A importância da representatividade

A importância da representatividade

Trajetória de mulheres bem-sucedidas, em diversos setores do mercado, inspiram outras mulheres a alçarem voos mais altos em suas carreiras

Fotos: Lidia Muradás  |  Produção: Robes Brito |  Locação: Unerobusti

 

Não é de hoje que o protagonismo feminino vem ganhando espaço no universo corporativo e, também, no empreendedorismo. Com conhecimentos e competências nas mais diversas áreas do saber, aliados ao desejo de alcançar a plena realização no campo profissional, as mulheres têm deixado muitas crenças limitantes – antes impostas e perpetuadas pela sociedade – para trás.

 

E elas não revolucionam apenas a própria narrativa. Elas estudam, pesquisam, definem estratégias, tomam decisões, promovem mediações e fecham negócios, entre outras ações, que geram impacto no desempenho das empresas, no desenvolvimento de suas áreas de atuação e na sociedade como um todo, direta ou indiretamente.

 

Além disso, ao conquistarem uma posição de destaque e de reconhecimento, inspiram outras mulheres a também alçarem voos mais altos. Felizmente, elas são muitas. Por isso, a Revide convidou algumas representantes para homenageá-las.


Começamos com a Profa. Dra. Suzelei de Castro França que, desde o ano passado, ocupa a posição de reitora de uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas da cidade, a UNAERP. Ainda aos 14 anos, ela se mudou de Araçatuba para Ribeirão Preto, para estudar na Associação de Ensino de Ribeirão Preto (AERP). O curso escolhido foi o técnico em Química.

 

Na sala, composta por 103 alunos, apenas três eram mulheres. Depois, graduou-se em Química pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP/Ribeirão Preto, obteve seu grau de mestre em Bioquímica pela Faculdade de Medicina da USP/Ribeirão Preto e obteve o Ph.D. em Biotecnologia pela University of London.

 

Suzelei - UnaerpSuzelei explica que, dentro da UNAERP, o protagonismo feminino vem de longa data

 

Após a conclusão do seu Ph.D. em Biotecnologia, já totalmente fascinada pela biotecnologia voltada à saúde, humana e animal, e ao meio ambiente, iniciou, com o apoio incondicional da AERP, mantenedora da UNAERP, a estruturação da Unidade de Biotecnologia da instituição.

 

Os estudos realizados na Europa permitiram à Dra. Suzelei se capacitar em uma área considerada estratégica para o desenvolvimento do Brasil. Ainda, a vivência no exterior lhe proporcionou experiência cultural relevante e a internacionalização de seu currículo conferiu a ela um diferencial em competência científica que impulsionou todo o restante de sua carreira.


Em 1970, já associada à AERP, onde exercia atividades de gestão, foi convidada a lecionar na Faculdade de Química da instituição e, desde então, não mais se desvinculou da docência e da gestão acadêmica na UNAERP, exercendo a coordenação da Unidade de Biotecnologia, de 1984 a 2021, e a Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, em nível Mestrado e Doutorado, no período de 2000 a 2021. Suzelei faz questão de ressaltar que o incentivo ao protagonismo feminino, dentro da universidade, vem de longa data e declara

 

“A missão da UNAERP, durante seus quase 100 anos de existência, tem sido concretizada, em sua maioria, por mulheres que, tendo ‘aprendido’ a conciliar desafios da vida pessoal e profissional, ocupam cargos de liderança, realizando uma gestão eficiente num ambiente genuíno de convívio, de segurança psicológica, compartilhando responsabilidades com os membros de suas equipes de colaboradores. Verdadeiras representantes do empreendedorismo feminino, destacam-se pelo incansável dinamismo, pela sensibilidade às demandas sociais e do setor produtivo. Competentes e empoderadas, buscam, incessantemente, práticas inovadoras para a formação de profissionais qualificados, humanistas, transformadores de nossa sociedade”, declara.

 


Quem também tem uma história inspiradora é Maria Tereza de Souza Lima Uchôa, presidente do Instituto Credicitrus e vice-presidente do Conselho de Administração da Credicitrus. Formada em Engenharia de Alimentos, atuou por pouco tempo na área.

 

“Logo comecei a trabalhar com meu pai nos negócios da família, na Agropecuária. Em 2009, ingressei na Credicitrus, convidada a fazer parte do seu Conselho Fiscal. Fui, inicialmente, suplente, depois efetiva e, na sequência, coordenadora. Em 2014, passei a fazer parte do Conselho de Administração da Cooperativa, como membro vogal; fui reeleita em 2018, como vice-presidente e, em 2022, fui reconduzida para o mesmo cargo para um mandato de mais quatro anos. Antes disso, em agosto de 2019, quando o Instituto Credicitrus foi fundado, fui designada para ocupar sua presidência, cargo em que permaneço”, descreve Maria Tereza.

 

Maria Tereza - Sicoob CredicitrusFazer parte do Conselho de Administração da Credicitrus é motivo de orgulho, mas também exige grande responsabilidade, afirma Maria Tereza

 

Entre as vivências memoráveis, ela destaca, por exemplo, a participação na Ação Social Cooperada, por meio da qual a Credicitrus, em parceria com a Coopercitrus, dava apoio financeiro a projetos de organizações da sociedade civil. Segundo a executiva, há um forte equilíbrio entre as participações feminina e masculina no quadro de colaboradores da Cooperativa, com ligeiro predomínio das mulheres. Na estrutura de governança, são quatro mulheres no Conselho de Administração e uma diretora executiva. Há, ainda, grande número de mulheres em cargos de gerência e supervisão.

 

“Mas é importante ressaltar que, de acordo com a política de gestão de pessoas da Credicitrus, prevalece a meritocracia. Todos os cargos são preenchidos levando em conta a formação profissional, a experiência e as competências pessoais de seus ocupantes, sem distinção de gênero”, acrescenta.

 

O fato de ocupar um cargo na alta administração é encarado com orgulho, mas também com grande responsabilidade. “São cerca de 100 filiais, R$ 11 bilhões de ativos e mais de R$ 2 bilhões de patrimônio líquido. São, principalmente, pessoas, pois a cooperativa tem mais de 160 mil cooperados e, aproximadamente, 1.100 colaboradores”, revela. Para as mulheres que estão em busca do próprio caminho, Maria Tereza dá um conselho.

 

“Acredite em você e em seus sonhos, se você almeja empreender ou ocupar um cargo de direção. Mas, muito mais do que isso, invista em sua formação técnica e em seu conhecimento prático, e dê o melhor de si no trabalho, de forma objetiva, assertiva, com foco em soluções e compromisso com resultados. Em resumo, para colher é preciso plantar, não há como inverter essa regra”, finaliza.


Além da questão da responsabilidade, a Analista de Recursos Humanos (RH) da Perplan Urbanização e Empreendimentos, Julia Almeida, afirma que representar tantas mulheres, com tantas histórias e com tanto protagonismo individual é um incentivo em buscar, sempre, desenvolver sua melhor versão como pessoa e como profissional.

 

“Hoje, nosso time é composto com 55% de mulheres que, dentro da sua realidade, desenvolvem seu protagonismo e sua representatividade. São mulheres que atuam na linha de frente de seus setores. Estamos quebrando alguns paradigmas, pois a construção civil ainda é um ramo majoritariamente masculino. Ter mulheres responsáveis pela obra, sem dúvidas, é um orgulho para nós. Somos responsáveis pela nossa trajetória e decidimos aonde queremos chegar. Estar em uma posição de destaque, seja ela profissional ou até mesmo pessoal, quando nos tornamos uma referência para outras pessoas próximas, exige que tenhamos protagonismo para lidar com as dores e os amores de ser pioneira em alguma parte da nossa história, entender nossos erros, acolher, aprender e desenvolver aquilo que se faz necessário”, reflete.

 

Para Julia, representar tantas mulheres, com tantas histórias e com tanto protagonismo individual, é um incentivo para buscar, sempre, sua melhor versão


Foi em 2015, logo que iniciou a faculdade de Psicologia e começou a trabalhar na área de RH, que ela percebeu o quão longe poderia ir. “Foi minha porta de entrada na área de pessoas, um ambiente que me proporciona desafiar minhas habilidades e desenvolver novas competências a todo instante. Fui percebendo que de maneira direta ou indireta eu impactava positivamente a vida das pessoas, possibilitando oportunidade de crescimento profissional e até de recolocação no mercado de trabalho. Foi assim que fui sentindo que esse é o meu lugar. Desenhar e implementar um projeto, acompanhar ele se desdobrando sempre é algo memorável, especialmente dentro da área de pessoas”, comenta.

 


Outra história inspiradora é da advogada corporativa, gestora, professora, mediadora e árbitra Cárita Martins Pellegrini Carizzi que, antes dos 30 anos, passou a integrar o comitê de alta gestão do escritório Pereira Advogados.

 

“Ser a única gestora jurídica mulher, a mais nova dentre os gestores, e atuando em organizações e serviços nos quais predomina a atuação masculina, em um dos maiores e mais tradicionais escritórios de Ribeirão Preto, é uma honra e um desafio. Uma honra porque a confiança que a alta gestão do escritório deposita em mim é estímulo na busca de aprimoramento constante e um desafio porque, ao contrário do que percebo que meus colegas homens vivenciam, nem sempre o respeito à minha atuação, ideias e posição é automático, precisando ser conquistado de forma mais enfática e exigente. Isso enfatiza ainda mais a importância da alta gestão do Pereira Advogados oferecer o espaço, o apoio e o reconhecimento à minha capacidade e de outras mulheres que demonstram sua competência diariamente, trabalhando duro e com qualidade para entregar resultados excepcionais”, frisa.

 

Pereira Advogados
Antes dos 30 anos, Cárita passou a integrar o comitê de alta gestão do escritório Pereira Advogados


Responsável por uma área do escritório que engloba o Direito Empresarial, compliance e ESG (Environmental, Social and Governance), mercado de capitais, contratos internacionais, mediação e arbitragem, Cárita argumenta que criar e aprimorar critérios objetivos de ingresso e promoção é essencial para que, não só mais mulheres capacitadas integrem o quadro de profissionais das corporações, mas também para que sua ascensão e remuneração sejam coerentes com suas entregas e comprometimento, sem que a questão do gênero configure qualquer impeditivo para o efetivo reconhecimento.

 

Para as mulheres que almejam alcançar cargos de alta gestão dentro de suas organizações, ela tem um recado. “Trabalhe com afinco. Nunca deixe de aprender. Priorize seus próprios objetivos profissionais, não assuma para si responsabilidades de outras pessoas apenas por uma reprodução da cultura de que à mulher cabe o cuidado com aqueles que a rodeiam (muitas vezes, em detrimento de suas próprias necessidades). Talvez, o mais importante: não se permita ouvir as vozes daqueles que tentam te desacreditar da sua capacidade. Você merece estar onde está em sua carreira e, com trabalho e dedicação, alçar os mais altos graus de sucesso e satisfação profissional”, conclui a advogada. 

 

Incentivo ao  empreendedorismo


Por uma incompatibilidade de agendas, Juliana Alcazar Farah não pode comparecer na sessão de fotos para a matéria. O relato dela, no entanto, não poderia ficar de fora. Graduada em Administração de Empresas, com especialização em finanças, gestão, auditoria, controladoria e logística, há mais de 20 anos, ela tem uma empresa na área de serviços. Nos últimos tempos, dedica-se ao setor do Agronegócio e, desde dezembro passado, atua como Presidente do Sindicato Rural de Mineiros do Tietê.

 

“Quando me formei, comecei a trabalhar com meu pai e meus irmãos na área de curtume e nas atividades rurais, que já eram atividades da família. Voltando às minhas raízes, na condição de produtora rural, testemunhei a realidade da população do campo e me deparei com a situação de vulnerabilidade de diversas mulheres. Desde então, estou engajada em ações sociais focadas nessa questão, especialmente nas mulheres que são pequenas produtoras e microempreendedoras”, explica.

 


Juliana atua em projetos que estimulam o empreendedorismo feminino, principalmente do setor agropecuário


Em 2022, passou a integrar a Comissão Semeadoras do Agro, criada em março do mesmo ano, pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo – FAESP, na condição de Vice-Presidente.

 

“Visitamos mais de três dezenas de cidades, com reuniões, eventos e palestras, em parceria com o SEBRAE/SP, estimulando o empreendedorismo, contribuindo para o desenvolvimento dos pequenos negócios, auxiliando no fortalecimento das mulheres, principalmente do setor agropecuário, a fim de levar autonomia financeira e visibilidade, mitigando a pobreza e promovendo a inclusão social e o profissionalismo”, detalha.

 

Ao ser questionada sobre a motivação do trabalho, realizado voluntariamente, Juliana responde. “O valor de iniciativas e ações altruístas vai muito além de qualquer remuneração. Quando auxiliamos o outro, na verdade somos nós que estamos sendo ajudadas. Trata-se de um grande aprendizado”, encerra. 


Foto: Lídia Muradás

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