"A disputa ter ido para o segundo turno foi surpreendente", avalia cientista político
“Podemos considerar que 40% foi uma renovação bastante expressiva da Câmara”

"A disputa ter ido para o segundo turno foi surpreendente", avalia cientista político

Cientista político Luiz Rufino analisa a junção de fatores que levou os candidatos Ricardo Silva (PSD) e Marco Aurélio (Novo) ao segundo turno

O cientista político Luiz Rufino também foi pego de surpresa pelo resultado das urnas em Ribeirão Preto. A maioria das pesquisas apontava para uma vitória no primeiro turno do candidato Ricardo Silva (PSD).

 

Contudo, o segundo turno será disputado entre o candidato do PSD e Marco Aurélio (Novo). Rufino analisa a junção de fatores que levaram os candidatos ao segundo turno bem como a nova composição da Câmara Municipal dos Vereadores.

 

Como você avalia a disputa do segundo turno à Prefeitura em Ribeirão Preto?

 

A disputa ter ido para o segundo turno foi surpreendente. Pegou os analistas de calças curtas, não imaginávamos que poderia ter essa reviravolta. As pesquisas, em sua maioria, não mostravam isso. Na reta final o eleitor votar em um novato na política é muito rato. Somente uma pesquisa mostrava um cenário diferente do que a vitória do Ricardo Silva no primeiro turno.

 

Tendo em vista que a vaga de Ricardo Silva no segundo turno era tida como garantida, a disputa pela segunda vaga ficou entre o PT e o partido Novo. Acredita que a ida de Marco Aurélio para o segundo turno mostra que a Direita conservadora ainda tem muita força em Ribeirão?

 

Se observamos desde o início da campanha, cresceu a quantidade de votos no PT e no André [Trindade], mas surpreendentemente os votos cresceram ainda mais no Marco Aurélio. O André não conseguiu emplacar, o Jorge Roque tradicionalmente conseguiu mais do que o PT costumava conseguir. Porém, o que foi levado em consideração pelo eleitor foram alguns fatores: rejeição ao Ricardo Silva, inexistência de um representante da Direita – o André não conseguiu catalisar esse eleitorado e teve muita rejeição do [Duarte] Nogueira transferida – e o cansaço da ideia de votar em políticos tradicionais. O discurso antissistêmico foi validado.

 

Vamos lembrar que o partido Novo é Liberal, não é conservador. Liberal tanto na economia quanto nos costumes. Só que nesse caso, ele [Marco Aurélio] parte da teologia da prosperidade, o que trouxe um eleitorado evangélico. As somatórias dessas causas o levaram para o segundo turno. Eu posso dizer que a aposta do Marco Aurélio era uma só: o debate da TV Clube. Em uma analogia ao futebol, foi o jogo de uma bola só. Porque ali se apresentou antissistema e conseguiu catalisar todas as nuances da campanha: a rejeição ao Ricardo, a crítica ao sistema, a teologia da prosperidade, e cansaço e a rejeição do Nogueira transferidas para o André

 

Cinco candidatos citados na Operação Sevandija disputaram as eleições e conseguiram 4,2 mil votos somados. Como você avalia essa escolha do eleitorado?

 

Eu conversei com muitas pessoas que fazem pesquisas eleitorais internas nos partidos. As pesquisas demonstravam que a pecha “Sevandija” não estava colando nesses candidatos. O eleitor dava respostas evasivas, dizia que era algo que havia ficado no passado. Inclusive as campanhas do Roque e do André tiveram dificuldade em colar essa pecha no Ricardo. Apesar disso, a maior parte do eleitorado preferiu a renovação.

 

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O MDB foi o grande "vencedor" na Câmara Municipal. Isso indica a força da política tradicional ou podemos creditar essa vitória a outra estratégia?

 

O Baleia Rossi foi o grande estrategista dessa campanha. Ele trouxe um influencer [Bigodini], um comunicador de um meio de grande relevância [Danilo Scochi] e apostou que um desses dois poderia levar a mais dois representantes. Apesar da causa política desses candidatos ser meio vaga, no fundo foi um estratégia bem aplicada, apostou nos rostos conhecidos.

 

Da atual Câmara, 13 foram vereadores reeleitos e nove são "novidades". Podemos considerar esse movimento como uma renovação do Legislativo?

 

Podemos considerar que 40% seja uma renovação bastante expressiva. A população cansou de vereadores com vários mandatos, muitos migraram para candidatos novos, mas com pautas parecidas. O Baleia entendeu que ao trazer personagens de conhecimento da população, poderiam auxiliar os antigos vereadores a ampliar o número de cadeiras do MDB. Os outros partidos não usaram essa estratégia.

 

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Foto: Revide

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