"Nem Lula, nem Bolsonaro. Vou ganhar dos dois"

"Nem Lula, nem Bolsonaro. Vou ganhar dos dois"

Em entrevista exclusiva ao Portal Revide, o jornalista José Luiz Datena fala sobre sua candidatura à presidência da República em 2022

O eleitor pode ter uma certeza para 2022: o nome de José Luiz Datena estará nas urnas, garante o apresentador. Resta decidir para qual cargo. O jornalista de 64 anos, natural de Ribeirão Preto, almeja ser presidente da República, porém, não perde de vista a possibilidade de concorrer ao governo de São Paulo ou ao Senado.

 

Filiado ao PSL, Datena poderá contar com a maior estrutura partidária em 2022. No início de outubro, DEM e PSL oficializaram a fusão para a criação de uma única legenda: a União Brasil. No novo partido, Datena precisará concorrer nas prévias com Luiz Henrique Mandetta (DEM).

 

Se perder para o ex-ministro da Saúde, interessados em aproveitar a popularidade do jornalista não faltam. O PDT de Ciro Gomes tem demonstrado interesse, além do Patriotas e PSD de Gilberto Kassab. Datena já foi filiado a cinco partidos, quatro apenas nos últimos seis anos. PT, PP, PRP, DEM, MDB e PSL foram as legendas.

 

Já falando como candidato, Datena é crítico à administração do presidente Jair Bolsonaro, mas também condena os governos petistas. Sem cerimônia, o ribeirãopretano assume o título de “terceira via” e se diz confiante de que pode romper com a polarização.    

 

Como tem sido a recepção da sua família e de amigos com a ideia de se candidatar?

 

DATENA: A minha família sempre foi contra. Nunca quis que eu entrasse na política, principalmente em um cargo majoritário desse tamanho. Já os amigos, alguns apoiam outros acham que eu não preciso disso.  Mas quando o dever público te chama, você tem que atender. Há muito tempo que eu tenho vontade de entrar na política e não há outro motivo que não seja retribuir ao povo o que eu sempre recebi de bom. Platão dizia que se você não aceitar um chamamento público para um cargo público, você e os outros que te rodeiam, possivelmente, serão governados pelos maus.

 

E acredita ter a experiência necessária para ocupar o cargo de presidente?

 

DATENA: Os caras que estão aí, e os que já estiveram,  é que deixaram o Brasil desse jeito. Eu prefiro não ter experiência nenhuma, do que a deles. Pela experiência deles e pela esperteza de alguns, o Brasil está quebrado. O povo não tem comida, combustível assistência médica necessária, não tem dignidade e não tem emprego. Temos um governo que arrecada muito e gasta errado. O Brasil precisa, urgentemente, de uma reforma política e uma reforma administrativa.

 

O próximo presidente pegará uma inflação alta e problemas para manter as despesas dentro do teto de gastos. Já pensa em uma equipe econômica ou possíveis soluções para esse problema?

 

DATENA: Escolher um ministro da economia e uma equipe que estejam voltadas para atender o povo. Um momento como esse, de reconstrução do país, você precisa de gente que seja alinhada com uma política de social democracia.  Quer dizer, não só o governo, mas o capital, socorrendo o operário. O capital voltado para o social. O Brasil precisa, em primeiro lugar, recuperar empregos. Porque emprego, faz você independer de auxílio emergencial e bolsa família. Hoje o brasileiro necessita desesperadamente de auxílio emergência e bolsa família porque não tem emprego. 

 

Acredita que pode ser a tão falada "terceira via" que romperá com a polarização Lula-Bolsonaro?

 

DATENA: Eu tenho que acreditar, senão eu não seria candidato. Com todo respeito aos eleitores do Lula e do Bolsonaro, eu acho estúpida essa polarização. Você tem que dar mais opções para a população para que ela faça o Brasil mudar. O Lula já deu a contribuição dele ao Brasil. Foi uma má condução do julgamento do Moro e da Lava-Jato que levou a absolvição da maioria dos processos do ex-presidente Lula. Mas fora isso, com todo respeito à presidente Dilma, antes mesmo da pandemia, o vírus da fome havia se espalhado pelo Brasil. Resultado de uma péssima gestão econômica conduzida pelo [Guido] Mantega, que só não é pior que a do Paulo Guedes. Foi o pior período da economia brasileira em todos os tempos. E a gente teve o azar de depois vir a pandemia.

 

Devemos, é claro, chorar os mortos e curar os doentes. Mas, infelizmente, tivemos uma política econômica desastrosa conduzida por um ministro que não gosta de pobre. Que era um cara adorado pelo mercado financeiro, mas agora não é mais. Um cara que prega calote na dívida pública afasta investimentos do exterior no país. E agora, rompe o teto fiscal que é uma calamidade. Uma equipe econômica decente jamais romperia o teto fiscal, mesmo durante a pandemia. Era só o Paulo Guedes e a equipe terem dito ao Bolsonaro que não poderia ter gasto R$ 32 bilhões de emendas parlamentas para o Centrão, voltando à velha política. O que fez falta para pagar o auxílio emergencial.

 

Apesar das tentativas de controlar o ICMS, parte do aumento da gasolina se deve à política de preço, em especial à cotação do dólar. O que o senhor pensa a respeito da alta dos combustíveis atualmente e quais saídas poderia propor para esse problema?

 

DATENA: É uma situação de calamidade pública. Quebraram a joia da coroa e quase afundaram a Petrobrás. Quase todos os partidos foram beber no duto do petróleo e usaram de uma forma corrupta uma das maiores companhias do mundo. Recentemente, a Petrobrás tem obtido lucro, mas um lucro às custas de aumento do combustível que inviabiliza a economia. Mas não é só o combustível que está dolarizado. Tudo está. As commodites, como café, açúcar, óleo de soja. Tanto o combustível quanto a comida que você come está atrelado ao dólar.  A política de preços atrelada ao dólar é altamente injusta porque o gringo compra a gasolina e paga o mesmo preço que você paga aqui. Só que o salário dele é vinte vezes maior que o trabalhador comum brasileiro.  

 

E em relação à privatização da Petrobrás?

 

DATENA: Sou contra. É uma das empresas que devem ser mantidas estatais, está ligada a segurança nacional. Talvez um ministro da economia fale com mais propriedade do que eu, mas, hoje, atrelar o combustível ao dólar é um suicídio. O que temos que fazer é criar um fundo como havia com o fundo de indexação na época do Fernando Henrique Cardoso, mas que foi destroçado no governo Lula.

 

Em 2023 a ministra Rosa Weber deve se aposentar. Se eleito, qual perfil de ministro o senhor acredita que seja o mais adequado para o STF?

 

DATENA:  Antes de chegar a julgar algum ministro do Supremo, que são pessoas notáveis e não chegaram até lá à toa, você tem que ver o estamento burocrático do nosso Legislativo. Muita gente esquece que é o Legislativo que faz as leis. Aí cai um pacote anticrime do Moro lá dentro e ele é completamente descaracterizado, arrebentado. Crimes contra a vida, latrocínio, feminicídio, previam penas maiores. Simplesmente o nosso congresso vai fazendo leis que facilitam a vida de alguns corruptos que são eleitos.

 

Mesmo o cara sendo um bom político dentro do congresso ele vota a favor desses projetos que favorecem desde a corrupção até crimes como roubo, latrocínio, por conveniência, para que não sejam punidos os políticos. Não punindo os políticos, você acaba não penalizando chefes do crime organizado, homicidas e psicopatas que vão as ruas com a mesma facilidade que um político corrupto sai da cadeia e pode voltar à vida pública. Antes de julgar o Supremo, temos que julgar quem faz as leis. Não concordo com algumas decisões do Supremo, mas respeito os ministros e as suas decisões.

 

Nas pesquisas atuais, Lula e Bolsonaro lideram. Em um eventual segundo turno entre eles, quem o senhor apoiaria?

 

DATENA: Não apoio nem o Lula nem o Bolsonaro porque eu vou ser eleito presidente da República. Eu tenho certeza que não vou precisar apoiar nem um nem outro, eu vou ganhar dos dois.

 

E sobre o convite para participar de uma chapa com o Ciro Gomes, ainda é viável?

 

DATENA: É para se estudar. É o convite de um cara que eu gosto, que eu acho sério. Mas acho que o Ciro deveria, na minha opinião, arrumar alguém de outro partido que lhe desse tempo de televisão. Porque para ser vice do Ciro e ter que sair do partido que estou, não vai acrescentar em nada para o Ciro. Mas eu tenho outros convites. Um deles é do presidente do PDT, o [Carlos] Lupi, para ser candidato ao governo do Estado de São Paulo, que também estou analisando. Porque tudo depende da prévia que deve ser realizada pelo partido entre eu e o Mandetta. 

 

Também tenho um amigo do Patriotas que já me convidou para ser candidato à presidência pelo partido. E tem mais outros, como para o Senado, que o [Gilberto] Kassab me oferece a condição pelo PSD. Estou estudando essas possibilidades caso nas prévias do União Brasil haja uma surpresa e eu perca para o Mandetta e, democraticamente, irei aceitar.

 

Então independentemente do partido é certo que o senhor concorrerá a algum cargo nas eleições de 2022?

 

DATENA: Com certeza. No mínimo para o Senado irei, que seria um cargo mais confortável. Só que nem tudo que é confortável na vida é lógico. Tancredo Neves já dizia que você tem que ter calma e precaução até atravessar o Rubicão. O Rubicão era um rio no entorno de Roma, que quando os exércitos atravessavam esse rio, partiam para a guerra. A partir do momento que eu atravessar o rio, eu estarei pronto para a disputa. Guerra não, porque a gente não pode falar em ódio. Você votar em um cara porque você odeia o outro e não pelos méritos dele não leva a lugar nenhum. O Brasil não precisa de ódio, precisa de paz e união para juntar os cacos e reconstruir a nação.


Foto: Reprodução Redes Sociais

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