Adolescência e o uso de preservativos

Adolescência e o uso de preservativos

Adesão ao uso de preservativos diminuiu entre adolescentes brasileiros, aumentando risco de transmissão de doenças e gravidez precoce

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um fenômeno preocupante: a iniciação sexual precoce entre adolescentes que, muitas vezes, ocorre sem o devido cuidado e proteção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a adesão ao uso de preservativos nas relações sexuais diminuiu significativamente, aumentando o risco de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e gravidez precoce entre os jovens. 


De acordo com o IBGE, nos últimos 10 anos (de 2009 a 2019), a adesão ao uso de preservativo nas relações sexuais diminuiu alarmantes 22,3%. Esse declínio é particularmente preocupante, uma vez que a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) mostrou que 28,5% dos estudantes brasileiros entre 13 e 15 anos já tiveram relações sexuais. Mesmo com amplo acesso à informação sobre prevenção, a taxa de uso de preservativo caiu significativamente, de 69,1% em 2009 para 53,5% em 2019.


A diminuição no uso de preservativos coloca os adolescentes em risco de contrair várias ISTs. Sem proteção adequada, eles se tornam mais suscetíveis a infecções como gonorréia e clamídia, que, quando não tratadas, podem causar infertilidade. Além disso, a falta de proteção expõe os jovens ao HPV, um dos piores fatores de risco para o desenvolvimento de câncer, bem como a doenças como sífilis, HIV, herpes e outras ISTs. 

 

Dados alarmantes


Um dado que chama atenção é o aumento no número de meninas entre 13 e 15 anos que estão iniciando a vida sexual. Em 2009, 16,9% das meninas nessa faixa etária relataram terem tido relações sexuais, e em 2019, esse número saltou para 22,6%. Um aumento de 33,7% no período.


Além da falta de proteção contra ISTs, a pesquisa também aponta uma redução no uso de métodos de prevenção da gravidez, caindo de 79,6% para 69,6%. Isso aumenta o risco de gravidez precoce entre adolescentes, o que pode ter impactos significativos em suas vidas. 


Em 2019, o IBGE registrou 1 milhão de novos diagnósticos de ISTs no país. Além disso, o Boletim Epidemiológico de 2022 do Ministério da Saúde revelou um aumento de 15% nos casos de infecção pelo vírus HIV entre 2020 e 2021, com 360 mil casos de sífilis acumulados entre janeiro de 2018 e junho de 2020. 


Em Ribeirão Preto, através da Secretaria Municipal de Saúde, por meio da coordenadoria de doenças sexualmente transmissíveis, acontece uma campanha de conscientização para jovens, desde 2017. O Projeto Conversação, consiste em conversas e ações desenvolvidas com alunos de 14 a 18 anos, onde é desenvolvido o potencial do aluno enquanto protagonista da sua prevenção às ISTs, HIV e hepatites virais, tornando-o multiplicador aos seus pares. Atualmente o projeto atende 500 alunos em 37 escolas do município. Além disso, a vacinação contra o HPV está disponível em todas as unidades de saúde de Ribeirão Preto. 


O ginecologista Davidson Alvarenga, gestor da maternidade São Lucas em Ribeirão Preto e gestor de ginecologia e obstetrícia do Centro de Saúde Escola do Sumarézinho, nota um aumento acentuado da gravidez e de ISTs em adolescentes. Segundo ele, ações de educação e prevenção já vêm sendo tomadas, principalmente com ambulatórios específicos para que possa haver a orientação necessária. “Hoje nós temos ações conjuntas na comunidade que podem e devem ser feitas, como orientação sexual nas escolas e orientação adequada da prevenção”, conta o médico que também ressalta que a Prefeitura oferece, por meio da Secretaria de Saúde, o Implanon, um implante contraceptivo para mulheres com até 20 anos incompletos. 


A vacina contra o HPV, oferecida pela rede pública de saúde, é um direito de toda criança de 9 à 14 anos de idade, de ambos os sexos, feita em duas doses com intervalo de seis meses. “Nós precisamos, cada vez mais, difundir informação. Seja no consultório, seja nas unidades de saúde. Também seria importante a divulgação nas escolas, através de programas de ensino”, comenta o ginecologista.

 

Papel dos pais e da escola


Os pais e responsáveis desempenham um papel fundamental na prevenção de ISTs e gravidez entre adolescentes. Deve partir deles proporcionar um ambiente de diálogo aberto sobre sexualidade, fornecer informações precisas e apoiar o uso de métodos contraceptivos e preservativos. Além disso, o apoio emocional é crucial para que os adolescentes se sintam à vontade para discutir suas preocupações e dúvidas.


Para conscientizar os adolescentes, é necessário desenvolver campanhas educacionais voltadas para essa faixa etária, destacando histórias de vida reais e depoimentos de jovens que enfrentaram desafios relacionados à vida sexual, incentivando a prevenção e o cuidado. Utilizar métodos inovadores, como mídias sociais, aplicativos e campanhas de conscientização nas escolas também pode ter eficácia. 


A ação conjunta de médicos, pais, educadores e governantes pode reverter a tendência de diminuição do uso de preservativos. Investir em educação sexual, garantir acesso a métodos contraceptivos e de prevenção, além de incentivar a testagem regular para ISTs — pois o tratamento precoce é essencial para evitar complicações a longo prazo —, e promover a conscientização são passos essenciais para proteger a saúde e o bem-estar dos adolescentes e prevenir o aumento das ISTs e da gravidez precoce. 


O caminho passa por intensificar a educação sexual nas escolas, oferecendo sempre informações claras e acessíveis e a ação mais defendida pelos especialistas é a conversa com os filhos no lugar da proibição do ato sexual. Além disso, as ações com adolescentes devem ser feitas nos locais em que haja alta concentração deles. Outra aliada deve ser a mídia. “Eu acho que a sociedade tem que se envolver muito. Ribeirão Preto está mudando a história da gravidez na adolescência, justamente pela presença da contracepção de longa duração feita nas Unidades Básicas de Saúde. Ações diretas têm resultados eficazes”, declara Davidson Alvarenga. 

 

O que é HPV

 

A sigla HPV corresponde a um conjunto de vírus chamado papilomavírus humano. Os HPV são vírus sexualmente transmissíveis que infectam pele ou mucosa, provocando verrugas ou lesões que podem ser precursoras de cânceres.

 

HPV em números


• 80% das pessoas sexualmente ativas podem contrair HPV antes dos 45 anos
• Existem mais de 200 tipos
• Pelo menos 14 tipos podem causar câncer
• O HPV está associado à, pelo menos, 5% de diagnósticos de câncer no mundo

fonte: https://podeacontecer.com.br

 

Nas redes sociais

 

Marcela Mc Gowan, é uma médica ginecologista, obstetra e sexóloga que ganhou notoriedade depois de participar do BBB. Ela se denomina “genital influencer” e fala nas redes para mulheres e, principalmente, adolescentes. Para quem quiser acompanhar, basta procurar por @marcelamcgowan 


Foto: Pixabay (foto ilustrativa)

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