Arcebispo de Sertãozinho é um dos organizadores do Conclave, que começa em 7 maio

Arcebispo de Sertãozinho é um dos organizadores do Conclave, que começa em 7 maio

Escolha do sucessor de Papa Francisco divide a Igreja Católica e foi tema de filme indicado ao Oscar

Sob o céu nublado de Roma, milhares de fiéis, líderes políticos e religiosos de todo o mundo acompanharam a missa de funeral de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, o primeiro latino-americano e jesuíta da história a ocupar o cargo mais alto da Igreja Católica. Francisco morreu aos 88 anos, no dia 21 de abril. O corpo foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maior após três dias de funeral aberto ao público na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

 

À frente da organização das cerimônias, Dom Ilson de Jesus Montanari, arcebispo natural de Sertãozinho que atuou em igrejas da região e cursou Direito na Universidade de Ribeirão Preto, desempenha papel crucial. Aos 65 anos, Montanari é secretário emérito do Dicastério para os Bispos (uma espécie de tribunal ou escritório) e um dos mais próximos colaboradores da Cúria Romana. Ele ocupa a posição de segundo camerlengo na hierarquia do Vaticano, sendo responsável pela administração dos assuntos correntes da Santa Sé durante o período de Sé Vacante — intervalo entre a morte de um Papa e a eleição de seu sucessor. Hierarquicamente, Dom Ilson está abaixo apenas do cardeal irlandês Kevin Joseph Farrell, que anunciou oficialmente o falecimento do Papa Francisco. Dom Ilson também é um dos responsáveis pela organização do pleito que vai escolher o próximo Papa, processo chamado de Conclave, termo que, como lembra o pesquisador Gilberto Abreu, compartilha raízes latinas com "conchavo": decisões tomadas a portas fechadas. "Roma sempre foi palco de lutas e interesses divergentes. E ainda é", observa.

 

O processo é rigoroso: para ser eleito, um cardeal deve obter dois terços dos votos, o que hoje equivale a 90 votos dos 135 votos possíveis. Seis a nove votações podem ocorrer por dia, sempre precedidas de momentos de oração e reflexão. A fumaça preta (fumata nera) indica que nenhum Papa foi escolhido; a branca (fumata bianca), o sinal esperado pelo mundo.

 

“Os 135 cardeais são meros coadjuvantes. O verdadeiro presidente do Conclave é o Espírito Santo. O novo Papa já está no coração de Deus. Não cabe a nós tentar apontá-lo. Devemos rezar para que seja um homem de profunda fé e humildade”, resume padre Gilberto Kasper, que atua na Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, ocalizada no bairro Campos Elíseos. A expectativa é de que o Conclave atual dure de três a cinco dias, mas especialistas advertem que forças conservadoras e progressistas medirão forças intensamente, um cenário que pode tanto acelerar quanto atrasar o processo.

 

Além da nomeação de Don Ilson, uma das primeiras do seu papado, Francisco foi importante pela sua representatividade, explica o padre Kasper. “Ele foi o Papa da Misericórdia, Ternura e Humildade. Ele quebrou paradigmas, abriu as portas do Vaticano e testemunhou a configuração com Cristo, o Bom Pastor. Para a nossa região, o legado do Papa Francisco é enorme, afinal ele nos conclamou a viver uma Igreja Sinodal, pedindo que 'caminhássemos juntos' e 'rezássemos por ele', já em seu primeiro pronunciamento", explica.

 

“MUROS POR PONTES”

 

Desde sua eleição em 2013, Francisco não se limitou a palavras. "Ele derrubou muros e construiu pontes", descreve padre Kasper. "Fez refeições simples no 'bandejão' da Casa Santa Marta, rejeitou os luxos do Palácio Apostólico, vestiu paramentos simples e carregou sempre um sorriso genuíno, mesmo diante das maiores dores internas." Francisco também revolucionou a política ambiental da Igreja. "Sua preocupação climática ficou evidente quando nomeou o primeiro Cardeal da Amazônia", lembra Gilberto Abreu. "Era sua resposta concreta à catástrofe climática que vivemos."

 

A escolha de seu nome, Francisco, veio por sugestão do brasileiro Dom Cláudio Hummes. "Uma homenagem a Francisco de Assis, símbolo da simplicidade e da fraternidade", conta Abreu. Mas o pontificado não foi imune a resistências. "Há uma parcela significativa que comemora sua morte", lamenta Abreu, "revelando um Brasil ainda impregnado de mentalidade colonialista e conservadora. Mas as tensões sempre fizeram parte da história: na Reforma Protestante, nas lutas sociais do século XIX, nos totalitarismos do século XX", enumera Abreu. "Hoje, vivemos o embate entre renovação e retrocesso." Padre Kasper deixa um recado claro aos católicos: “O Papa que sair do Conclave se anula para servir exclusivamente ao Reino de Deus. Nunca mais usará suas roupas favoritas, nunca mais voltará para sua casa. Quem somos nós para julgar alguém assim?".

 

OS FAVORITOS E O PAPEL DOS BRASILEIROS

 

O Brasil é o país com maior número de católicos no mundo. Segundo a própria igreja, mais de 120 milhões de brasileiros se declaram católicos. Mas o próximo Papa não deve ser daqui, apontam especialistas. Entre os favoritos despontam nomes como o cardeal Matteo Zuppi, de Bolonha, visto como um progressista moderado, e o ganês Peter Turkson, que poderia representar uma guinada africana prevista há décadas por Bento XVI. Também são mencionados por publicações especializadas o cardeal filipino Luis Antonio Tagle e o húngaro Péter Erdő, favorito dos mais conservadores.

 


Foto: Divulgação / Vatican News

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