Crise ecológica

Crise ecológica

Semana do Meio Ambiente promove a conscientização sobre políticas públicas, legislações e comportamentos individuais em respeito à Natureza e à vida

O Dia Mundial do Meio Ambiente — celebrado em 5 de junho —, convida à reflexão sobre os impactos das ações humanas no planeta. Em um momento em que as mudanças climáticas deixam de ser uma previsão para se tornarem secas prolongadas, ondas de calor e eventos extremos cada vez mais frequentes, torna-se essencial repensar políticas públicas, legislações e comportamentos individuais. No Brasil, debates recentes sobre a flexibilização das leis de licenciamento ambiental levantaram preocupações sobre o futuro da proteção ambiental. Em Ribeirão Preto, os desafios são cada vez mais visíveis: desmatamento urbano, falta de áreas verdes, problemas com gestão de resíduos e pressão sobre os recursos hídricos.

 

Para entender melhor esse cenário, conversamos com Roberta Montanheiro Paolino, docente do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto,  Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), doutora em Ecologia Aplicada, pós-doutora em Sustentabilidade, membra da Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil e do Instituto Ribeirão -3°C. Especialista no tema, ela faz uma reflexão atual e necessária sobre o papel da sociedade, do poder público e das políticas ambientais no enfrentamento da crise ecológica.


 

A crise climática deixou de ser um problema futuro e passou a impactar nosso presente. Que sinais concretos você observa no Brasil e especificamente em Ribeirão Preto e região?

 

Nos últimos anos, temos visto diversos sinais concretos da crise climática no Brasil, como as enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios no Pantanal, a seca no Amazonas, bem como o aumento do período seco, das temperaturas e das tempestades em Ribeirão Preto e região.

 

Recentemente houve polêmica em torno da flexibilização da Lei de Licenciamento Ambiental no Brasil. O que está em jogo com essas alterações e quais os possíveis impactos para a proteção ambiental?

 

Tem muito em jogo com essas alterações e os impactos são enormes e gravíssimos. Em resumo, o PL 2159/2021 acaba com o processo de acompanhamento dos empreendimentos pelo estado, transformando a concessão de licenças em uma licença única e até permitindo o autolicenciamento em alguns casos. Isso retira a avaliação técnica e diminui a aplicação de medidas para prevenir, reduzir e compensar impactos negativos. Além disso, esse PL retira a necessidade de audiências públicas do processo, impedindo a participação popular e não respeita terras indígenas e quilombos em processo de criação.

 

Ribeirão Preto cresceu muito nos últimos anos. Como esse crescimento tem impactado o meio ambiente local, em termos de arborização urbana, qualidade do ar, tratamento de água e gestão de resíduos?

 

Quando o crescimento urbano ocorre sem um planejamento adequado, temos graves impactos ambientais. Em Ribeirão Preto temos visto a extração de um grande número de árvores para dar lugar a vias e construções. Além disso, o aumento no número de carros nas ruas está contribuindo para a diminuição da qualidade do nosso ar. Temos ainda em Ribeirão Preto, locais onde não há recolhimento e tratamento de esgoto e nossa cidade, infelizmente, possui muito lixo descartado incorretamente. Isso aumenta o risco de doenças e de incêndios. A questão dos resíduos sólidos é urgente em nossa cidade, que precisa incentivar a coleta seletiva para reciclagem junto à população e trabalhar na limpeza urbana e na educação dos cidadãos e cidadãs.

 

Quando falamos em lixo, reciclagem e educação ambiental, Ribeirão Preto está fazendo o básico ou ainda temos um longo caminho pela frente?

 

A questão do lixo é uma das mais sérias no que se refere ao meio ambiente de Ribeirão Preto. No ano passado, a coleta seletiva voltou a ser executada pelo poder público, o que foi um grande avanço. Porém, precisamos trabalhar muito a educação ambiental da população, bem como organizar e valorizar os catadores independentes para aumentar o potencial de reciclagem na cidade, além de gerar renda.

 

E quanto à água? Considerando a crise hídrica e o uso intensivo no agronegócio, Ribeirão tem uma gestão sustentável desse recurso tão essencial?

 

Ribeirão Preto tem uma enorme responsabilidade quanto ao uso e a conservação da água, pois dependemos do Aquífero Guarani e precisamos cuidar das áreas de recarga, as quais têm sofrido com a especulação imobiliária, aumentando as áreas permeáveis na cidade. Para que tenhamos uma gestão sustentável, precisamos também de esforços de manutenção das redes de distribuição, a fim de evitar vazamentos e consequente perda de água. O uso intensivo no agronegócio pode ser reduzido por meio de pesquisa de novas tecnologias. Tendo em vista o agravamento das secas, que resultará em crises hídricas mais severas, precisamos cuidar dos nossos corpos de água e nascentes, preservando as matas ciliares e combatendo a poluição.

 

Com relação à agricultura e às formas regenerativas de produção, o que você pode acrescentar?

 

Nesse sentido, gostaria de ressaltar o alto e importante potencial dos sistemas agroflorestais na restauração do equilíbrio ecossistêmico e na conservação da biodiversidade, unidas à produção agrícola. As agroflorestas, cultivos agrícolas junto a espécies nativas, são uma excelente alternativa, bem como a produção orgânica, livre de agrotóxicos.

 

Como o cidadão comum pode colaborar de forma efetiva com a preservação ambiental em seu dia a dia, além das ações simbólicas?

 

Cada cidadão e cidadã tem um papel crucial na preservação ambiental. Ações no dia a dia de cada pessoa, como a separação do lixo orgânico do reciclável, economia de água e energia, consumo consciente de produtos social e ambientalmente responsáveis, plantar espécies vegetais adequadas em suas casas, além de pressionar o poder público por políticas de preservação ambiental. Em cada compra, em cada ato, fazemos a diferença.

 

Existe alguma política pública ou iniciativa local que destacaria como um exemplo positivo em Ribeirão Preto ou região?

 

Destaco aqui, além do Plano de Áreas Verdes e Arborização Urbana, que é uma política pública extremamente bem-feita e essencial para a cidade, o Verdejamento das Escolas Municipais, ação da Prefeitura, junto às Secretarias de Educação e Meio Ambiente, o qual teve participação do Instituto Ribeirão -3o C, que realizou um projeto de plantios qualificados nas escolas, melhorando a qualidade dos espaços para os alunos e professores, além de instalar composteiras e trabalhar com a educação ambiental. Esse está sendo um projeto pioneiro e transformador, que me traz muita alegria e orgulho.

 

Que mensagem você deixaria para os leitores neste Dia do Meio Ambiente?
 

Lembrem-se sempre que vocês são Natureza, que tudo na Terra está interligado e precisamos cuidar bem da nossa casa comum. Todas as formas de vida merecem respeito. Vocês têm o poder de fazer um mundo melhor, não desanimem, vamos trabalhar para deixar um planeta sadio para as futuras gerações.


Foto: Lucas Nunes

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