Desafios do novo prefeito: Infraestrutura

Desafios do novo prefeito: Infraestrutura

Urbanistas citam transparência e cronograma rígido como principais pontos a serem seguidos pela próxima gestão para a execução de um plano de mobilidade sustentável

Com a promessa de melhorar a infraestrutura urbana e o transporte coletivo de Ribeirão Preto, a atual gestão municipal implementou o projeto Ribeirão Mobilidade. No entanto, o que se observa é uma série de obras espalhadas pela cidade, causando transtornos tanto para a população quanto para os comerciantes locais. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto (Sincovarp), áreas como a da avenida Nove de Julho registraram uma queda de 60% no faturamento das lojas desde o início das obras. A questão central que surge é: como equilibrar o transporte coletivo e a mobilidade urbana com as demandas econômicas?

 

Especialistas reconhecem o caráter ambicioso do projeto, mas apontam falhas na execução, como falta de diálogo, transparência e atrasos no cronograma. A professora Débora Zambroni, especialista em planejamento urbano, afirma que “melhorar a mobilidade é um fator que, a médio e longo prazo, também fortalece as trocas econômicas”, mas alerta para a importância do planejamento participativo. “É crucial envolver a população, garantindo a comunicação clara das fases, prazos e impactos dos projetos”, comenta. Ela destaca a ausência de um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), que é “vital para avaliar os impactos no comércio e prever propostas de mitigação, como a execução das obras em etapas e trechos previamente definidos”.

 

Silvio Trajano Contart, arquiteto urbanista, membro da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP) e presidente do Instituto Ribeirão 2030, acredita que a administração municipal deveria contar com uma equipe especializada e independente para planejar a cidade a médio e longo prazos. “Esses profissionais ouviriam a população e sincronizariam os planos de mobilidade com as necessidades dos cidadãos. O sonho da cidade não pode estar apenas na cabeça do gestor, mas também na boca do povo. Além disso, é fundamental que o projeto dialogue com outros planos municipais, como o Código de Meio Ambiente e o próprio Plano Diretor”, ressalta Contart. Ele ainda destaca a importância de sincronizar os próximos passos do plano de mobilidade com os já traçados, evitando a fragmentação dos projetos.

 

Um planejamento e o seguimento rigoroso de um cronograma preestabelecido pode ser a chave para um menor impacto negativo das obras, segundo Vera Lucia Blat Migliorini, doutora em Engenharia e Planejamento Urbano. “Os transtornos decorrentes das obras são um mal necessário e exatamente por isso elas devem seguir um planejamento primoroso”, comenta Vera. Ela pontua que a revitalização da avenida Nove de Julho, iniciada em junho do ano passado e prevista para ser concluída em um ano, sofreu atrasos significativos. Após a rescisão do contrato com a empresa responsável, que completou apenas 8% dos trabalhos em seis meses, outra foi contratada, com previsão de concluir as obras até maio do próximo ano. Além da Nove de Julho, outros corredores importantes da cidade também estão em obras, causando impacto na rotina dos cidadãos.

 

Mudança de Hábitos

 

Para garantir o crescimento sustentável da cidade, os especialistas reforçam a necessidade de priorizar o coletivo. “A criação de corredores de ônibus e a redução de vagas de estacionamento devem ser pensadas de forma ampla, incorporando melhorias nos espaços para pedestres”, destaca Débora. Ela sugere que a requalificação dos espaços para pedestres, como calçadas mais caminháveis e arborizadas, pode mitigar os impactos negativos das obras, incentivando um maior fluxo de pessoas nas áreas comerciais.

 

A mudança de hábitos também é essencial para a mobilidade urbana sustentável. “Se as pessoas não puderem mais estacionar em frente à loja, mas conseguirem estacionar a uma ou duas quadras e seguir caminhando de maneira tranquila em calçadas bem cuidadas e arborizadas, ou melhor ainda, se conseguirem chegar até ali por meio de um transporte coletivo rápido e seguro, os próprios comerciantes perceberão que não estarão perdendo clientes, mas ganhando muitos outros. Porém, é preciso conscientizar a população e os setores econômicos”, enfatiza Vera. Ela cita o exemplo do ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, que ao implantar o TransMilenio, sistema de transporte coletivo inspirado no modelo de Curitiba, argumentava que exigir vagas de estacionamento em frente ao comércio seria como exigir que a prefeitura fornecesse espaço para as pessoas guardarem seus bens pessoais.

 

Silvio complementa que a falta de comunicação clara e um canal aberto de diálogo são barreiras que precisam ser superadas. “Não há espaço para surpresas quando o assunto é planejamento urbano. Um trabalho de educação com um canal aberto para a população é fundamental para o sucesso de qualquer projeto”, comenta.

 

A importância de associar os projetos de mobilidade urbana ao de arborização é ressaltada pela professora Débora, visando melhorar a qualidade dos espaços públicos e promover uma mobilidade mais equitativa na cidade. Essa abordagem integrada poderia facilitar o acesso às áreas comerciais e melhorar o fluxo de pessoas, potencializando a atividade econômica de Ribeirão Preto. “Não é um trabalho fácil, mas com diálogo e transparência, é possível”, finaliza Silvio.

 


 

PROPOSTAS

 

André Trindade (União Brasil)

Depois de estudos da RP Mobi, 11 faixas exclusivas de ônibus passaram a ser preferenciais desde o começo deste mês [agosto de 2024]. A medida foi possível após avaliações técnicas com a adequação da nova rede do transporte coletivo urbano de Ribeirão Preto. Paralelo a isso, estamos com uma frota de ônibus renovada já em circulação oferecendo mais conforto aos passageiros, com ar-condicionado, internet grátis, entrada USB para carregar o celular e mais câmeras de segurança. Com todo esse investimento no transporte, iremos também contribuir para a circulação de mais pessoas nos comércios. A nossa intenção será fortalecer o comércio local e incentivar as compras e volume de negócios. Iremos instituir cada vez mais políticas de apoio a essa categoria tão importante para a nossa economia de produtos e serviços.

 

Ismar Menezes (Agir)

Equilibrar transporte coletivo e mobilidade urbana com demandas econômicas é um desafio em grandes centros, especialmente durante obras de infraestrutura. Em Ribeirão Preto, as obras do Ribeirão Mobilidade têm afetado lojistas. Algumas estratégias incluem: planejamento e comunicação transparentes para minimizar impactos; execução por fases e em horários alternativos; medidas compensatórias, como incentivos fiscais e campanhas de marketing; criação de corredores de ônibus e alternativas de estacionamento; e participação social nas decisões. Essas ações podem equilibrar o progresso na infraestrutura com as demandas econômicas, beneficiando a mobilidade urbana e a economia local.

 

Jorge Roque (PT)

A crítica que fazemos ao programa de mobilidade urbana em curso não diz respeito à falta de necessidade das obras, mas à sua execução. Em intervenções de grande porte, é importante ter um mapa de riscos e instrumentos de mitigação. Se há problema no prazo de execução, é preciso haver medidas de compensação e solução dos prejuízos. Exemplo de má gestão é a Prefeitura construir, com alto investimento, corredores exclusivos de ônibus e, meses depois, voltar atrás e transformá-los em vias preferenciais. Por isso, os comerciantes têm toda razão quando reclamam que houve má gestão, falta de bom planejamento e, principalmente, de ouvir a população. Uma coisa é certa: as obras iniciadas deverão ser concluídas.

 

Marco Aurérlio (Novo)

A prioridade será terminar rapidamente as obras inacabadas. Isso é uma questão emergencial. Herdar obras atrasadas significa continuar prejudicando a população, o comércio e os serviços da cidade. Vamos fazer um trabalho conjunto de levantamento detalhado do status de cada obra, estabelecer e fazer cumprir um cronograma de conclusão prioritário e rigoroso. Além disso, faremos uma gestão técnica e eficiente para garantir que as obras sejam finalizadas com qualidade e sem desperdício de recursos. Precisamos entregar o que já foi iniciado e com qualidade, para que Ribeirão Preto possa avançar sem carregar esse atraso histórico.

 

Ricardo Silva (PSD)

O mais importante é fazer tudo com diálogo, de forma mais humana, com respeito às pessoas. Se a população tivesse sido ouvida, se a Prefeitura tivesse debatido o tema com os comerciantes da avenida Dom Pedro I e de outras avenidas, por exemplo, não tomaria a atitude de fazer um corredor exclusivo. Veja como tudo isso poderia ter sido evitado. Bastaria apenas pintar uma faixa para sinalizar o corredor em um período de teste de poucas semanas. Todo esse prejuízo gigantesco seria evitado. Em vez de gastar com uma lata de tinta, a Prefeitura escolheu gastar milhões, em dinheiro emprestado com bancos, para corredores de ônibus que agora deixaram de ser exclusivos. Essas decisões tomadas de forma isolada, sem ouvir as pessoas, as entidades, provocaram fechamento de lojas, desemprego e prejuízos financeiros enormes. Nossa escolha é outra e muito clara: vamos trabalhar de forma mais humana, vamos ouvir, reunir as pessoas, encontrar a melhor resposta juntos.

 


Arte: Revide

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