Nogueira faz balanço dos oito anos de mandato e projeta próximos passos
De saída da Prefeitura – e também do PSDB –, prefeito Duarte Nogueira fala sobre a situação econômica do município e do novo Centro Administrativo
Após dois mandatos à frente da Prefeitura de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira Júnior (PSDB) entra em seu último mês de governo com a cidade em uma situação bem diferente da que encontrou em 2017. Ao longo de sua gestão, enfrentou desafios como o alto endividamento municipal e a falta de recursos para investimentos, mas também conseguiu avançar em projetos de infraestrutura e na digitalização dos serviços públicos.
Para 2025, deverá deixar o PSDB, partido no qual atuou por mais de 25 anos, e se filiará ao União Brasil, com planos de continuar sua carreira política. Em entrevista à Revide, ele avaliou seus feitos na administração e refletiu sobre os próximos passos, incluindo suas intenções para uma possível candidatura no cenário estadual.
Queria começar falando da sua trajetória política. Em 1990, após o falecimento do seu pai, você foi convidado a disputar sua primeira eleição como deputado federal. Como foi essa trajetória, do jovem de 26 anos entrando na política, para o homem de 60 anos encerrando o segundo mandato como político?
A primeira eleição, logo após a morte do meu pai, foi muito mais um evento da emoção do que da razão. Tive cerca de 24 mil votos, fiquei na suplência. Em 1992, fui candidato a prefeito. Tanto eu quanto o [Antônio] Palocci, que fomos para o segundo turno, éramos os últimos colocados nas pesquisas. Quem liderava as pesquisas eram Marcelino [Romano Machado], [Luís Roberto] Jábali e o João Gilberto [Sampaio]. No segundo turno, o Palocci venceu por uma diferença de 2%. Ele já tinha sido vereador e era quatro anos mais velho do que eu. Com aquela projeção eu me elegi deputado estadual, sendo o mais votado do PFL. E o partido, naquele arranjo partidário com o PSDB, tinha duas secretarias de estado a convite do governador Covas. Ele convidou o Antônio Cabrera Mano Filho para a Agricultura e a mim para a Habitação.
Começava ali a minha experiência política e administrativa, que me permitiu chegar, 36 anos depois, à Prefeitura com mais maturidade. Com três mandatos de deputados estadual, três de deputado federal, líder da bancada na Assembleia, três vezes secretário de estado e presidente estadual de partido, tive aprendizados antes de chegar à Prefeitura. Essa experiência me permitiu entregar uma cidade melhor do que a que encontrei. Revitalizada e com investimentos em todas as regiões. E o meu sucessor fica com uma carteira de R$ 1 bilhão de investimentos.
E como foi para você, tão jovem, ser secretário de Estado?
O Covas me convidou no dia 16 de dezembro de 1994. Eu fui até lá, ao Campus da USP, onde estava o gabinete da transição. Depois do convite feito pelo próprio governador, voltei para casa, falei com a minha família e com o Abdo Simão, que tem sido um grande conselheiro meu desde que meu pai faleceu. Depois que o Abdo fez uma série de apontamentos, ele se despediu de mim, me apontou o dedo e disse: "olha lá, menino, você tá começando onde seu pai terminou". Aquilo me deu uma um sentido de responsabilidade e ao mesmo tempo de proteção do legado do meu pai muito grande. Tinha momentos que eu ficava apavorado na secretaria, pelo peso das decisões que eu precisava tomar. Quando eu chegava para o governador explicando a situação, ele me dizia: "menino, faça o que tiver que fazer". Isso foi me dando segurança e hoje eu passo para jovens que estão comigo.
E como você resumiria os seus principais feitos no governo?
Na primeira semana, eu tinha duas folhas de pagamento e meia para acertar, que ficaram do governo anterior. Eram R$ 250 milhões das folhas e R$ 334 milhões de dívidas de curto prazo. Nós pedimos desconto para quem queria receber à vista e parcelamos aquelas que a gente não ia conseguir pagar no ano fiscal. Em janeiro de 2020, conseguimos pagar as últimas parcelas das dívidas de curto prazo. Além disso, tínhamos mais R$ 278 milhões do acordo dos 28,35%. Apresentei à Justiça e a Câmara a nossa proposta de pagamento em 44 parcelas.
Também amortizei, no meu primeiro mandato, R$ 111 milhões da dívida fundada. Tanto é que por isso consegui contrair novos investimentos. Quando eu assumi a Prefeitura, a dívida de longo prazo era 35% da receita corrente líquida – hoje ela é de 24%. Aumentamos a nossa arrecadação sem ter mexido em uma única alíquota de imposto. Fizemos a reforma da Previdência, baixamos o déficit do Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM), de R$ 18 para R$ 8 bilhões. No segundo mandato, fomos executar os projetos que havíamos organizado: a entrega das escolas, o Ambulatório Médico de Especialidades (AME), as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), o programa de mobilidade, entre outros.
Considera a entrega das obras de mobilidade o maior legado do seu governo?
É um dos maiores e vou dizer porque: eu assisti quase todos os debates da eleição na capital de São Paulo. No primeiro turno, eu me lembro bem, o Ricardo Nunes foi arguido pelo Guilherme Boulos com o seguinte questionamento: "prefeito, você prometeu que ia fazer 40 km de corredores de ônibus na cidade de São Paulo e só fez 4 km". Em Ribeirão, prometi que iria fazer 56 km e entreguei 56 km. Acho que isso é um fato relevante. Zerar a fila da creche foi outro marco. Quando eu disparei essa notícia pelo whatsapp, o [Ronaldo] Caiado comentou: "deve ser a única cidade do Brasil". Porque a questão das crianças de zero a três anos é o maior desafio que existe em praticamente todos os municípios. Outro legado é a digitalização de todo o nosso processo burocrático. Nesses cinco anos em que digitalizamos a Prefeitura, deixamos de usar 20 milhões de páginas, além dos oito mil tonners que seriam descartados e toda a água e custos para a produção das árvores que produziriam essa celulose.
Durante a pandemia você foi um dos que apoiaram as medidas de restrição e a vinda da vacina para a cidade. Considera esse o momento mais tenso dos seus dois mandatos?
Sim, foi o momento mais tenso. Especialmente entre março de 2020 e o final de 2021. Aprendemos muito na pandemia, primeiro a respeitar a ciência. A ciência se dá por fatos e evidências e tentamos comunicar isso da melhor forma possível. Muitas pessoas sofreram porque não podiam trabalhar, abrir seus estabelecimentos, etc. Foi um momento de muita ira e tensão, mas nós não podíamos nos descontrolar. A experiência da pandemia foi um aprendizado para todos nós e ao mesmo tempo para toda a equipe.
Queria que você comentasse a crescente onda de violência na política nacional, inclusive com ameaças de morte a figuras dos três poderes
O brasileiro odeia os políticos e adora o Estado. Vivemos em um país onde todo mundo quer tirar uma casquinha do orçamento público. Isso não é só dos políticos, mas de uma série de categorias que quer ir lá se aproveitar. Isso eu aprendi com o Geraldo Alckmin, quando ele era governador. Ele falava assim: "todos os dias eu estou aqui sentado e 99% das pessoas que entram por aquela porta querem arrancar alguma coisa do Estado". E com o avanço da polarização entre esquerda e direita, isso recrudesceu.
O que nós precisamos é caminhar para o centro, que é onde, de fato, estão as virtudes humanas. No Oráculo de Delfos, na Grécia, existem outras frases gravadas além de "conhece-te a ti mesmo". Temos "busque o equilíbrio" e "juramentos são perigosos". Ele quer apontar para o perigo da irracionalidade no uso dos pensamentos. É o que estamos vendo hoje. Até porque, tentativa de golpe ou armação para matar o [presidente] eleito e o vice são inadmissíveis! Esses que estão indiciados terão o direito a ampla defesa, mas a Justiça tem que ser o mais dura possível com as provas e evidências que eventualmente vierem a surgir. A impunidade é a maior geradora de injustiças.
“O processo do Centro Administrativo foi conduzido de maneira transparente, ninguém se manifestou contrariamente. Aí entrou o ano eleitoral e surgiram os sofistas e os demagogos”, ressalta Nogueira
Sobre o Centro Administrativo, como você pretende concluir essa discussão até o final do seu mandato?
Foi conduzido de maneira transparente e pública, ninguém se manifestou contrariamente durante o processo. O Centro Administrativo está na página 18 do meu programa de governo. Desde 2018 temos trabalhado nisso. No segundo ano do meu primeiro mandato, fizemos o concurso público, depois o projeto executivo. Tivemos dois projetos aprovados na Câmara para a venda dos terrenos, recebemos uma moção de apoio da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), todo mundo apoiava. Aí entrou o ano eleitoral, começou uma briga política e surgiram os sofistas e os demagogos. Eles se aproveitam da inocência e ignorância para tirar vantagem eleitoral. Uma coisa é certa: não fazer o Centro Administrativo é fortalecer uma loucura temporária que crucificou Jesus Cristo, que matou Sócrates envenenado. A maioria é formada, muitas vezes, sem muita razão e bom senso.
Está de saída do PSDB?
Eu não devo ficar no PSDB. Eu fui um dos que foi contra a candidatura do [José Luiz] Datena. Eu defendi o apoio no primeiro turno ao Ricardo Nunes por uma coerência de pensamento. O Bruno Covas, vice que assumiu depois da ida do João Doria ao governo do Estado, virou prefeito. Quando o Bruno Covas foi candidato à reeleição, ele convidou o Ricardo Nunes, do MDB, para ser o seu vice. Bruno Covas morreu no dia 16 de maio de 2021, nos primeiros cinco meses do seu segundo mandato. A maior parcela dos gestores que administravam a cidade foram mantidos pelo Nunes, muitos deles do PSDB. Eram oito vereadores na capital do PSDB. E aí inventaram essa candidatura do Datena, que começou com cerca de 12% de intenção de votos e terminou com 1,8% – uma campanha desastrosa.
Houve uma reunião na Executiva Nacional do partido, onde estavam Marcone Perillo, Aécio Neves, Eduardo Leite e Paulo Serra. Eu fui o primeiro a falar e disse que havia um fio condutor que justificava o nosso apoio ao Nunes, mas resolveram apoiar o Datena. Na primeira semana do segundo turno, o Datena declarou apoio ao Boulos. Em seguida, José Anibal dá apoio ao Boulos contra a decisão tomada pela direção nacional do partido de apoiar o Nunes. Então, isso demonstra uma total desarmonia entre as lideranças do partido e parece ser irreversível. Eu não estou saindo do PSDB, é o PSDB que está saindo de mim. O PSDB, em que eu militei por 25 anos, não é mais o mesmo. Existe convite de seis partidos: PSD, Republicanos, PP, PL, União Brasil e MDB.
E com qual partido você tem mais proximidade?
Eu gostaria muito de disputar uma eleição majoritária no Estado de São Paulo. Já fui deputado federal, estadual, secretário e prefeito eleito e reeleito. Eu acredito que hoje reúno as condições para aplicar, na prática, o que eu fiz na minha cidade. Se eu for para o PSD, o Kassab é cotado para ser candidato a vice-governador na chapa do Tarcísio, então eu não teria espaço para aspirar por uma candidatura aqui. Pelo PP eu não tenho, na minha opinião, segurança de que a direção possa me dar as garantias para que eu aspirar a divulgar uma candidatura. Se eu for para o PL, fico muito vinculado a uma coisa que está extremada, como o bolsonarismo. O MDB pode ser que faça parte dessa chapa majoritária e, se eu for, tem outros na fila com mais preferência. Então eu vejo muito mais possibilidades no União Brasil.
E o que você deixa como legado para a população de Ribeirão Preto?
Todos os dias Mário Covas pedia o que “entrou e o que saiu” do Estado. Eu aprendi isso com ele. No dia 21 de novembro de 2024, a Prefeitura tem R$ 437 milhões em caixa. Em 2023, eu tinha R$ 375, em 2019 eu tinha R$ 27 milhões. Então, esse é o legado: boa aplicação dos recursos públicos e a conquista de novos recursos para investir sem aumento de impostos.
Foto: Luan Porto