Desafios do novo prefeito: revitalização do Centro

Desafios do novo prefeito: revitalização do Centro

Para especialistas em urbanismo e autoridades da cidade, a requalificação da região é essencial

As discussões sobre a requalificação do Centro de Ribeirão Preto permeiam há anos o debate público na cidade. A área convive, atualmente, com deterioração de patrimônios históricos, falta de segurança, necessidade de melhorias em mobilidade e acessibilidade, entre outros problemas. O que se comenta é que o Centro foi ficando “esquecido” pelas últimas administrações municipais conforme a cidade crescia.

 

O prefeito atual, Duarte Nogueira (PSDB), iniciou obras de mobilidade, acessibilidade e segurança na região, como o lançamento do Centro de Controle Operacional (CCO), mas resta ainda muito a fazer, segundo especialistas em urbanismo e agentes interessados na preservação do patrimônio na região.

 

Segundo Adriana Silva, coordenadora do projeto “Requalifica Ribeirão” – estudo da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) feito em parceria com o Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais (IPCCIC) –, o Centro é uma cidade com vida própria. Com 177 quadras, 3.466 lotes e aproximadamente 23 mil habitantes, pode guardar seus bens históricos mais valiosos e crescer nos espaços não protegidos.

 

“Já se modernizou quando recebeu prédios de moradias de 20 andares e um shopping de arquitetura contemporânea ligado em seus andares por escadas rolantes. Não há divergência urbana na presença do antigo e do novo, do histórico e do moderno. Uma deve emprestar prestígio ao outro. O moderno preservando o histórico e o histórico mantendo as raízes dos bens deste século. Sem raízes tudo pode perder o equilíbrio”, enfatiza a coordenadora.

 

Carlos Ferreira, gestor de Marketing e Relações Institucionais da Acirp, enfatiza que a preservação do Centro de uma cidade do porte de Ribeirão Preto é uma tarefa complexa, que exige um esforço contínuo de investimento, planejamento e uma forte vontade política. “Não é apenas uma questão de infraestrutura, mas também de garantir que o Centro permaneça um espaço vibrante e funcional, capaz de acolher consumidores, trabalhadores, estudantes e toda a população”, diz o gestor.

 

Thiago Pizzo Scatena, sociólogo e mestre pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP (Universidade de São Paulo), além de membro do Instituto Território em Rede, explica que o planejamento urbano do Centro precisa estar ancorado em duas legislações principais: o Plano Diretor (Lei Complementar n° 2.866 de 2018) e a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (3.175/2023), que trazem instrumentos “interessantes”, como o conceito de Zona de Urbanização Preferencial e a delimitação de áreas de preservação cultural e histórica. No entanto, ele ressalta que “as legislações não estão sendo aplicadas de forma eficaz, e a saída das secretarias e autarquias para o novo Centro Administrativo contradiz o próprio Plano Diretor, que visa a preservar a importância institucional e econômica do Centro”.

 

De acordo com Scatena, por ser uma das regiões mais antigas da cidade, a área enfrenta desafios históricos. “As construções do passado não seguiam as normas de acessibilidade que temos hoje e muitos edifícios históricos exigem grandes investimentos para adaptação”, diz. Segundo ele, espaços públicos como o Calçadão e as praças XV de Novembro e das Bandeiras sofrem com falta de manutenção e abandono.

 

Para o urbanista, os poucos edifícios históricos que restam qualificam o espaço urbano e reforçam a identidade local. “A preservação não é um obstáculo ao desenvolvimento, mas uma forma de valorização”, afirma.

 

Nathália Balzuweit Lopes, analista do departamento de Relações Institucionais da Acirp, destaca que o Centro de Ribeirão Preto passa por mudanças importantes na mobilidade, especialmente com a implantação de corredores de ônibus. No entanto, ressalta que pedestres e ciclistas ainda enfrentam desafios, como a má qualidade das calçadas, falta de arborização e de paraciclos, além da insuficiência de mobiliário urbano e iluminação noturna. Para Nathália, a requalificação poderá trazer melhorias significativas. “Essas medidas contribuirão para um ambiente mais acessível e agradável, melhorando tanto o conforto térmico quanto a qualidade de vida dos moradores e frequentadores da região”, afirma.

 

No quesito segurança, Nathália acredita que a instalação de câmeras e melhorias na iluminação são cruciais. “Além disso, estudos que abordam as áreas com maiores índices de criminalidade também devem ser elaborados, como o da proposta do Plano Municipal de Segurança Pública, desenvolvido pela Acirp. Eles permitem identificar as regiões de maior risco, possibilitando que o poder público direcione seus esforços de maneira mais eficaz para esses focos, melhorando assim a segurança local”, comenta.

 

Já sobre os edifícios históricos, Nathália diz que são de suma importância para a cidade, não apenas por oferecerem uma visão do passado local, mas também por seu potencial de transformação em museus, comércios, restaurantes e outros usos culturais e comerciais, caso sejam restaurados.

 


PROPOSTAS

 

André Trindade (União Brasil)

Centro sempre vai ser uma causa compartilhada. Vamos continuar com as ações da nossa gestão para melhorar o Centro. Nos últimos anos, fizemos a adequação das câmeras de segurança dessa região da cidade, com a troca das analógicas por 40 câmeras digitais com zoom e 360 graus de giro. Com isso, aumentamos a vigilância eletrônica no sentido de não só melhorar o monitoramento para a segurança das pessoas e o bem-estar, mas também mapear eventuais tentativas de delitos. Além disso, criamos mais centros de apoio às pessoas vulneráveis da cidade, além de recuperar espaços da região central, como a reforma do Palácio Rio Branco; e ainda vamos implantar iluminação LED em diversas praças, ruas e avenidas.

 

Ismar Menezes  (Agir)

A revitalização do Centro de Ribeirão Preto é um desafio complexo que demanda uma abordagem em vários segmentos, em um só maior. Propõe-se a requalificação urbana e arquitetônica, com restauração de prédios históricos e melhoria de espaços públicos. Em mobilidade, sugere-se um plano que priorize transporte público, ciclovias e pedestres, além de estacionamentos estratégicos e redução do tráfego de veículos. Em segurança, recomenda-se policiamento comunitário e programas de inclusão social. Para fomentar a economia, incentivos fiscais e promoção de eventos culturais. A participação comunitária, em um governo participativo, é crucial com a criação de um conselho de revitalização e projetos com uma visão ampla de todos os setores integrados.

 

Jorge Roque (PT)

O Centro carece de medidas urgentes para poder ser revitalizado e ressignificado. Trata-se de um bem simbólico que dá identidade à cidade. Vamos investir na recuperação da região e estimular sua ocupação com um polo digital de incentivo ao empreendedorismo de jovens visando a geração de emprego e renda. E estimular a ocupação cultural, como fizemos, quando fomos governo, ao criar, entre outros, a Feira do Livro e as serestas nas praças. Quem faz isso hoje são os coletivos de artistas em ações como o Samba do Relógio, nas noites de quinta, sem fomento público. Na área de segurança, dobraremos o efetivo atual de 200 guardas, insuficiente. E instituiremos ações para acolher, de forma digna, pessoas em situação de rua, apoiando projetos sociais, culturais, formativos e as cooperativas de trabalho solidário.

 

Marco Aurélio (Novo)

Defendo a presença da administração pública municipal no Centro da cidade. Com cerca de 10 mil servidores, a região poderá também ganhar uma boa parte da ocupação central, trazendo simultaneamente movimentos e estímulos para a revitalização imediata do centro, além de atrair investimentos e novos negócios. Esse é o ponto de partida para recuperar o centro da cidade com a participação direta da sociedade civil organizada. Na segurança, vamos reestruturar a vigilância com câmeras e reforçar a presença policial, usando um sistema inteligente com reconhecimento facial e de identificação de placas, além de comunicações integradas do Centro de Segurança Integrado. A zeladoria urbana será intensificada, garantindo um ambiente limpo e seguro para moradores, pessoas e empreendedores. Vamos modernizar o espaço urbano e apoiar o restauro dos prédios históricos para transformar o centro em um local vibrante novamente, determinante para transformar a cidade em um grande polo turístico.

 

Ricardo Silva (PSD)

O Centro é ponto primordial em nosso Plano de Governo, que coloca a história de Ribeirão em evidência. E o Centro, como bairro, será abraçado em projetos e ações, revitalizado, reconhecido e requalificado. Vamos criar um programa inédito de fortalecimento e divulgação de nossos produtos e serviços para o público da região, do Estado, do País e do exterior. Com o nome “Marcas de Ribeirão”, o programa terá objetivo de desenvolver e potencializar tudo aquilo em que somos referência, como nossas marcas tradicionais e novos produtos com possibilidade de crescimento. O turismo será fundamental, tendo como ponto de partida o Centro. Criaremos uma variada opção de roteiros com passeios por pontos tradicionais, prédios históricos, atrações, lazer e gastronomia. O Theatro Pedro II será aberto a visitações. Queremos resgatar a história de Ribeirão como capital mundial do café e mostrar que hoje somos a capital do chope e da cerveja artesanal. Vamos valorizar as feiras de artesanato. Tudo feito com carinho, por meio do diálogo saudável e necessário, com Acirp, Sincovarp, comerciantes, prestadores de serviço e trabalhadores, para que todos possam participar e contribuir com essa construção coletiva.

 

 


Arte: Revide

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