O legado de Cid Velludo Salvador
O advogado Cid Antonio Velludo Salvador em uma foto tirada pela Revide, em 2017: já faz falta

O legado de Cid Velludo Salvador

Com seu falecimento, no final do ano passado, o Direito perdeu grande professor, um dos últimos representantes de uma advocacia generalista e “liberal no sentido mais puro da palavra”

Quando, em 4 de dezembro de 2024, seus entes queridos deram o último adeus ao advogado Cid Antonio Velludo Salvador, a área jurídica em Ribeirão Preto também despedia-se de um dos últimos representantes de uma era de profissionais generalistas, que abraçavam várias áreas do Direito e exerciam essa profissão liberal “no sentido mais puro da palavra”, como diz seu filho, o criminalista Alamiro Velludo Salvador Netto. “Antigamente, havia a expressão de que a advocacia era a profissão do ‘eu sozinho’, daquele advogado que dava conta de tudo, fruto típico de uma época. Meu pai trabalhou orgulhosamente assim até o fim”, acrescenta.

 

E o Dr. Cid permaneceu praticamente até o fim na ativa, mesmo aos 82 anos de idade – completaria 83 em 28 de janeiro deste ano – uma prova de como amava o trabalho. E o fazia com dedicação e excelência, o que o tornou um nome respeitado na advocacia ribeirão-pretana, muito requisitado como professor e membro nas diretorias e conselhos de órgãos representativos da profissão, como AARP (Associação dos Advogados de Ribeirão Preto) e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

 

Natural de Mococa – chegou a Ribeirão com 5 anos de idade –, Cid formou-se, primeiro, em Contabilidade, pelo Centro Universitário Moura Lacerda, em 1960. Sua trajetória no Direito começou após se graduar na terceira turma de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito Laudo de Camargo, da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), em 1967. Quase em seguida começou a atuar como professor e não parou mais – lecionou Ciências Contábeis, Direito e até Redação em diferentes instituições, como Moura Lacerda, Escola de Formação de Soldados da Polícia Militar, Curso Bandeirantes, entre outras, sempre paralelamente à atuação como advogado em seu próprio escritório.

 

Durante sete anos, ainda integrou a banca examinadora dos exames da OAB/SP. Foi presidente da 129 subseção – de Ribeirão Preto – no triênio 1998 a 2000. Em seguida, atuou como conselheiro da Seccional de São Paulo por 12 anos, em quatro gestões. “Fora isso, na Beneficência Portuguesa e na Faepa (Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas-USP) teve uma relevantíssima atuação institucional”, acrescenta Alamiro.

Pai e filho não chegaram a ser sócios, apesar da grande admiração e respeito mútuos. “Nunca atuamos conjuntamente, até porque meu pai gostava mais do Direito privado, dos contratos e das relações de Direito Real. Direito Penal sempre foi muito pontual para ele”, explica Alamiro, que, ao voltar de São Paulo, onde fez faculdade, mestrado e começou a advogar, montou aqui a filial de seu escritório em um espaço de 80 m², no qual ficou até 2016. Quando o lugar ficou pequeno, fez uma proposta comercial ao pai para dividirem o escritório físico. “Foi uma aproximação de duas visões: a advocacia generalista e individual, de um lado, e aquela outra mais especializada e coletiva, de outro”, comenta hoje.

 

Mas Dr. Cid seguiu sendo uma inspiração para o filho, principalmente no entendimento de que conflitos são inerentes às relações humanas, por isso são necessárias tolerância e capacidade de harmonização das divergências para exercer o Direito em sociedade. “Isso é buscar uma unidade na diversidade. Muitas vezes, em um conflito, ambos têm razão ou ambos não têm. O advogado precisa conseguir, pelo menos, olhar para aquele conflito de maneira objetiva e sensível para buscar uma possibilidade de consenso. Essa é uma característica que meu pai tinha como pouquíssimas pessoas”, conclui Alamiro, cheio de orgulho e honrado em compartilhar esta homenagem.


Lucas Nunes

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