Em Ribeirão Preto, coordenador da Lava Jato diz se preocupar com as eleições
Em palestra na cidade, procurador coordenador da força-tarefa apontou que a Lava Jato não deve bastar para conter a corrupção

Em Ribeirão Preto, coordenador da Lava Jato diz se preocupar com as eleições

Deltan Dallagnol tem receio da possibilidade de investigados por corrupção se elegerem para conseguir foro privilegiado

Preocupado com a eleição ou reeleição de investigados na Operação Lava Jato, o coordenador da força-tarefa que conduz as investigações no Ministério Público Federal (MPF) do Paraná, Deltan Dallagnol, afirma que é preciso que a população tenha a consciência de conter, nas urnas, os políticos envolvidos em casos de corrupção.

Dallagnol, que ministrou palestra sobre as eleições em Ribeirão Preto, na noite de segunda-feira, 17, também disse que um eventual indulto concedido ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um futuro Presidente da República vai de desacordo à mensagem que a operação tem tentado passar para o País desde que teve início, em 2014.

“A grande mensagem que a Lava Jato passa é de que a lei deve valer para todos e que pessoas poderosas podem ser responsabilizadas no País. O indulto a qualquer uma dessas pessoas específicas, assim como a não responsabilização de grandes empresas, passaria a mensagem oposta, a mensagem errada. A mensagem de que algumas pessoas são muito grandes para serem responsabilizadas”, comentou Dallagnol.

O procurador afirmou que tem grande preocupação quando vislumbra que diversos políticos investigados em casos de corrupção têm chances de se elegerem a deputados ou senadores nas próximas eleições, em outubro, conseguindo, assim, o benefício do foro privilegiado, serem julgados, apenas, por instâncias superiores.

“A Lava Jato não basta. Na Lava Jato estamos trabalhando para fazer o nosso melhor, para responsabilizar pessoas, por mais poderosas que sejam. Agora, quando essas pessoas são mantidas no Poder, com o foro privilegiado, fica difícil manter a sua responsabilização”, lamentou Dallagnol.

No entanto, ele acredita que a operação já trouxe frutos positivos, como ter espalhado as investigações para diversos lugares do País, assim como ter servido de inspiração para diversas investigações dos Ministérios Públicos e das polícias, como a Operação Sevandija, em Ribeirão Preto. Isso porque, de acordo com o procurador, a Lava Jato mostrou que é possível fazer com que as engrenagens da Justiça funcionem contra pessoas poderosas, o que, para ele, não ocorria anteriormente.

“O que a Lava Jato fez foi mostrar que é possível extrair resultados úteis desse sistema, ainda que de modo excepcional, e pessoas passaram a acreditar que era possível produzir Justiça contra as engrenagens do sistema. Mas, não adianta a gente tapar o Sol com a peneira. Se nós queremos que a Justiça alcance os últimos escalões da pirâmide dos poderosos, nós precisamos de um sistema de Justiça que funcione melhor, que seja mais célere, que a prescrição não seja um esquema de impunidade, e que os casos de réus ricos não sejam anulados quando os mesmos motivos que geram a sua anulação não gerem a anulação de casos de réus pobres”, complementou.


Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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