
Afogamentos matam 300 mil pessoas por ano no mundo, alerta OMS
Crianças e adolescentes estão entre os principais grupos de risco; especialista da USP fala sobre prevenção
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em 2021, mais de 300 mil pessoas morreram por afogamento em todo o mundo. Deste total, 19% eram crianças e adolescentes entre 5 e 14 anos, enquanto 24% tinham menos de 5 anos.
No Brasil, entre 2010 e 2023, foram registradas 71.664 mortes por afogamento, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa). Entre os casos, os mais afetados também são crianças e adolescentes, com 17,7% das vítimas na faixa de 10 a 19 anos e 8,2% entre 1 e 4 anos de idade.
De acordo com o professor Marcelo Papoti, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, uma combinação de fatores explica o alto índice de mortes nessas faixas etárias. “Esses fatores incluem a falta de supervisão adequada, o acesso a corpos d’água sem proteção e o comportamento de risco, especialmente no caso de adolescentes”, afirma.
Para crianças, Papoti destaca ainda os perigos do próprio ambiente doméstico. “A ausência de barreiras de segurança adequadas em piscinas e fontes de água dentro de casa também representa um risco”, observa.
Segundo o professor, crianças pequenas estão em uma fase de desenvolvimento motor e cognitivo ainda imaturo, o que limita a percepção de risco e a capacidade de reação. Já os adolescentes, embora tenham maior autonomia física, tendem a adotar um comportamento impulsivo e a se sentirem invulneráveis, o que aumenta a exposição a situações perigosas.
Água doce é o principal cenário de risco
Diferente do que muitos imaginam, a maioria dos afogamentos ocorre em ambientes de água doce, como rios, lagos, cachoeiras e represas. Ainda segundo a Sobrasa, 70% dos afogamentos fatais acontecem nesses locais, que geralmente não contam com vigilância ou sinalização adequada.
“As variações de profundidade, correntezas e o fácil acesso a essas áreas, principalmente por adolescentes e adultos jovens que as utilizam para lazer, tornam esses ambientes especialmente perigosos”, alerta Papoti.
Estratégias de prevenção
Para o especialista, ensinar crianças a nadar é importante, mas não suficiente. “Atividades didáticas na água, como a natação, precisam ser contínuas e bem estruturadas, além de estarem integradas a políticas públicas e ações familiares”, explica.
Entre as estratégias eficazes para a prevenção de afogamentos, o professor destaca:
-
Educação aquática universal, especialmente em escolas e comunidades de baixa renda;
-
Capacitação de professores e profissionais de educação física com foco em segurança aquática;
-
Instalação de barreiras físicas em piscinas residenciais, como cercas e portões com travamento automático;
-
Campanhas de conscientização voltadas para pais, cuidadores e comunidades;
-
Criação e fiscalização de legislações específicas para o uso de piscinas públicas e privadas.
“O mais importante é compreender que a prevenção é multifatorial e deve envolver toda a sociedade. A proteção das crianças e adolescentes depende de um esforço conjunto e contínuo”, finaliza Marcelo Papoti.
*Com informações de Analice Candioto do Jornal USP Ribeirão Preto.
Foto: rawpixel.com para a Freepik