Condenação

Condenação

Após dez anos de espera, justiça condenou Guilherme Longo a 40 anos de prisão pela morte do menino Joaquim; mãe, Natália Ponte, foi inocentada

Chegou ao fim, no último final de semana, o caso Joaquim. Após dez anos, a Justiça condenou Guilherme Raymo Longo, padrasto do menino, a 40 anos de prisão pela morte de Joaquim Ponte Marques, de 3 anos de idade. A mãe do garoto, Natália Ponte, foi absolvida das acusações.  O "caso do Menino Joaquim", ocorrido em Ribeirão Preto, em 2013, comoveu todo o Brasil. O crime teve início no dia de novembro de 2013, quando Joaquim desapareceu de casa. A mãe, Natália Ponte, relatou que ele sumiu durante a noite, o que ocasionou uma busca desesperada pela criança. Duas semanas após o desaparecimento, o corpo de Joaquim foi encontrado nas águas do Rio Pardo, a cerca de 100 quilômetros de sua casa, na região de Barretos. 

 


A investigação do caso levantou suspeitas sobre Guilherme Longo. O padrasto foi o último adulto a ter visto o menino antes de seu desaparecimento, e seu comportamento durante a investigação lançou dúvidas sobre seu possível envolvimento na morte do enteado. Os exames da perícia constataram a superdosagem de insulina, a criança tinha diabetes e fazia uso dos medicamentos. Na época, o padrasto e a mãe foram presos pelo crime e Longo foi acusado de ser o responsável aplicar a dose em excesso. A defesa de Natália conseguiu que ela respondesse em liberdade. Em fevereiro de 2016, Longo obteve liberdade e fugiu para a Espanha, utilizando o passaporte de um parente. Ele encontrado e preso em abril de 2017 em Barcelona por agentes da Polícia Internacional (Interpol) e da Polícia Federal do Brasil. Desde 2018 Longo está preso na Penitenciária Masculina de Tremembé. Longo chegou a dar um depoimento em 2016 confessando que teria estrangulado a criança, porém, voltou atrás e tem se declarado inocente desde então. Atualmente, Natália mora em São Joaquim da Barra, é casada e tem três filhos: um de dez anos com Guilherme Longo e dois filhos gêmeos, fruto de seu atual relacionamento.

 

 O JULGAMENTO


No primeiro dia, foram ouvidos seis testemunhas de acusação, dentre eles o médico e o pai de Joaquim, Artur Paes Marques. O médico endocrinologista, que diagnosticou o menino com diabetes, confirmou que a superdosagem de insulina seria o suficiente para matar a criança. Já no segundo Karina Raymo Longo, irmã do réu, se valeu de seu direito de não prestar depoimento, por ser da família do acusado. O depoimento do pai de Guilherme foi considerado evasivo.

 


No terceiro dia de julgamento, foram ouvidas oito testemunhas, entre elas o delegado que conduziu a investigação à época, Paulo Henrique Martins de Castro, a mãe do réu e os pais de Natália, que pediram a retirada de Guilherme do tribunal para prestarem depoimento. Também houve declaração da mãe de Guilherme, no qual afirmou ter procurado Natália para, juntas, internarem o filho que havia voltado com o consumo de drogas. O quarto dia foi marcado pela rapidez do trabalho, que durou apenas duas horas e ouviu cinco das sete testemunhas, todas da área médica e da perícia. Nos depoimentos, o legista responsável pelo caso afirmou descartar violência física, enquanto que a professora do menino disse que ele estava bravo com o padrasto na semana em que desapareceu. 


No quinto e último dia de julgamento, aconteceu o interrogatório dos réus, onde oito das nove testemunhas convocadas foram ouvidas. Ao ser interrogada, Natália disse acreditar que o ex-companheiro matou Joaquim, enquanto Guilherme foi orientado pela sua defesa a não responder mais aos questionamentos após o embate que teve com o promotor de Justiça Marcus Túlio Nicolino. Ao final do julgamento, após ser absolvida, Natália comemorou e foi vista saindo sorridente do tribunal. Já Guilherme, condenado a 40 anos de prisão, não aceitou a decisão judicial e recorreu. A sentença deve ser cumprida em regime inicial fechado, e a prisão preventiva foi mantida.

 

O CRIME

 


Natália e Guilherme começaram um relacionamento em 2012 após se conhecerem em uma clínica para dependentes químicos em Ipuã. Ela trabalhava como psicóloga e ele já tinha ficado internado como paciente, por causa do envolvimento com drogas. Natália era mãe de Joaquim, fruto de sua relação com o ex-marido. E, em 2013, a união com Longo resultou na segunda gravidez dela. Assim, o casal e Joaquim foram morar em uma casa no Jardim Independência, zona Norte de Ribeirão Preto, mas o relacionamento começou a ter problemas, uma vez que ele voltou a usar drogas. 


De acordo com o relatório do Ministério Público, a relação do casal ficou ainda mais difícil quando descobriram que Joaquim possuía diabetes. O menino precisava de cuidados especiais, como tomar insulina todos os dias. Ainda segundo o MP, a doença de Joaquim acabou aproximando Natália e o pai da criança novamente, o que teria provocado ciúmes em Longo. Segundo a conclusão do inquérito, Longo levou o menino, que estava na cama do casal, para seu próprio quarto e deu uma mamadeira para o garoto, que adormeceu. Após isso, ele aplicou as 166 doses de insulina na criança. Ainda de acordo com o relatório, Guilherme carregou o menino no colo até o rio Tanquinho, próximo à residência da família e, como chovia forte naquela noite, o nível da água estava mais alto que o normal. 


Ao amanhecer, a mãe e o padrasto acionaram a Polícia Militar e disseram que o menino havia sumido, porém o portão encontrava-se trancado e ninguém sabia explicar o acontecido. Um cão farejador usado nas buscas indicou o rastro de Joaquim e de Longo da residência até o córrego. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que o menino foi jogado na água já sem vida e que o corpo não tinha sinais de violência.

 

DEFESA

 


Antônio Carlos de Oliveira, advogado de defesa de Guilherme Longo, argumenta que não há provas suficientes contra seu cliente. Isso porque, segundo ele, não há meios que justifiquem o que foi apresentado no processo, justificando, assim, a falta de evidências que liguem o então padrasto à morte de Joaquim.  Enquanto isso, o advogado de defesa de Natália, Nathan Castelo Branco de Carvalho, apresentou provas para a absolvição, afirmando que a acusação contra ela sempre foi infundada, sendo sua suposta omissão algo subjetivo, sustentando que a morte de Joaquim era imprevisível desde a época do crime. 

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