pelo Ibama estava neurótica, estressada... foi levada para um Zoo em Lema e depois transferida para o Zoo em Ribeirão Preto. Para continuar a entreter as pessoas. Está definhando a cada dia", escreveu Mel.

A ativista ainda marcou o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) e solicitou que seus seguidores o pressionassem. A postagem ainda teve o apoio de celebridades como o padre Fábio de Melo e a atriz Paula Burlamaqui.

Luiza Mel também criou um abaixo-assinado pedindo a transferência das elefantas para o SEB, na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. "É conhecida a inabilidade dos zoológicos em preservar o bem estar dos animais que lá vivem, estes locais são incapazes de reproduzir o habitat desses animais [...]. O Santuário de Elefantes Brasil tem real capacidade para arcar com a transferência e proporcionar uma vida em liberdade com assistência especializada", escreveu.

Porém, as declarações de Mel não agradaram os biólogos e profissionais que trabalham no Bosque. “A saúde delas está estável, passam por exames e acompanhamento médico veterinário regularmente. A alimentação é balanceada e adequada à espécie, com dieta baseada em alfafa, capim, cana de açúcar, ração equina e fruta como enriquecimento alimentar. Elas têm água à disposição 24 horas e os alimentos são oferecidos várias vezes ao dia. Chegam a comer entre 100 e 150 quilos diariamente cada uma”, esclarece o médico veterinário e encarregado do Bosque, César Branco.

Sobre uma possível transferência para outro empreendimento, a bióloga Marisa dos Santos, que há 26 anos atua no Bosque Zoo, desaconselhou a medida, considerando a idade avançada dos animais e suas peculiaridades, como o caso de Bambi, que é cega de uma olho e tem problemas de dentição.

“Ela passou a vida toda em circo e depois em zoológico. É um animal muito idoso e tem um cuidado especial na sua alimentação, com comida que não seja muito dura para não prejudicar ainda mais sua dentição. Ela se sente segura perto de pessoas. Ser transferida sozinha, nessa idade, sem nenhum tipo de treinamento e ser submetida a uma longa viagem seria fator de estresse muito grande a um animal que está adaptado num lugar, que reconhece seus cuidadores e tem tratamento especial de alimentação. Aqui ela também recebe enriquecimento ambiental com atividades para se exercitar e para agradá-la, uma série de cuidados para o bem-estar animal que talvez se percam num ambiente em que ela se encontre sozinha e venha a sofrer muito”, orienta a bióloga.

Na ocasião, a direção do Fábio Barreto informou também que com os empreendimentos do Estado de São Paulo, o bosque é fiscalizado pela Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais do Estado de São Paulo (CBRN), Departamento de Fauna (DeFau) e nacionalmente pela Associação de Aquários e Zoológicos do Brasil (AZAB), sendo assim, o local recebe orientações e fiscalizações constantes.

Contudo, no dia 17 de agosto, a Justiça autorizou a transferência da elefanta SEB, no Mato Grosso. A decisão não cita a elefanta Maison. A decisãopartiu do desembargador Roberto Maia, da 2ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP).


Foto: Daniel Gouvêa

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