Nova fase na Câmara de Ribeirão Preto tem aposta em diálogo com o Executivo
Vereador falou sobre temas como os reajustes no Imposto Territorial Predial e Urbano (IPTU) e o déficit da previdência

Nova fase na Câmara de Ribeirão Preto tem aposta em diálogo com o Executivo

Nomeado pelo prefeito Duarte Nogueira líder do governo no Legislativo, vereador André Trindade diz que "saiu da zona de conforto"

No dia 1º de fevereiro o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) oficializou o vereador André Trindade (DEM) como líder do governo na Câmara. A indicação do primeiro líder governista na Câmara desde a posse da atual gestão, em 2017, sinaliza uma tentativa de diálogo do Executivo com o Legislativo em 2019.

André Trindade, é administrador de empresas e tem forte ligação com o time do Botafogo. Sendo um dos principais representantes da torcida e membro do Instituto Botafogo Social.

Na Câmara já atuou nas Comissões do IPTU Verde, da Internacionalização do Aeroporto Leite Lopes e atualmente é presidente da Comissão Permanente de Direitos de Igualdade Racial e da Comissão Permanente de Habitação.

Em entrevista ao Portal Revide, Trindade avalia que com a indicação para líder do governo ele “saiu da zona de conforto” e que pretende trazer “lucidez e clareza” nas discussões das pautas da Prefeitura. Na entrevista o vereador abordou temas como os reajustes no Imposto Territorial Predial e Urbano (IPTU), o déficit da previdência em Ribeirão e os problemas na articulação política.

Confira a entrevista

REVIDE:  Como será a atuação do vereador a partir de agora?

TRINDADE: A minha atuação a partir de agora é tentar fazer com que os projetos do governo não sejam discutidos de forma vazia.  Independentemente de quem é oposição ou situação, precisamos pensar agora na cidade. Eu serei líder de governo colocando em sacrifício o meu próprio mandato para tentar trazer lucidez e clareza. Tanto no que vem do Executivo para cá, quanto no que é o sentimento do legislativo para o Prefeito.

REVIDE: O convite partiu do próprio Prefeito?

TRINDADE: Sim, ele me o procurou no começo do ano. Aliás, liderança é uma coisa que ninguém procura [risos]. Tem uma coisa que parte da população não se atenta é que quem nos coloca aqui espera muito mais da gente.

Se for para eu vir aqui fazer só o que eu gosto, só tratar das demandas do Botafogo, só homenagear as pessoas é muito cômodo para mim. Ficarei bem com a minha base. Só que é muito pouco para o que a cidade precisa e espera.

Você tem que ser movido por desafios. E acredito que precisamos começar a tratar das pautas difíceis. O IPM  [Instituto de Previdência dos Municipiários] é uma pauta difícil, o IPTU também. Não nos podemos nos omitir de realizar este trabalho.

REVIDE: Uma das principais "pautas bombas" do governo é a votação do "Teto do IPM" que institui o regime de previdência complementar. Como fazer para os vereadores aceitarem a proposta da Prefeitura?

TRINDADE: É mais um projeto que é polêmico que nós vamos analisar. A situação de Ribeirão demanda uma união pela cidade. O Brasil mudou, as últimas eleições, tanto no âmbito estadual quanto no federal tem colocado como tema central a questão da previdência e principalmente a previdência do setor público.  

A gente sabe da dificuldade em debater com quem seus direitos adquiridos. Sabe que daqui para frente é preciso de uma medida para estancar, mudar realmente o modelo.

O cenário mudou. Atualmente existem terceirizações, leis de responsabilidade e limites de prudência que não existiam no passado. A cada ano que passa mais pessoas se aposentam. E nós temos menos gente contribuindo do que gente recebendo. Ou a gente toma medidas de austeridade nesse momento – já tardio –, ou ficaremos em situações constrangedoras no futuro.

REVIDE: O senhor considera a Previdência o projeto mais polêmico do ano?

TRINDADE: A polêmica é algo que nunca vai sair daqui porque Ribeirão tem muitos desafios. Por exemplo, o IPTU foi a nossa última polêmica. E os vereadores alegaram pouco tempo para discutir um tema tão delicado e de um estudo muito grande. Então eu não sei também se outros projetos parecidos e com tempo curto não possam aparecer ainda esse ano.

 No geral, os vereadores apresentam duas queixas justas para esse tipo de pauta polêmica: uma é que o projeto chega de última hora e com muitas surpresas. E a outra é que não há diálogo entre o Executivo e o Legislativo. Então eu venho agora assumir esse papel de diálogo.

REVIDE: Aproveitando que o senhor citou o IPTU. Percebemos que apesar de ser governista, nem sempre o vereador votou a favor das pautas da Prefeitura. Como foi o caso do IPTU e do IPTU Verde. Até que ponto vai essa autonomia?

TRINDADE: Quero deixar claro que eu caminhei com esse governo nas eleições. Porém, tenho a coragem de assumir aqui, como já assumi outras vezes, que não votei com conforto no projeto do IPTU.

Não porque achasse que a população deveria pagar a conta, mas por achar que algumas correções deveriam ser feitas para que Ribeirão pudesse andar. E a questão do IPTU Verde acompanhou a mesma tendência.

REVIDE: O vereador fez parte da CEE do IPTU Verde. O que acha do projeto?

TRINDADE: É um projeto excelente. Principalmente para o nosso médio e longo prazo, para o bem estar social e para a melhoria da cidade. Porém, deve se pensar a aplicação disso na necessidade orçamentária que a cidade tem. Uma renúncia fiscal não é algo simples. Acredito que o prefeito Duarte Nogueira tem intenção de implantar o projeto, mas desde que ele tenha fôlego para honrar os outros compromissos.

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REVIDE:  Em agosto de 2018 publicamos uma matéria sobre Ribeirão Preto ser a terceira cidade do Estado com mais Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adin), decorrentes de vários vetos do Prefeito. Fala-se em falta de diálogo do Executivo com o Legislativo, o senhor acredita que este cenário será diferente em 2019?

TRINDADE: O meu papel aqui, além de trazer os anseios do governo, é levar ao governo os anseios dos vereadores. Às vezes uma negociação para a modificação da lei ou a flexibilização de algum tema pode facilitar que tenhamos menos projetos vetados. Eu por exemplo tenho poucos projetos apresentados aqui, mas não tenho nenhum veto. Porque eu prefiro dialogar primeiro para ver se o governo compra a ideia.

REVIDE: O senhor teme ser criticado por ser o líder do governo?

TRINDADE: Não temo. Até porque a minha convicção também prevalece. Serei um instrumento para trazer interlocução. Cada vereador aqui tem um voto, e eu, mesmo líder do governo, continuo tendo só um voto.

Respeito a manifestação de todos os vereadores, mas o que a gente precisa na política é restabelecer a verdade. Por exemplo, no tema da água na cidade falaram: "vão vender a água de Ribeirão. Vão privatizar o Daerp", quando não é verdade.

Aceitamos o debate, mas desde que ele seja construído no campo da verdade. Porque na política a verdade já está muito difícil.

 


Foto: Paulo Apolinário

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