Justiça determina a transferência da elefanta Bambi de Ribeirão para santuário

Justiça determina a transferência da elefanta Bambi de Ribeirão para santuário

Elefanta está no Bosque Municipal Fábio Barreto, em Ribeirão Preto, e vai para o Mato Grosso

A Justiça determinou a transferência da elefanta Bambi do Bosque Municipal Fábio Barreto para o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), no Mato Grosso. A decisão não cita a elefanta Maison.

A decisão, publicada na segunda-feira, 17, partiu do desembargador Roberto Maia, da 2ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP).

A disputa jurídica teve início após um agravo de instrumento pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal contra a decisão em primeira instância a favor da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Na decisão, o desembargador declarou haver indícios de maus tratos ao animal. 

"Destaco a existência de imagens e laudos técnicos dando plausibilidade às alegações de maus tratos, robustecida pela insatisfação popular, além do perigo existente, desde o próprio prolongamento do sofrimento em si, como possível morte do elefante e a especialização do SEB para acolhimento deste espécime", escreveu Maia.

Por meio de nota, o Bosque declarou que respeita a decisão judicial. A direção do Zoo contou que cuida da elefanta há seis anos, mediante a autorização da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, oferecendo os cuidados com sua saúde física, mental e nutricional. 

Ainda segundo o Bosque, Bambi possui idade avançada para a espécie. Atualmente, ela tem 58 anos, sendo que o registro mais velho de um animal semelhante em cativeiro foi de 62 anos.

"A preocupação com a transferência da Bambi continua, já que a distância é longa pelo fato de a elefanta também apresentar problemas de saúde "deslocamento de retina bilateral, catarata bilateral e lesão óssea crônica inflamatória em membro posterior direito)", explicou o Bosque.

A polêmica

A polêmica sobre uma possível transferência dos animais ganhou força após a ativista Luiza Mel iniciar uma campanha nas redes sociais. Mel alega que o Bosque Fábio Barreto não possui a estrutura necessária para manter os animais.

"Capturada da natureza, explorada, humilhada e abusada pelo Circo Stancowich durante quase toda sua vida. Quando foi resgatada pelo Ibama estava neurótica, estressada... foi levada para um Zoo em Lema e depois transferida para o Zoo em Ribeirão Preto. Para continuar a entreter as pessoas. Está definhando a cada dia", escreveu Mel.

A ativista ainda marcou o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) e solicitou que seus seguidores o pressionassem. A postagem ainda teve o apoio de celebridades como o padre Fábio de Melo e a atriz Paula Burlamaqui.

Luiza Mel também criou um abaixo-assinado pedindo a transferência das elefantas para o Santuário de Elefantes Brasil, na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. "É conhecida a inabilidade dos zoológicos em preservar o bem estar dos animais que lá vivem, estes locais são incapazes de reproduzir o habitat desses animais [...]. O Santuário de Elefantes Brasil tem real capacidade para arcar com a transferência e proporcionar uma vida em liberdade com assistência especializada", escreveu.

Porém, as declarações de Mel não agradaram os biólogos e profissionais que trabalham no Bosque. “A saúde delas está estável, passam por exames e acompanhamento médico veterinário regularmente. A alimentação é balanceada e adequada à espécie, com dieta baseada em alfafa, capim, cana de açúcar, ração equina e fruta como enriquecimento alimentar. Elas têm água à disposição 24 horas e os alimentos são oferecidos várias vezes ao dia. Chegam a comer entre 100 e 150 quilos diariamente cada uma”, esclarece o médico veterinário e encarregado do Bosque, César Branco.

Sobre uma possível transferência para outro empreendimento, a bióloga Marisa dos Santos, que há 26 anos atua no Bosque Zoo, desaconselha a medida, considerando a idade avançada dos animais e suas peculiaridades, como o caso de Bambi, que é cega de uma vista e tem problemas de dentição.

“Ela passou a vida toda em circo e depois em zoológico. É um animal muito idoso e tem um cuidado especial na sua alimentação, com comida que não seja muito dura para não prejudicar ainda mais sua dentição. Ela se sente segura perto de pessoas. Ser transferida sozinha, nessa idade, sem nenhum tipo de treinamento e ser submetida a uma longa viagem seria fator de estresse muito grande a um animal que está adaptado num lugar, que reconhece seus cuidadores e tem tratamento especial de alimentação. Aqui ela também recebe enriquecimento ambiental com atividades para se exercitar e para agradá-la, uma série de cuidados para o bem-estar animal que talvez se percam num ambiente em que ela se encontre sozinha e venha a sofrer muito”, orienta a bióloga.

Nas redes sociais, um texto assinado por dois funcionários do Bosque também critica as denúncias feitas por Mel a respeito dos zoológicos. "É antigo o conceito de que zoos retiram animais da natureza para exposição. Aqui no Brasil, hoje, zoológicos atuam na reabilitação de animais resgatados, programas de soltura, conservação de espécies e educação ambiental – algo muito importante para conscientizarmos as pessoas sobre acidentes com animais silvestres em estradas, sobre a preservação dos mesmos devido o avanço urbano, sobre poluição e o prejuízo que isso trás pro meio ambiente, entre inúmeras outras coisas", alega o texto dos funcionários.

A direção do Fábio Barreto informou também que com os empreendimentos do Estado de São Paulo, o bosque é fiscalizado pela Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais do Estado de São Paulo (CBRN), Departamento de Fauna (DeFau) e nacionalmente pela Associação de Aquários e Zoológicos do Brasil (AZAB), sendo assim, o local recebe orientações e fiscalizações constantes.

Parecer estadual

No dia 11 de julho, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo emitiu parecer favorável para a permanência das elefantas no Bosque. 

De acordo com o parecer do Estado, enviado para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, foram considerados a idade avançada dos animais, a condição de saúde e o estresse do transporte de longa distância para uma eventual transferência ao santuário dos elefantes, localizado no Estado do Mato Grosso.

No documento, a Secretaria do Estado ressalta que “não há garantias de que tal santuário conte efetivamente com equipe técnica semelhante a existente no zoológico, tampouco que os animais lá destinados teriam desfecho feliz, considerando que, de quatro elefantes recebidos no local, dois morreram”.

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Foto: Reprodução Redes Sociais

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