Operação Sevandija: delator relata compra de carros por ex-presidente do Sindicato dos Servidores
Em 2017, Wagner Rodrigues afirmou que recebeu R$ 1,2 milhão, porém não teria mais o dinheiro

Operação Sevandija: delator relata compra de carros por ex-presidente do Sindicato dos Servidores

Wagner Rodrigues foi condenado a 11 anos de prisão, mas, por ser delator, está em regime aberto

O ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto Wagner Rodrigues teria comprado quatro carros com um crédito adquirido pelo advogado Sandro Rovani em uma loja de veículos por meio de cheques de Maria Zuely Librandi, recebidos como honorários advocatícios da Prefeitura de Ribeirão Preto.

A informação consta na colaboração premiada do empresário José Ricardo Arruda, que foi anexada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Publico de São Paulo no processo que apura esquema de lavagem de dinheiro nos esquemas investigados na Operação Sevandija.

Entre as informações que o empresário, que não é réu na Sevandija, prestou junto aos promotores do Gaeco, está a de que Sandro Rovani, que foi condenado a 14 anos e 8 meses na Sevandija, descontaria cheques recebidos de Maria Zuely Librandi na loja de carros do delator, que recorria a Rovani, em razão de conseguir obter crédito fácil sem burocracia. As transações começaram em 2013, quando Rovani trabalhou em uma causa para a empresa de Arruda.

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Segundo a colaboração protocolada ao processo, as transações ocorreram entre os anos de 2013 a 2016. No documento, o empresário relata que Sandro Rovani o procurou, em 2014, para dizer que conhecia Wagner Rodrigues e para que autorizasse a venda de um carro Spacefox e "garantir" o pagamento, além de dizer que "fariam o "acerto depois.

O valor seria abatido de uma dívida de Arruda com o advogado, proveniente dos cheques repassados por Rovani “acumulada depois de receber diversos cheques do Librandi &Librandi”. Arruda ainda informou ao Ministério Público que, meses após essa primeira compra, em dezembro de 2014, Wagner Rodrigues comprou um Fiat Doblo em situação parecida na aquisição do Spacefox.

Em 2015, o ex-presidente do Sindicato dos Servidores voltou a procurar a loja de veículos para comprar uma Volkswagen Tiguan. “[...] Os veículos foram entregues e os valores abatidos da dívida que o colaborador havia com Sandro Rovani”, aponta a colaboração, que relata que outro negócio parecido foi realizado em 2016, para a compra de uma Mitsubishi Pajero. Ele informa que o veículo foi registrado no nome da sogra de Wagner Rodrigues.

No mesmo ano, em agosto, um mês antes da deflagração da Sevandija, o colaborador disse que foi procurado por uma mulher que se dizia esposa de Wagner Rodrigues para revender a Mitisubish Pajero. A devolução do veículo foi negociada em R$ 80 mil. “[...] em todas as ocasiões, Sandro afirmava que Wagner Rodrigues tinha feito o pagamento dos automóveis para ele e solicitava ao depoente que descontasse da dívida que tinha com o próprio Sandro Rovani”, aponta no documento.

Em novembro de 2017, ao prestar depoimento à Justiça de Ribeirão Preto, Wagner Rodrigues, que é um dos delatores da Sevandija e contou ao Ministério Público sobre o esquema que envolvia, entre outros, a ex-prefeita de Ribeirão Preto Dárcy Vera, afirmou que recebeu R$ 1,2 milhão, porém teria gastado toda a quantia. “Quando me toquei de guardar, o dinheiro já havia acabado”, declarou o ex-presidente do sindicato, à época.

Em setembro, Wagner Rodrigues foi condenado a 11 anos de prisão, porém, por ter realizado a delação premiada, cumpre a sentença em regime aberto.

O advogado de Wagner Rodrigues, Daniel Rondi, informa que ainda não teve conhecimento da delação e disse que é preciso que as provas das acusações sejam apontadas. “Eu não tive acesso à delação premiada. Não estou sabendo disso. Eu tenho a preocupação de, às vezes, de aproveitar uma situação na outra. Por exemplo: ‘já que os carros estão no meu nome, vou falar que é do Wagner’. Tem que provar isso. Igual ao Wagner fez. Disse como era, indicou documentos, falou como funcionava. Fez prova. Ele não é imune à Justiça. Ele vai responder pela acusação que tiver”, comentou o advogado Daniel Rondi.

O advogado de Sandro Rovani, Julio Mossin, disse ao juízo, nesta quarta-feira, 28, que pretendia estudar o acordo e, por isso, solicitou que a audiência que estava marcada pela manhã fosse transferida para o dia 5 de dezembro. “Pretendo estudar esse acordo, porque pode surgir perguntas em relação aos dois”, sugeriu.

Já a defesa do empresário, ao ser abordada pela reportagem na saída do Fórum de Ribeirão Preto, preferiu não se manifestar.


Foto: Arquivo Revide

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